A resiliência é um termo atribuído pela psicologia à capacidade do indivíduo de lidar com situações difíceis, enfrentando elementos estressores sem se desequilibrar. No entanto, a frieza que muitas vezes adotamos ao lidar com a dor nem sempre é um sinal de avanço. Às vezes, usamos a indiferença como mecanismo de fuga, buscando refúgio em nosso mundo interior idealizado, onde nos sentimos confortáveis, deixando a vida seguir em piloto automático. Isso nos faz perder a própria identidade, pois tememos enfrentar a realidade, o que, convenhamos, não é saudável.
Como instrutor de yoga, tenho observado alunos que perderam a flexibilidade do corpo devido a essa constante evasão emocional, pois o corpo expressa de forma mais tangível o que o indivíduo construiu em seu mundo psíquico. As couraças reichianas são evidências disso. Tudo o que não foi solucionado de maneira satisfatória, todos os conteúdos emocionais carregados de afetividade, acabam se manifestando no corpo, criando couraças, resultando no enrijecimento dos músculos, perda de mobilidade, doenças articulares e outras disfunções orgânicas.
A verdadeira resiliência surge por meio da expansão da consciência, quando as circunstâncias externas não nos abalam mais. Nesse estado, nem mesmo precisamos perdoar um agressor, simplesmente porque não nos sentimos agredidos por nada. Não nos importamos com as adversidades e variações comuns da vida. Enfim, conseguimos enxergar não apenas o fato em si, mas todo o sistema que o envolve.
O paradigma holístico, em contraste com a visão cartesiana, nos convida a desenvolver essa perspectiva integrada do mundo. Ao deixarmos de analisar as partes isoladamente e buscarmos o todo, ao abandonarmos o julgamento dos fenômenos e buscarmos compreender os sistemas por trás deles, tudo se transforma. Tornamo-nos menos vulneráveis, a instabilidade emocional desaparece, pois encontramos melhores recursos para compreender o outro, aceitar a dor e confiar no Universo.
O ser humano precisa aprender a se render, confiar, aceitar e agradecer as dificuldades ao longo do caminho, pois tudo o que nos atinge tem um propósito voltado para o bem. Sofremos devido à completa ignorância sobre a dinâmica que envolve nossa existência; nos abalamos com os fatos porque ainda somos psicologicamente imaturos e temos um entendimento rudimentar da realidade. Os acontecimentos, por mais constrangedores que sejam, agem de forma educativa, e somente com resignação e reflexão poderemos compreender o que eles querem nos mostrar. Não há injustiça, maldade ou imperfeição nas ações da Natureza; somos nós que precisamos crescer para despertar desse sono de Odin.
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Deus não escreve certo por linhas tortas, Ele escreve certo por linhas certas. É a nossa visão que distorce tudo.
Gandhi deixou exemplos brilhantes dessa verdadeira resiliência. Quando questionado se havia perdoado as ofensas que recebeu ao longo da vida, ele respondeu: “Nunca ninguém me ofendeu, nunca ninguém me fez injustiça, não tenho nada para perdoar”. Percebam que poucas pessoas neste mundo foram tão hostilizadas quanto ele, no entanto, Gandhi nunca se abateu, simplesmente porque não atribuía aos fatos um valor maior do que tinham: o valor de meras informações.