Gente é pra brilhar…
Cantava Caetano Veloso inspirado por Maiakoviski.
Ele tinha razão, ninguém pode se opor ao fato de que o ser humano é uma pedra preciosa, que nasceu para brilhar, como um diamante que mesmo nas profundezas de um pântano fétido, envolvido em trevas, jamais deixará de ser um diamante, pois jamais perderá o brilho e a essência. Não importa se o indivíduo faz parte de uma elite privilegiada ou é uma pobre criança faminta do norte da África, todos, em que pese esse princípio, são iguais.
Isso acontece conosco: embora estejamos vivendo em um inferno de construções mentais, sofrendo na mais absurda falta de consciência de si, nossa luz jamais se extinguirá. Não importa o quanto a vida pareça impossível de ser vivida, a nossa natureza irá permanecer intacta, pois a essência divina da criatura humana é incontaminável, indestrutível, eterna e perfeita. Somos Deuses!
Poucos conseguem entender o sentido oculto encontrado no Salmo 23 que diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem”. Repetido como um mantra por muitos fiéis, esse salmo é extremamente consolador, mas poucos são capazes de perceber que a citação que o texto faz é à essência que existe em nosso interior, justamente quando diz: “tu estas comigo…”. É mais comum pensarmos que o trecho está se referindo a um Deus transcendente, que protege e guia a nossa vida – como a tradição judaico-cristã ensina – do que supor tratar-se de nós mesmos, do nosso Eu Superior.
É mais fácil pensar o ser humano como um pecador, cheio de falhas e defeitos, dependente de amparo, pois estamos profundamente identificados com a experiência e não com a essência. Para aquele que atua no mundo, qualquer erro provoca repercussões negativas no espetáculo do qual participa, assim, quando erramos, orientandos por modelos pré-estabelecidos criados por nossas crenças e valores, é normal nos acharmos incapazes e fracos, sofrendo com culpas e remorsos.
Ao longo da história da humanidade, sucessivas doutrinas religiosas reforçaram esse infeliz modelo, por isso é difícil aceitar que o salmo esteja querendo exaltar a nossa natureza divina e nos convidando a um novo despertar, é comum, pelo contrário, acreditarmos que exista um Deus cuidando da gente, pois somos fracos e incapazes de nos conduzir sem o seu apoio.
O homem caminha desinformado de si. Sofre envolvido em um emaranhado de conceitos e vive flutuando num mar extenuante de problemas. É natural agarrar-se à qualquer tábua que encontrar boiando à sua frente ou esperar que algum Deus o estenda a mão, pois esse tem sido o comportamento mais comum. A grande verdade é que não conseguimos capitular e ainda expressamos toda uma programação nefasta de valores e crenças anacrônicas constituídas a partir deste triste binômio: culpa e castigo.
O homem tem sido o seu maior inimigo, mesmo sem perceber, trava batalhas atrozes contra si. Por isso Jesus insistia tanto na ideia do perdão, principalmente no autoperdão, o mestre queria mostrar que para arrumar a casa interior, em primeiro lugar, seria necessário parar de sujá-la.
Aqueles que acordam conseguem enxergar uma nova realidade. Aqueles que dormem, esperam o trabalho de maturação da própria consciência. Como uma fruta verde que demonstra incapacidade de soltar-se do caule que a prende, esse ser adormecido vive preso às injunções de uma prisão mental, construída a partir de moldes e arquétipos que o direcionam, acreditando em uma realidade inconsistente, feita de vapores emocionais.
Quanto maior o nível de dependência externa, mais distante o ser encontra-se da realidade.
O verdadeiro guru, o verdadeiro líder espiritual, o verdadeiro mentor, enfim, um mestre de verdade é aquele que mostra o caminho do próprio coração para o aluno.
Aquele que abre as portas para uma nova abordagem, estimulando a autorrealização e não uma realização que insista na dependência externa, onde o buscador é tratado como fraco e incapaz.
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Mas, falsos cristos e falsos profetas campeiam livremente pelo mundo, postulando que apenas amparado por doutrinas e conceitos disciplinadores, o homem poderia alcançar a luz.
A luz que ele já é.
Ele é único e é isto que o torna especial.