Ela estava fragilizada. Falta de honestidade consigo.
Por muitos anos, a minha mãe optou em esconder os seus instintos mais primitivos e essenciais, o seu lado mulher, para assim se enquadrar dentro dos padrões que a nossa sociedade “parece” exigir.
A falta de consciência e ação sobre as nossas verdadeiras necessidades como mulheres nos faz adoecer a cada vez mais.
Vivemos em uma sociedade onde padrões pré-formulados são impostos diariamente sobre homens e mulheres. Por quem? Não sabemos, mas seguimos obedientes e caladas.
E o resultado disso é que, cada vez mais, adoecemos. É esse o progresso que tanto almejamos?
Nossas almas tentam se comunicar, mas estamos encobertos por camadas que, silenciosamente, calam as nossas vozes. Sem perceber, aos poucos, perdemos contato com o que há de mais importante e vital para a nossa sobrevivência, a nossa essência, onde habitam os nossos desejos, os nossos verdadeiros valores, muitas vezes, também chamada de loucura.
Para se alcançar a coragem de escutar a si mesmo, o trabalho é árduo.
Porém talvez seja a única forma de nos curarmos. Nos expondo. Nos respeitando.
Como sabiamente escreve a ativista americana Nikki Giovanni:
“Quando não posso expressar
O que realmente sinto,
Eu pratico sentir
aquilo que posso expressar
e nada disso é igual.
Eu sei,
mas é por isso que a raça humana,
apenas ela, entre todos os animais,
aprendeu a chorar.”.
Por qual motivo fingimos, muitas vezes, aquilo que não sentimos?
Ou por que, muitas outras, nos forçamos a sentir aquilo que não somos?
O que estamos buscando em troca ao trairmos os nossos próprios desejos e verdades? Vale a reflexão.
Minha mãe se traiu. Sua força fez com que ela escondesse a sua dor.
Provavelmente, ao longo de seu caminho, ela se esqueceu de seus desejos, de sua voz. Que isso não se repita.
Pois acredito que, quando formos capazes de retirar as camadas que nos envolvem (padrões pré-estabelecidos, regras sutilmente impostas, receitas de sucesso e felicidade), talvez então tenhamos a liberdade de chorar pelas nossas próprias verdades, não pela impossibilidade de as vivenciarmos.
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