Um livro com mais de 300 páginas foi publicado em 1995 e desde então revolucionou o modo de pensar sobre as emoções e o que fazemos com elas.
Daniel Goleman, autor do best-seller, uniu basicamente a neurociência ao estudo das emoções, e surgiu esse fenômeno editorial que já vendeu mais de 400 mil exemplares. Óbvio que, em um livro como esse, você vai encontrar informações detalhadas, estudos, evidências, estatísticas, modos de aplicar a inteligência emocional e como desenvolvê-la, entre outras informações muito relevantes. Vale a leitura do livro. Mas o que realmente importa saber?
De tempos em tempos, nós vemos “tendências” sendo discutidas como novas soluções para todos os males do mundo. Com a inteligência emocional não foi diferente. O indivíduo que desenvolvesse e aplicasse a inteligência emocional em todas as áreas de sua vida estaria quilômetros à frente na corrida pelo sucesso e bem-estar. Isso gerou ansiedade em alguns, alívio em outros (que se julgavam muito inteligentes emocionalmente), mas pouca reflexão legítima.
Trago este assunto, pois estamos vivendo um momento desafiador nas relações de modo geral. O tão aclamado “esvaziamento das emoções” é preocupante e vemos muitas “receitas de sucesso” para reverter o quadro (um aviso: você não verá nenhuma delas aqui).
Proponho uma reflexão para além das teorias e receitas.
Fiz essa introdução ao assunto para dizer a você, sem rodeios, que a inteligência emocional nada mais é do que reconhecer, entender e lidar com as suas próprias emoções e, consequentemente, com as emoções das outras pessoas, da melhor maneira possível e com os conhecimentos que você tem.
Todos os relacionamentos são desafiadores. Amizades, relacionamentos amorosos, relações familiares, por exemplo, podem trazer à tona o melhor ou o pior de cada um. O importante é refletir sobre o que você faz com cada emoção. Você sente coisas boas e ruins (e está tudo bem). O importante é tentar entendê-las e saber o que fazer com elas. Nunca se envergonhe ao sentir raiva, medo, inveja, ciúmes, tudo isso, e muito mais. Está em você, está em mim. Faz parte de quem somos e diz muito sobre “recalcular a rota” e não se perder de sua essência.
O feio também completa, ensina, por mais estranho que isso possa parecer. Uma simples reflexão, após uma explosão de raiva, uma tristeza profunda ou um momento de intensa alegria, já faz com que você possa acessar informações valiosíssimas para o autoconhecimento. (Antes que você pergunte: sim. Momentos de alegria e de bem-estar também são grandes mestres. Fique atento e aprenda com eles.)
O mais importante nesta busca por ser alguém melhor a cada dia, por você e por todos ao redor, é nunca julgar uma emoção. Parece fácil, mas claro que não é.
Não tenho como te dar uma receita, ou, um passo a passo certeiro para ficar expert em inteligência emocional, mas posso te dar algumas “pistas” sobre como apurar o olhar para ter esse entendimento, que faz com que relacionamentos sejam mais harmoniosos e o bem-estar físico e mental estejam em equilíbrio (sim, a saúde física está intimamente relacionada às emoções — mas isso é assunto para outro artigo).
Ninguém nasce pronto. Temos tendências, mas não nascemos senhores de todas as nossas emoções. Muita coisa acontece desde o nosso nascimento, muitas pessoas passam por nós, passamos pela vida de muitas pessoas, deixamos marcas, carregamos algumas por toda a vida. Desenvolver inteligência emocional envolve um processo contínuo de autoconhecimento.
Ser uma pessoa um pouquinho melhor a cada dia é uma grande conquista e supera todas as grandes teorias e “fórmulas da felicidade”. O mínimo é magistral.
Pequenos movimentos provocam tremores profundos. Se está lendo este artigo, você está em busca de algo que talvez não saiba definir, mas, na verdade, você busca a si mesmo, na sua melhor versão e essa caminhada precisa ser leve, lúcida, consciente.
Por mais que os céticos, racionais e “práticos” torçam o nariz, são as emoções que definem nossas escolhas e decisões. As “competências emocionais” são consideradas cruciais para o sucesso em diversas áreas da vida. Elas incluem habilidades como autoconsciência, autocontrole, empatia, habilidades sociais e tomada de decisão baseada em emoções.
“A chave para uma tomada de decisão mais sábia é, em suma, estar mais sintonizado com nossos sentimentos.”
Aqui estão algumas “pistas” que você pode seguir para fortalecer sua inteligência emocional (ou seguir na busca por si mesmo):
1. Pratique a autoconsciência: reserve um tempo regularmente para refletir sobre suas emoções, pensamentos e comportamentos. Preste atenção aos sinais do seu corpo, como tensão muscular, respiração acelerada ou mudanças de humor. Quais sentimentos estão relacionados a essas mudanças físicas? Tente reconhecer e entender suas próprias emoções, incluindo suas forças, fraquezas, valores e impulsos. Perceba como você reage ao estresse e em situações desafiadoras. Identificou algo que incomoda? Anote e pense a respeito. Mantenha um diário emocional para registrar suas experiências e identificar padrões em suas reações emocionais.
2. Busque o autocontrole: aprenda a gerenciar suas emoções de forma equilibrada e positiva. Identifique gatilhos emocionais, o que aciona esses gatilhos, e adote estratégias para lidar com eles. A busca pelo autocontrole também pode envolver técnicas de respiração profunda, meditação, exercícios físicos ou simplesmente dar um passo para trás e refletir antes de reagir impulsivamente.
3. Pratique a empatia: faça um esforço para entender as perspectivas e sentimentos dos outros. Ouça atentamente, pratique a escuta ativa, faça perguntas abertas e demonstre compaixão e interesse genuíno pelas experiências das outras pessoas. Elas também são grandes mestres.
4. Tente manter relacionamentos saudáveis: invista tempo e energia em construir e manter conexões significativas com os outros. Isso inclui ser honesto, confiável, comunicativo e mostrar apoio emocional quando necessário.
5. Melhore suas habilidades de comunicação: aprenda a expressar suas próprias emoções de forma clara e assertiva, ao mesmo tempo, em que desenvolve habilidades para ouvir atentamente e responder de maneira empática aos sentimentos dos outros.
6. Mude a perspectiva para a resolução de conflitos: desenvolva habilidades para resolver disputas de maneira construtiva, buscando soluções mutuamente benéficas e evitando o conflito destrutivo e tóxico. Busque soluções que atendam às necessidades de todas as partes envolvidas.
7. Olhe para o estresse: adote estratégias saudáveis para lidar com o estresse, como exercícios físicos regulares, caminhadas, meditação, hobbies relaxantes, passeios e interações com animais de estimação. Faça leituras prazerosas, ouça músicas de que você gosta, tenha algum contato com a natureza, converse com amigos, familiares ou descubra o que te faz bem e coloque em prática. Nunca vamos nos livrar do estresse (na dose certa, ele também é positivo), mas com essas atividades prazerosas você muda o foco e atinge o tão desejado equilíbrio.
8. Busque opiniões diversas: esteja aberto a receber feedback das outras pessoas sobre suas habilidades emocionais e esteja disposto a aprender e crescer com essas informações. O olhar do outro sobre nós é desconfortável, concordo, mas pode trazer informações preciosas. Mas, muito cuidado aqui: ouça e reflita sobre tudo o que for dito com toda a isenção possível e considere apenas o que você realmente observa como um ponto a melhorar. Mantenha a cabeça aberta.
9. Motive-se: direcione emoções para objetivos pessoais, persista diante de obstáculos e mantenha o otimismo lúcido (o otimismo fantasioso não traz benefícios), mesmo em face de dificuldades.
10. Inspire: ao passo que evolui no autoconhecimento, tente inspirar e motivar as outras pessoas, fornecendo, sempre que possível, orientação e apoio com base em suas conquistas. No entanto, não se esqueça: suas experiências são únicas, têm cenários diferentes das dos outros. Não apenas conte suas conquistas e experiências como exemplos a serem seguidos, mas como relatos que possam motivar o melhor dentro da realidade de quem ouve.
Eu poderia tentar resumir as dez “pistas” anteriores dizendo que todos nós, o tempo todo, e de alguma forma, estamos buscando pela tal inteligência emocional. Ela não é um dom ou aptidão dos “grandes”. Ela está disponível, ao nosso alcance o tempo todo, dentro das experiências mais simples ou complexas.
Isso significa reconhecer como você se sente, controlar suas reações emocionais, se colocar no lugar dos outros e se relacionar de forma positiva com as pessoas ao seu redor. Em suma, é saber como suas emoções afetam você e as outras pessoas, e agir de maneira inteligente com base nesse entendimento.
Eu ainda acrescentaria três pontos importantes nesta busca:
- Tente tomar decisões emocionalmente inteligentes: considere não apenas fatos e dados, mas também suas próprias emoções e as emoções dos outros ao tomar decisões importantes.
- Pratique a tão falada resiliência (independentemente dos modismos, ela é legítima e precisa): desenvolva a capacidade de se recuperar rapidamente de contratempos e adversidades, aprendendo com as experiências e mantendo uma perspectiva positiva.
- Cuide de si mesmo: cuide de suas necessidades físicas, emocionais e mentais, praticando autocompaixão e autocuidado. Sempre. O tempo todo.
Lembre-se de que desenvolver inteligência emocional é um processo gradual que requer prática e paciência. Esteja disposto a se comprometer com seu próprio crescimento pessoal e você colherá os benefícios em todas as áreas da sua vida.
Agora a pergunta que fiz a você lá no início: você está no caminho certo? Claro que está. Você está vivo, se relaciona com tudo e todos ao redor, vive experiências boas e ruins, e tira suas conclusões sobre tudo isso.
Você não precisa seguir um checklist para “desenvolver a inteligência emocional”. Precisa apenas olhar para você e para o outro com o olhar da primeira vez, com o olhar do aluno para o professor. Precisa perceber o que tem em suas mãos que pode fazer a diferença na sua vida e na vida dos demais, quais os caminhos que pode seguir, as escolhas que pode fazer para melhorar um pouco a cada dia.
Você também pode gostar:
Sugiro a leitura do polêmico, inovador e provocador Inteligência emocional, livro escrito por Daniel Goleman, Editora Objetiva.
Mas lembre-se: não se perca no caminho. Informação e conhecimento são excelentes, mas sempre busque o simples, o possível. E faça as mudanças necessárias.
Uma ótima caminhada e nos vemos por aí.
