Autoconhecimento Comportamento

Isso ou aquilo: o significado de nossas escolhas

Paisagem de uma estrada com uma placa amarela em evidência. Na placa, uma seta dupla apontando para ambos os lados.
Kyle Glenn / Unsplash

Quais foram as suas escolhas de hoje? Entre elas qual você considerou a mais importante? Quantas alternativas se apresentaram à sua escolha? Duas, três, mais? Sentiu-se angustiado diante delas? Como você escolhe: por intuição, com ponderação, com indicação ou sugestão de alguma pessoa amiga, por influência de grupos sociais?…

É essencial refletirmos sobre esse assunto, meu caro leitor. Não há um único dia em nossa vida no qual deixamos de escolher. Afinal, temos uma vontade livre. Até mesmo quando postergamos uma decisão estamos escolhendo. A questão que aqui destaco é por que escolhemos isso ou aquilo, hoje ou amanhã, agora ou jamais.

Você ainda gosta de ouvir ou ler histórias infantis? Vou contar-lhe uma delas, confiando que você ainda cultive sua criança interior:

Numa folha brilhante e verde estava um pequeno e verde camaleão. Mal se via. Moveu-se para uma árvore castanha e ficou castanho. Depois, descansou numa flor vermelha e ficou vermelho. Quando o camaleão andava lentamente pela areia amarela, ficava amarelo. Mas quando tinha frio e fome, ficava cinzento e triste, sem se mexer, à espera. Só os olhos se moviam – para cima, para baixo, para os lados – até encontrar uma mosca. Então, a sua língua pegajosa e comprida se desenrolava para apanhá-la. Sempre que se aquecia e comia, ficava verde brilhante. Sua vida não era muito emocionante, mas essa era a sua vida. Até que um dia o camaleão conheceu um jardim zoológico. Nunca tinha visto tantos animais bonitos e pensou:

– Sou tão pequeno, tão lento e fraco! Gostaria de ser grande e branco como um urso polar. E o desejo do camaleão realizou-se.

Mas será que ele ficou satisfeito? Não! Gostaria de ser elegante como um flamingo. Gostaria de ser astuto como uma raposa. Gostaria de nadar como um peixe. Gostaria de correr como uma gazela. Gostaria de enxergar longe como uma girafa. Gostaria de se esconder numa carapaça como uma tartaruga. Gostaria de ser forte como um elefante. Gostaria de ser divertido como uma foca. Gostaria de ser como as pessoas.

Ocorre que, de repente, apareceu uma mosca voando à sua volta. O camaleão estava muito faminto. De tanto desejar ser igual a cada animal que via, estava muito confuso e não conseguia apanhá-la. Então, ele desejou voltar a ser como era…

Nesse momento, o desejo do camaleão tornou-se realidade e, finalmente, ele conseguiu comer a mosca.

(Adaptação do texto “O camaleão confuso”, de autoria de Eric Carle, tradução de Helder Rocha).

Você se identifica com o camaleão desta história? Quantas vezes em sua vida desejou ser igual a alguém de sua convivência cotidiana? Você poderá me dizer que não vê problema algum nisso e que não há nada de errado em querer ser igual a alguém que admiramos.

Concordo com você. Uma determinada pessoa pode ser nossa inspiração de vida por conta de uma série de fatores: dinheiro, fama, status social, talentos, trajetória de vida… Mas o cerne do problema não reside aí, mas nas nossas escolhas. Quais propósitos orientam as nossas escolhas?

Atualmente, o nosso comportamento social segue estereótipos que, muitas vezes, nos impedem de fazer uma reflexão mais profunda sobre o significado de nossas escolhas. Por isso, em certas circunstâncias, agimos como um camaleão. Hoje queremos algo, amanhã já desejamos outra coisa. Os padrões impostos pela mídia numa sociedade globalizada nos induzem mais e mais a agir assim. Não valorizamos nossas diferenças e, o que ainda é pior, subestimamos as pessoas cujas escolhas fogem a um padrão social estabelecido. Não estariam elas, na trajetória de suas vidas, buscando um caminho mais autêntico e essencial à sua realização como pessoa humana?

Olho de uma pessoa refletindo em um pequeno pedaço de espelho.
Vince Fleming / Unsplash

No exercício da nossa liberdade construímos a nossa autonomia e, para isso, precisamos agir de forma consciente. A espécie humana é a única que tem a capacidade de decidir, conscientemente, o que é melhor para si. A consciência de quem somos, do mundo em que vivemos e da nossa missão social e política nos permitirá tecer o fio condutor que assegurará a coerência e autenticidade de nossas escolhas. Como podemos abrir mão da ação consciente sem, ao mesmo tempo, negar a nossa singularidade e subjetividade e nos deixarmos conduzir por ideologias alienatórias? A alienação é a cegueira da consciência, e esta última é a condição “sine qua non” para atuarmos como sujeitos numa sociedade democrática.

As nossas escolhas relacionam-se essencialmente com nossas buscas. Assim sendo, se não temos a clareza do que buscamos em nossas vidas, do que desejamos para nós e para nossos semelhantes, como poderemos ajudar a construir uma sociedade mais livre, mais justa, mais humana?

Algo que me impressiona muito é a contradição entre o discurso das pessoas e as suas ações. Isso é bem visível quando se trata de religião e política. Algumas pessoas dizem professar uma fé, mas não têm a convicção dela porque tomam atitudes que contradizem os valores fundamentais da fé professada. Estariam elas buscando realmente o bem maior, a paz, o amor, a verdade, entre outras coisas tão fundamentais a uma convivência humana fraterna e solidária? Ou a fé professada não passa de uma ideologia que mascara interesses escusos? Neste caso, faz-se necessário aliar a razão à fé porque uma esclarece e fundamenta a outra e, dessa forma, nossos propósitos mais nobres orientarão nossas vidas.

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A experiência da escolha refletida e criteriosa é fundamental para a formação da autonomia verdadeira e para o exercício pleno da liberdade da pessoa humana. Essa autonomia será tanto mais efetiva quanto mais for guiada pelo propósito explícito da opção pelo bem comum acima dos interesses particulares ou das ideologias alienatórias e discriminadoras. A soberania de um povo é o resultado da conquista cotidiana da autonomia de seus cidadãos.

Sobre o autor

Conceição Castelo Branco

Sou formada em filosofia e pedagogia. Na verdade, sou uma eterna aprendiz que, aprendendo, também ensina. Sou uma educadora em construção. Nesse processo, descobri meus talentos. Ensinar e aprender foi um deles. Trabalhei com crianças como professora alfabetizadora. Tarefa difícil e desafiadora, mas também apaixonante. Trabalhei com adolescentes e jovens de escolas públicas e particulares de ensino fundamental e médio, realidades completamente diferentes, com desafios complexos. Nesse contexto, atuei como arte-educadora, vivência que me enriqueceu extraordinariamente. Trabalhei, enfim, com jovens e adultos na universidade pública, onde pratiquei o exercício da reflexão e da crítica com maior profundidade.

Durante algum tempo, prestei serviços na Secretaria Estadual de Educação, na área de currículo, planejamento educacional e formação de profissionais de educação. Constatei que, sem a experiência do magistério, o meu trabalho jamais teria repercussão no chão da escola. Fui consultora do Ministério de Educação em alguns trabalhos, entre eles na elaboração dos Planos Municipais de Educação do Piauí. Atuei também como conselheira estadual de educação, função que exige muito estudo e conhecimento da realidade.

Em dado momento de minha carreira, resolvi escrever um livro, no qual abordei os problemas e desafios de quem assume o magistério com compromisso e responsabilidade. Seu título: "Professor, sai da caverna". Foi publicado pela editora da UFPI. Paralelamente a essas atividades, fiz o curso de instrutora de Yoga, cuja prática mantenho até o momento em que vivo. Tenho outros projetos: escrever um outro livro (dessa vez com a participação de alunos) e trabalhar Yoga com crianças de uma escola municipal da periferia de Teresina, cidade onde moro. Talvez eu continue a sonhar até o fim da vida, porque, no fundo, sei quem sou e para que estou nesse mundo.

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