Mãeeee… quer jambo? Mãããe, quer jambo? Mããeee… quer jambo? Assim amanheci. Amanheci ao som de “Mãe, quer jambo?”.
Antes das cinco da manhã, o sol já está alto, é dia resplandecente no Nordeste. Viajante recém-desperta – em cama outra, em casa outra, em terra outra – demoro um tempo tentando localizar onde estou, em que dia, em que cidade, sob os cuidados de qual anfitriã.
A voz repete lá fora: “Mãe, quer jãããambo?”. Voz matinal de criança. Voz que irradia na luz da manhã. Voz de criança para mãe. Voz de oferecimento. Lembrei. Estou em Olinda. No coração do sítio histórico. Hospedada em uma casa com vista para a cidade do Recife.
Da varanda da casa, posso ver o manguezal, o estuário e, ao longe, a praia de Boa Viagem. Daquele espaço cravado na encosta, tempo múltiplo de estares, posso também avistar as construções: igrejas, fortes, casarios, torres de cinquenta andares, shoppings de arquitetura arrojada, prédios espelhados, diques e pontes de arquiteturas várias.
Daquele tempo múltiplo de olhares, posso também avistar o jambeiro, onde as flores metamorfosearam-se em frutos vermelho sangue, suculentos e maduros e que, agora, são oferecidos à mãe pela criança que pergunta em grito de jardim: “Mãe, quer jambo?”. Uma vida assim, entre estares outros. Uma vida de viajante não turística, habitando provisoriamente abrigos familiares.
Recebendo cuidados vários. Camas feitas, iguarias preparadas, roteiros traçados com delicadeza e interesse. Uma vida de viajante de sonhos despertos em lugares múltiplos. Fico pensando nessas coisas entre cochilos e sonhos até que a pergunta volta a ecoar do jardim: Mãããããeeeeee, quer jambo?”.
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Acordo. Mais um dia de trabalho no Nordeste. Ensinar, conhecer, aprender, encontrar, trocar. Movimentos de vida de viajante. Movimentos de vida de viajante que, enquanto ensina, aprende. Enquanto ganha, troca. Enquanto trabalha, viaja. Enquanto viaja, vive. Movimentos de vida que se oferecem em vozes de jardim.