Espiritualidade

Karma – O Arqueiro e suas Flechas

Monge caminhando entre templos em direção ao pôr-do-sol.
Escrito por Mudra Yoga

Karma é uma palavra que tem origem no sânscrito – antiga língua sagrada da Índia – cuja raiz (kar) significa fazer ou agir, e o sufixo (ma) quer dizer efeito. Em resumo, karma quer dizer ação. E toda e qualquer ação sempre tem consequências.

Apesar de muitas religiões e filosofias da Índia não incluírem o conceito de culpa e castigo, o karma funciona como um mecanismo essencial para revelar a importância dos comportamentos individuais.

Tudo que fazemos em nossa vida atual impacta a nossa próxima existência, assim como tudo que fizemos nas nossas vidas passadas tem suas consequências nesta agora, ou nas próximas, pois, embora estejamos em corpos diferentes, nada mais somos do que a sequência do caminhar de nossa alma.

Mulher em posição de yoga com o pôr do sol no mar ao fundo.

Os sábios antigos do Yoga e do Vedanta usaram a metáfora do arco e flecha, como uma ferramenta para nos ensinar como reduzir o karma através do autoconhecimento, da auto-observação e da consciência plena de nossas ações. Segundo eles, existem três tipos de karma: o sanchita, o kriyamana e o prarabdha. Usando a metáfora dos três locais onde poderá estar uma flecha antes de ser disparada, temos: a aljava, a mão do arqueiro e o voo da flecha, respectivamente.

Três locais das flechas = três tipos de karma

  1. Aljava (local nas costas do arqueiro na qual são guardadas as flechas que ele terá que usar)
    A aljava representa o SANCHITA KARMA, o vasto depósito de impressões gravadas nas flechas que estão guardadas e que foram geradas por karmas do passado, que, mesmo ainda não percebidas pelo arqueiro de forma consciente, virão com cada flecha que ele pegar para disparar em suas ações na vida atual. A forma como ele vai disparar essas flechas pode ser igual ao que ele fez no passado (karma negativo), ou diferente: mais sábia agora corrigindo os erros do passado (karma positivo). Porém, ele só vai ter esse conhecimento se tiver consciência de suas ações, consciência do que elas representam, e não agir por simples impulso ou instinto. Quanto às impressões dos karmas do passado, só será possível percebê-las (para corrigi-las) através de muita meditação, Yoga Nidra, autoconhecimento, conexão com a sua essência.
  2. Mão do arqueiro (flecha na eminência de ser lançada)
    Aquela flecha que já está na mão do arqueiro, que ele já posicionou em seu arco, aquela flecha que está a um instante de ser disparada, é a representação do KRIYAMANA KARMA, tudo que está atualmente bem na nossa frente, aquilo que estamos vivendo no nosso dia a dia e que depende exclusivamente das nossas escolhas, as impressões que vão deixar, as marcas que vão causar, os karmas que vão gerar.
  3. Voo da flecha (flecha que já foi lançada rumo ao seu alvo)
    Depois que uma flecha é disparada, nada mais pode ser feito para detê-la ou alterar o seu rumo. Ela vai atingir o alvo bem no centro, ou mais para cima, mais para baixo, para a direita ou para a esquerda, ou até mesmo passar muito longe dele. Essa flecha em voo representa o PRARABDHA KARMA, aquele que está sendo gerado agora, com base em nossas ações atuais e que terá consequências no nosso futuro, seja nesta ou nas próximas vidas, não importa, nada mais pode ser feito para que esse karma seja detido, assim como é impossível deter a flecha em voo rumo ao seu alvo. Não tem como você disparar uma flecha e em seguida correr para mudar o alvo de lugar, e, mesmo se isso fosse possível, as consequências de uma flecha em voo já existem e já estão atuando no ar que ela corta ao passar.
Silhueta de um arqueiro lançando sua flecha.

Em resumo, temos o seguinte panorama:

SANCHITA karma (PASSADO): são as flechas que estão na aljava. São todos os karmas acumulados durante a trajetória da sua alma até aqui; um vasto depósito de impressões ainda não percebidas, mas que estarão presentes em cada flecha que o arqueiro pegar da sua aljava para usar na sua caminhada atual. E para que seus destinos possam ser guiados com sabedoria rumo a karmas positivos, muito há para se fazer no aqui e agora. Muita tomada de consciência, muita meditação, Yoga Nidra, compaixão, sabedoria, decisões coerentes, muito autoconhecimento e evolução espiritual. Caso contrário, além de não aprender a lição, além de não queimar aquele karma antigo cujas impressões estão gravadas na sua flecha, ao dispará-la, você vai criar mais do mesmo karma negativo antigo.

KRIYAMANA karma (PRESENTE): é a flecha na mão do arqueiro, já posicionada sobre o arco, pronta para ser disparada, ou seja, aquele karma, positivo ou negativo, que está na iminência de acontecer, sobre o qual temos poder de atuação. Aqui existe uma escolha que pode ser consciente, plena de sabedoria e luz, gerando desse modo um bom karma, ou então acumulando mais Karma negativo, com os quais você terá que lidar no futuro, seja ainda nessa vida ou em outras mais à frente.

PRARABDHA karma (FUTURO): é a flecha em voo, ou seja, os karmas que serão gerados a partir das ações no presente, seja ele próximo ou distante da nossa vida atual, e com os quais teremos que lidar algum dia, mais cedo ou mais tarde.

Ilustração de mãos enroladas em fios que flutuam.

As leis do karma

O karma transcende períodos, vidas e barreiras. Não espere nada grandioso em sua vida se você não fizer por onde. Aprenda a aceitar os desafios como motivos maiores para poder crescer e amadurecer, pois só o conhecimento nos levará a sábias escolhas e somente elas poderão nos levar aos melhores resultados, agora e no futuro.

A seguir, dez leis preciosas a serem levadas em conta antes e durante todas as nossas escolhas, decisões e ações no transcorrer da jornada.

  1. Lei do retorno – aquilo que você planta é o que você colhe, portanto escolha sementes de qualidade para o jardim da sua existência: palavras sábias, ações adequadas e pensamentos positivos.
  2. Lei da criação – você e o universo estão conectados, são feitos dos mesmos elementos. Você pode ter tudo aquilo que desejar se criar as condições adequadas para isso.
  3. Lei da humildade – se você só enxerga as características negativas das pessoas, aprenda a reconhecer que aquilo que você vê nos outros geralmente é um espelho do que você não deseja ver em você mesmo, mas que está lá, adormecido dentro de você.
  4. Lei do crescimento – para crescer e evoluir, é necessário que as mudanças venham de dentro de você. Não importa o que os outros fazem, como agem ou pensam, o mundo não vai mudar só porque você quer. Quando você muda o seu mundo, o mundo muda ao seu olhar.
  5. Lei da responsabilidade – você é o único responsável por tudo que lhe acontece, são suas escolhas que constroem o caminho por onde você anda e andará.
  6. Lei da conexão – No mundo tudo está conectado, em cada fase a vida nos conduz para a próxima, a qual será construída a partir do material que trouxermos das fases anteriores. Passado, presente e futuro fazem parte da mesma linha do tempo.
  7. Lei do foco – mantenha o foco no ponto de luz que ilumina a sua estrada, um passo de cada vez, uma coisa de cada vez. Se sua jornada for marcada por pensamentos e ações positivos, não haverá espaço nela para negatividades. Você é responsável por suas escolhas.
  8. Lei da doação – tudo que aprender ao longo da vida, compartilhe com quem estiver por perto, mesmo que para você isso pareça pouco, não dê ouvidos ao ego, pois, para o outro ao seu lado, pode ser a grande diferença.
  9. Lei do agora – seja grato ao passado, acredite no futuro, mas viva integralmente no presente, no aqui e agora, pois o instante presente é o nosso único ponto de poder, é nele que fazemos nossas escolhas.
  10. Lei da mudança – situações difíceis se repetirão diversas vezes até que você aprenda com elas. Quanto mais rápido você entender cada lição, mais rápido poderá passar de nível. Quanto mais rápido perceber a direção do vento, mais rápido poderá corrigir sua rota e chegar ao porto seguro são e salvo.
Escultura de Buda.

Notas importantes:

  • A qualidade das nossas decisões define a qualidade das nossas ações. O alvo das flechas também determina a qualidade das consequências que retornam dessas ações. E essas consequências vão repousar no nosso subconsciente na forma de impressões profundas (samskaras), as quais determinam o nosso karma.
  • Em um momento no futuro, esses samskaras gerarão pensamentos, falas e ações, que novamente vão gerar mais consequências.
  • Lembrar de agir como um hábil arqueiro é muito útil para tomar decisões que mais tarde terão consequências positivas no aspecto mental, emocional e espiritual de nossas vidas.
  • A chave é disparar as flechas que estão em nossas mãos com sabedoria, enquanto aceitamos que algumas de nossas flechas disparadas anteriormente estão causando sofrimento, consequências inevitáveis que precisam ser tratadas com consciência plena, para que o aprendizado de cada lição possa ser efetivo.
  • É com as flechas que estão atualmente em nossas mãos, que temos a chance de escolher onde mirar, como disparar e como viveremos no futuro.
  • Uma flecha em voo não pode ser chamada de volta. Deve completar sua jornada. Pensamentos, fala e ações que foram postos em movimento não podem ser chamados de volta. Eles também vão completar sua jornada, trazendo consequências, positivas ou negativas.

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Senhora idosa inclinada com as mãos em sinal de oração.
  • Novas decisões, diferentes/positivas, podem ser tomadas para equilibrar os efeitos de flechas previamente disparadas. Fazer isso é benéfico, pois melhora o conjunto de flechas em voo. Entretanto, as flechas originais continuam sua jornada até sua realização.
  • A lição, para o buscador da autorrealização, é aceitar que há consequências físicas, mentais, emocionais, sociais, culturais, familiares, financeiras e materiais para todas as suas ações prévias ou flechas disparadas. Precisamos simplesmente aceitá-las como uma realidade a partir da qual vamos adiante, evoluindo assim na nossa busca espiritual.
  • As flechas em voo precisam ser tratadas da posição do aqui e agora, no contexto de como atiramos as flechas hoje.
  • Através dos disparos conscientes das nossas flechas, a mira vai ficando melhor a cada dia. Só a prática permite essa melhora. Quando a mira fica melhor, as consequências serão mais favoráveis. E se as consequências forem mais favoráveis, o conjunto do nosso karma diminui.
  • Por trás de nossas ações, estão muitos pensamentos, emoções, impulsos, samskaras e desejos primitivos. Estando atentos ao processo que leva a cada ação, podemos fazer escolhas mais sábias sobre estas ações.
  • O mais importante é como lidamos com o karma que se apresenta na nossa vida hoje. Essa é a arte da redução do karma.
  • A lei do karma é universal: conforme semeamos, assim iremos colher. As palavras e o contexto cultural podem variar, mas o princípio permanece o mesmo. Tornarmo-nos mestres de nós mesmos e de nossas ações é a chave para dominar o cativeiro do karma.
Mão sobre o joelho em uma das posições da yoga.

Resumindo: para queimar karmas negativos já existentes e parar de gerar novos, é preciso viver esta vida que você tem aqui e agora, de acordo com o seu dharma.

Mas o que é DHARMA? Bem, esse é um assunto para um próximo artigo.


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Sobre o autor

Mudra Yoga

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Localizada no Coração de Porto Alegre, a escola Mudrá Yoga foi fundada em 2007 e está preparada para receber o aluno que deseja se desenvolver através da prática regular.
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Com várias Professoras em nossa Equipe temos aulas em diversos horários com diferentes tipos de Yoga, tais como: Aerial Yoga, Hatha Yoga, Vinyasa Yoga, Nidra Yoga e Meditação.
Escolha o tipo de Yoga com o qual você mais se identifica e venha experimentar.
PS.: Temos também Aulas Regulares e Cursos de Formação em Dança Indiana.
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Maria Helena Lakshmi é a Escritora Responsável por esta coluna. (Outras professoras da nossa equipe também enviarão artigos para esta coluna.)
Praticante de Yoga há mais de três décadas e proprietária da Mudrá Yoga.
Formação acadêmica em Comunicação Social com especialização em Publicidade e Propaganda, tendo atuado em várias agências de publicidade e propaganda em Porto Alegre. Ministrou aulas de Pesquisa Mercadológica na UNISINOS como assistente de ensino.
Escritora, com dois livros publicados, e Instrutora de Yoga com formação em várias modalidades:
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