Entre todas as lendas do nosso folclore, uma das mais assustadoras e populares certamente é a da mula sem cabeça! Essa criatura assustadora, que anda pela noite com chamas no lugar da cabeça, é uma das figuras mais marcantes das lendas da nossa cultura.
Para apresentar a você todos os detalhes dessa lenda assustadora, preparamos este artigo que explora a origem dessa lenda, as principais características desse mito, suas curiosidades e as diferenças que existem em relação a essa lenda nas diferentes regiões do Brasil. Confira!
Tudo sobre a Mula sem Cabeça
Origem da mula sem cabeça
Estamos acostumados a descobrir que as origens das lendas do nosso folclore estão nas tribos indígenas que habitavam nossas terras antes da colonização de Portugal, porém, para a surpresa de muitos, não é assim com a mula sem cabeça.
Na verdade, essa figura nasceu na Península Ibérica, que é como é conhecida a região onde ficam Portugal e Espanha. A lenda da mula sem cabeça existia nesses dois países e foi trazida para o nosso país pelos colonizadores portugueses e para outros países da América do Sul pelos colonizadores espanhóis.
Em países como México (conhecida como malora) e Argentina (conhecida como mula anima), essa lenda também está presente. Com exceção do nome, não há quase nenhuma diferença entre as lendas desses outros países e a lenda que se popularizou aqui.
De acordo com o pesquisador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), a lenda deve ter origem no fato de que, de acordo com uma lei portuguesa do século XIII, a mula foi definida como meio de transporte oficial de padres e de outros religiosos. Além disso, eram, de fato, muito usadas por padres, por serem de fácil acesso e fáceis de montar.
Lenda da mula sem cabeça
Também conhecida como burrinha de padre ou simplesmente burrinha, a mula sem cabeça é, segundo a lenda, uma mulher que se transforma em uma mula que, em vez de uma cabeça, tem labaredas de fogo acima do tronco.
A origem dessa mulher que vira uma mula sem cabeça é, de acordo com o mito, uma maldição para mulheres que cometem o pecado de ter relações íntimas com padres e outros membros da Igreja. Segundo a lenda, apenas a mulher que cometia o pecado era punida pela maldição, não o padre.
Então, numa virada de quinta para sexta-feira, a mulher amaldiçoada se transforma em uma mula toda negra com labaredas de fogo no lugar de sua cabeça, além de uma cauda também de fogo. A lenda conta também que ela fica o tempo todo relinchando de maneira que demonstra muita dor e sofrimento.
Portanto, a mulher amaldiçoada permanece nessa condição até ouvir o primeiro galo cantando na manhã seguinte, quando volta à sua forma humana cheia de ferimentos e de machucados.
De acordo com a lenda, a mula sem cabeça é uma criatura raivosa e extremamente violenta. Portanto, ela ataca qualquer pessoa que apareça em seu caminho, isto é, independentemente de quem seja. Se a pessoa não conseguir fugir das chamas e de seus coices, pode ser atacada até a morte.
Mula sem cabeça no Brasil
A lenda da mula sem cabeça é muito semelhante em todas as regiões do Brasil. Geralmente, a principal diferença se dá na maneira como é possível impedir que a mulher continue transformada em mula.
Na maior parte dos países da América Latina, assim como nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, a lenda conta que a principal maneira de evitar que a mulher continue se transformando em mula é que ela seja amaldiçoada por um padre sete vezes antes do início de uma missa.
Já na região Centro-Oeste, o mais comum é que é preciso retirar o freio que fica pendurado onde estaria a boca da mula. Portanto, apenas os homens mais corajosos se prontificam para realizar essa tarefa, que pode terminar com queimaduras e até mesmo morte.
Já nas regiões Norte e Nordeste, o mais comum é que a mula volte a ser mulher permanentemente se for ferida com um objeto pontiagudo, mas isso exige bastante perícia e habilidade, para que ela não acabe morta, porque, se a mula morrer, a mulher morrerá também.
Em regiões de Portugal e da Espanha, dizem que não há como trazer a mulher “de volta” e que ela precisa lidar com o castigo para o pecado que cometeu. O “alívio” é que ela ataque sete cidades toda vez que se transforma.
Curiosidades sobre a mula sem cabeça
1 – A mula é sempre descrita usando cascos de prata ou de ouro, o que faz com quem muitos gananciosos tentem se aproximar para pegar os metais preciosos, mas acabe morrendo por causa da ganância;
2 – Em lugares ermos, segundo a lenda, a mula costuma se esconder e dar gemidos que simulam uma mulher em apuros. Quando alguém vem em socorro dessa mulher indefesa, a mula surge e, então, ataca;
3 – Algumas variações da lenda incluem que até mulheres que perdem a virgindade antes do casamento se transformam em mulas sem cabeça.
Mula sem cabeça em filmes, séries e livros
Por ser tão popular em nosso folclore e em nossa cultura, é normal que a mula sem cabeça apareça em nossas obras de ficção, como filmes, séries e livros. Confira algumas obras nas quais você pode vê-la!
“Mula sem cabeça” (2015), de Ilan Brenman e Marjolaine Leray: Esse livro, publicado pela editora Companhia das Letrinhas, conta uma história mais leve e menos violenta da lenda da mula sem cabeça, que pode ser entendida e assimilada por crianças sem entrar em questões que envolvam pecado e relações íntimas.
“Cidade invisível” (2021): A série da Netflix apresenta uma releitura de muitas lendas do nosso folclore. A história gira em torno de um investigador que descobre um boto cor-de-rosa em um lago no Rio de Janeiro e decide investigar como o animal foi parar ali.
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“AnimaCriança — Lendas Brasileiras” (2019): Ao longo dos 13 episódios desse desenho animado, indicado para crianças, um grupo de garotos e garotas conta histórias do nosso folclore de maneira fácil e de fácil entendimento, já que as próprias crianças narram as histórias.
Enfim, essas são as principais informações sobre a mula sem cabeça, uma das principais lendas do nosso folclore. Se você ficou curioso para saber ainda mais sobre essa criatura, consuma as obras que indicamos. Tome cuidado, no entanto, quando estiver nas ruas escuras entre uma quinta e sexta-feira, hein?!