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Lenda do Boto

Um boto côr-de-rosa comendo um peixe.
Michel VIARD de Getty Images / Canva
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Algumas figuras, como o saci-pererê e a cuca são como “estrelas” do nosso folclore. Porém existem outras criaturas menores e menos populares que também fazem parte desse conjunto de lendas e costumes que chamamos de folclore. Em resumo, o folclore trata-se das lendas e costumes que formam a cultura do nosso povo.

E uma dessas lendas é a do boto-cor-de-rosa, uma criatura que poderia fazer muito mal a mulheres solteiras, como poderemos ver adiante. Conheça a seguir tudo sobre essa lenda!

Origem do boto-cor-de-rosa

Maior especialista em folclore brasileiro, o pesquisador Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) conta que a lenda do boto provavelmente foi inspirada em narrativas que remontam à Grécia Antiga. Pois, desde aquela época, cetáceos como o golfinho eram usados como representação de luxúria e perdição tanto para gregos quanto para romanos.

De acordo com o pesquisador, muitas civilizações consideravam os movimentos de golfinhos semelhantes a movimentos sexuais e sensuais. Por isso, esses animais frequentemente eram associados ao prazer. Por causa do formato de seu bico (conhecido como rostro), normalmente eram associados também ao membro genital masculino.

Dois golfinhos efetuando um salto para fora d'água.
Anastasia Collection / Canva

No Brasil, segundo Câmara Cascudo, essa associação chegou por meio do boto-cor-de-rosa. Em resumo, o boto-cor-de-rosa é um tipo de golfinho fluvial que ocorre nas bacias dos rios Amazonas e Solimões, e também em partes da Bolívia. Além disso, é o maior golfinho de água doce do mundo.

A lenda, portanto, surgiu entre indígenas da região Norte do Brasil, onde ficam os rios que mencionamos mais acima. De acordo com Câmara Cascudo, a lenda não estava presente entre os indígenas até o século XVII. Por isso, pode ser considerada recente, já que se estabeleceu apenas em meados do século XIX.

Lenda do boto-cor-de-rosa

A lenda conta que esse boto sai dos rios e se transforma em um lindo rapaz, sempre nas noites de Lua Cheia. Além disso, ele geralmente faz isso próximo a datas de festas populares, especialmente as festas juninas de São João, São Pedro e Santo Antônio.

Dizem que ele se veste de branco e usa um chapéu, a fim de esconder suas narinas, para que ninguém desconfie que se trata do boto cor-de-rosa. E é assim, na forma de homem, ele escolhe a moça solteira e virgem mais bonita da festa e a leva para o fundo do rio.

Ele vive uma noite de amor com ela, tira a sua virgindade e a deixa suspirando de amor. Porém, na manhã seguinte, ele volta a ser boto e desaparece da vida da mulher, que, para completar o seu desespero, percebe que, além de não ser mais virgem, está grávida.

Em algumas regiões, crianças que cresçam sem o pai presente costumam ser chamadas de “filho do boto”. Em algum momento, é provável que essa lenda tenha sido usada por alguma mulher ou pela família dela para justificar uma gravidez indesejada e a perda da virgindade da moça. Então se popularizou.

Curiosidades sobre o boto

1 – De acordo com a pesquisa do já citado especialista em folclore Câmara Cascudo, lendas parecidas com a nossa, sobre o boto-cor-de-rosa, são comuns em outros países do nosso continente, como Argentina e Chile.

2 – Na época em que a lenda se popularizou, no século XIX, o olho do boto-cor-de-rosa passou a ser considerado um poderoso amuleto amoroso, às vezes descrito como tendo poderes mágicos.

3 – Acredita-se que desmascarar um boto-cor-de-rosa, segundo a lenda, é fácil: basta remover o chapéu dele e verificar suas narinas, se são humanas ou parecidas com as de um cetáceo.

Boto-cor-de-rosa nos filmes, séries e livros

A lenda do boto influenciou e influencia até hoje dezenas de obras, entre livros, filmes e até séries. Por isso, é possível encontrar temas relacionados com a lenda, bem como referências e personagens. Confira alguns deles:

Um boto cor-de-rosa erguendo parte do seu corpo para fora d'água.
MICHEL VIARD de Getty Images / Canva

“Ele, o Boto” (1987): dirigido por Walter Lima Jr., esse filme conta a história de Tereza, que, ao engravidar do Boto e deixar que seu filho vá viver com os outros botos, passa a temer que sua irmã mais nova, Corina, também seja seduzida pelo Boto. A partir daí, ela assume a missão de não permitir que isso aconteça.

“Cidade Invisível” (2021): essa série da Netflix é uma adaptação recente da lenda do boto. Ela conta a história de Eric, um policial ambiental que descobre um mundo oculto onde há entidades mitológicas brasileiras, enquanto tenta encontrar alguma conexão entre a morte de sua esposa e a aparição de um boto-cor-de-rosa em uma praia do Rio de Janeiro.

“Lendas Brasileiras”: é possível encontrar a lenda do boto nessa versão especial da Turma da Mônica. Nessa história, alguns personagens da Turma da Mônica estão em viagem pela Amazônia e são abordados por um turista que conta a lenda do boto.

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Enfim, essas são as principais informações sobre a lenda do boto-cor-de-rosa, uma das tantas que fazem parte do nosso vasto folclore e da nossa cultura. Se você se interessou por essa criatura folclórica, consuma as obras recomendas, nas quais é possível se aprofundar nessa lenda.

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