Por qual razão insistimos em carregar o mundo dentro da gente? Por que nos envolvemos, de forma tão intensa, com os eventos da existência? Não seria mais fácil nos colocarmos diante dos fatos apenas como espectadores? Não seria maravilhoso navegar o mar da vida, de forma tranquila, sem permitir que a água entrasse pelo convés, exigindo um esforço constante em removê-la?
Reflexões mais profundas irão nos levar à conclusão de que a melhor forma de lidarmos com essa realidade é vivendo no mundo sem sermos do mundo, como já nos ensinava Ramakrishna (o louco de Deus), assim, poderemos perceber, através de uma análise coerente, que toda a nossa dificuldade existencial se resume ao apego criado com os eventos externos.
Essa forma de pensar irá nos revelar que sofremos, justamente, por estarmos imantando todos os acontecimentos prosaicos do dia a dia com emoções, colocando uma carga afetiva desnecessária na experiência e, com isso, produzindo condicionamentos inúteis, que só servem para nos manter presos ao passado, agarrados à vida do corpo. Poucos alcançaram esse grau de desprendimento, poucos, como Jesus, podem dizer: “Meu reino não é deste mundo”, demonstrando um grau de desapego e renúncia incomuns que merecem estudos cada vez mais profundos.
Esse tema me traz à lembrança um conto do folclore oriental, bastante conhecido, onde dois monges andarilhos caminhavam às margem de um rio e perceberam uma moça com dificuldades para atravessar à outra margem. Ao vê-los, a bela jovem acenou pedindo ajuda. Os monges, em conflito, se entreolhavam. O mais sensibilizado amparou-a e fez a travessia de forma extremamente gentil; entretanto, no caminho para o mosteiro, o outro monge resolveu protestar: “Como pôde fazer aquilo? Carregar aquela jovem? Esqueceu-se de seus votos? Não sabes que não devemos, jamais, tocar mulher alguma?”. O monge caridoso estranhou tamanha celeuma e respondeu: “Quem está carregando a moça até agora é você, eu a deixei na outra margem do rio”.
Nossa vida se resume a isso, infelizmente. Por estarmos, o tempo todo, envolvidos e nos contaminando com a paisagem, acabamos transformando informações em problemas e esses problemas nos acompanham, pois ficam guardados nas gavetas da alma em função da importância que demos a eles. Desta forma, carregamos pesos inúteis que pesam sobre o nosso ser e um dia seremos obrigados, pelo próprio Universo, a nos livrarmos daquilo que nunca nos pertenceu.
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Substâncias negativas como mágoas, culpas, frustrações, indignações, desejos e muitos outros elementos energéticos nocivos, não servem aos propósitos de um despertar de Consciência, portanto, nos incomodam de forma renitente para sinalizar desajustes. Isso ocorre até que possamos aprender como eliminá-los. Este será o caminho de volta para dentro de si e só será possível quando aprendermos a lidar com as questões externas com maior neutralidade, sem deixar que as ocorrências ganhem importância em nosso psiquismo.