As denominações já foram menores. Existia Adão, Eva, a cobra e a maçã ( * ). Pronto: gente e seus gêneros, animal e comida. Eles cresceram, se multiplicaram e passamos a ter homens, mulheres, diversos animais, que se transformaram em comida ou virariam verdadeiras pragas, frutos, árvores diversas e tudo o mais. O mundo foi crescendo, as categorias também. Começamos a catalogar tudo para não nos perdermos.
Um pouco antes do dilúvio ( * ) já nos dividíamos por povos e etnias. Foi quando as guerras se acirraram, os conflitos dizimaram populações inteiras. Até que chegou a arca e salvou uns poucos para começarmos tudo novamente, pois “algo havia dado errado”.
No pós-arca ( * ), reiniciamos a civilização e tentamos corrigir pequenas falhas. O grande problema é que não esquecemos das nossas malfadadas denominações e continuamos a dar nomes diferentes para seres vivos: seres humanos, animais. Animais de diversas espécies, que poderiam ser caçados para alimento, para comercialização ou ao bel prazer.
Tal qual os bichos e seres humanos também foram classificados em gênero e espécie. Do tipo homens e mulheres, seres humanos homens e mulheres do tipo orientais, ocidentais, que professam um único Deus, vários, nenhum. Mais à frente, europeus, egípcios, indianos. Depois, africanos, americanos e índios. Alguns com direito de posse, outros de serem caçados, laçados e escravizados. Norte-americanos, sul-americanos, argentinos, brasileiros, chineses, coreanos do Sul e do Norte. Cada um recebeu a sua etiqueta e ai de quem não se comportasse de acordo com o “status quo” etiquetado.
Tal qual embalagens de remédios fomos sendo postos nas prateleiras separadamente. E cada um com seu preço e discrição. Raça, credo, civilizações, território e qualquer coisa que pudesse ser motivo de rótulos para possível separação era posto como contraindicação. Mulçumanos, cristão, católicos (ortodoxos ou não), evangélicos, anglicanos, budistas. Uns rezam, outros oram, alguns professam. Cada qual com sua terminologia e crença arraigada. Assim, desde antes das Cruzadas, Deus, Alá, o Universo e qualquer terminologia que as religiões usam para expressar uma força maior que nós, é usada exatamente contra os seres humanos.
Como não havia limites para as diferenças, verdadeiras atrocidades foram iniciadas por motivos religiosos ou étnicos. Estes dois itens bem juntos e misturados ainda hoje levam ao extermínio de milhões de pessoas ao redor do globo terrestre. Arianos e judeus protagonizaram o horror mais documentado de todos os tempos. Não menos cruel, inúmeros outros conflitos dividiram ou dividem povos: norte-americanos do Sul e do Norte, hindus, mulçumanos, tibetanos, dalits, brâmanes, sérvios, bósnios e croatas, índios, sem terras, com terras e um grande número de guerras e conflitos também foram exemplos da barbárie que produziu pilhas de corpos sem identificação.
No “economiquês” já fomos separados em nobres, burgueses, camponeses, trabalhadores, clérigos, os que tinham acesso às indulgências e ao céu e os que só poderiam se conformar com sua condição social. Evoluímos aos atuais ricos, pobres, de primeiro mundo, de segundo e terceiro mundos e, por fim, o que mais acirra ódio: capitalistas e socialistas. Tudo é motivo para desavença.
Mais recentemente, surgiram novas denominações. Pelo tipo de alimento que ingerimos, pelos gostos e preferências, torcidas de futebol, partidos e blocos políticos. Mas nos últimos tempos, são as orientações sexuais que ganharam novos termos. Depois de séculos, os GLS se impuseram e passamos a acatar os seus direitos. No meio do caminho se tornaram GLBTS e a justiça entendeu que as famílias oriundas do amor são todas legais. Ainda há muitos dedos apontados e copos jogados à cara. O preconceito ainda leva à morte alguns milhares de pessoas. A ignorância e o medo são os principais motivos. Ignorância que a sociedade tenta vencer trazendo novas terminologias, mais explicativas e complementares às anteriores. No momento, estamos ouvindo por todos os lados sobre os/as trans. Confesso que ainda estou confusa, mas não careço de explicação, pois para mim, são apenas seres humanos querendo ser felizes. E, se a busca é por felicidade, tem a minha empatia, pois o que todos nós queremos é ser feliz, independente da prateleira na qual estamos expostos. Quanto a isto não há divisão.
Com certeza as nomenclaturas, espécies e raças funcionam bem na ciência. Mas a verdade é que até hoje, toda e qualquer nomenclatura usada em sociedade apenas nos dividiu, nos separou, acirrou diferenças, que levaram a “opiniões”, embasadas em conceitos pré-determinados por diversas questões (sociais, psicológica, econômicas, etc), mais conhecidos como preconceitos.
É tanta declaração de ódio e desamor disfarçados de opiniões que assusta. Usam até livros religiosos para segregação e ódio. A Bíblia como o Al Corão é citada para defender pensamentos pessoais desde a sua escrita. Interpretação de texto por mentes sem amor pode ser uma arma tão ou mais poderosa quanto balas e bombas. Mentes sem amor trazem doenças. Para os outros, para o mundo e principalmente para o dono da mente. Nossos pensamentos são capazes de mudar a frequência que o mundo vive e pensamentos amorosos derrubam qualquer divisão que a mente doente é capaz de enxergar.
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Pensando nisto, para a atualidade, eu gostaria de pedir aos seres humanos – independente da classificação em que tenham sido colocados ou se coloquem – que dissipem as nuvens e tempestades das diferenças e denominações e foquem no que é primordial: a nossa humanidade, a nossa igualdade, que deveria ser motivo de fraternidade e amor. Por um mundo com menos olhares nebulosos, eu reforço o pedido solar de mais amor, por favor!
Nota:
( * ) As “histórias da Bíblia” que uso no início do texto faz parte do meu aprendizado infantil dentro de uma família cristã, mas sincrética, pois no meu frasco vem escrito ser humano, do gênero feminino (embora tenha um lado masculino desenvolvido), branca (embora não seja), brasileira, portuguesa pelo coração, heterossexual (não se usa mais isto!), S do GLBTS (abreviação de seres humanos, espero!), que já tentou ser vegana, acredita que algum dia será vegetariana (mas ainda não deu, pois não resiste ao cheiro do churrasco e sabor do camarão) e, contraditoriamente, ama os animais, sem religião, mas muito espiritualizada, que acredita em energias (inclusive a crística), cheia de amor no coração, mas capaz de ser intolerante e irascível e que procura dar o seu melhor ao próximo, pois acredita que “nesta aldeia chamada vida” todos somos um e que diferenças são feitas apenas para enriquecer e não dividir.