CAPITULO 18 – RESPEITE O GOSTO DA OUTRA PESSOA!
Por mais que se questione a afirmativa muito em voga que diz “gosto não se discute!”, é melhor mesmo não discutir o gosto da outra pessoa. Se ela aprecia muito tomar um caro champanhe em um copo descartável, desses que reinam nos escritórios, que lhe seja especialmente saborosa essa degustação e que seja deixada em paz!
Cada pessoa tem a sua forma de sentir o mundo e de experimentar seus sabores, enquanto decide se os aprecia ou não, e assim deve ser. Não tem o menor sentido querer uniformizar o que está funcionando muito bem na sua pluralidade; e a Natureza, que nada cria sem ter um propósito, não seria tão rica na formulação de bilhões de sabores, odores e percepções de cores e formas.
E mais: as pessoas têm o direito sagrado de fazer suas escolhas e de libertar seus sentidos físicos e emocionais das regras tão ao gosto daqueles que vêm para esse planetinha com o firme propósito de acinzentar o seu lindo azul e de lhes secar as flores e calar os passarinhos: essa gente não suporta que as demais pessoas possam encontrar satisfação e prazer naquilo que lhes seja próprio.
Se não gosta, coma menos, ora!
Memórias do período de serviço militar obrigatório trazem o episódio da transformação de meninos mimados em soldados prontos para as mais duras condições de marcha, acampamentos e manobras militares.
Nunca era possível saber o que era pior: a poeira seca e vermelha dos dias de sol intenso ou a lama viscosa das intermináveis tardes de chuva torrencial. Os soldados reclamavam muito e maldiziam o autor da lei do serviço militar obrigatório, enquanto sentiam pungentes saudades da mamãe!
Para piorar as coisas, naquele ano, apareceu um sargento de longa folha de serviços e que respondia pelo “rancho” da tropa, a cozinha em que misteriosamente entravam sacos e mais sacos do que não se sabia bem o que seria, e saía uma coisa fumegante com cheiro de todos os temperos do planeta e que era devorada pelas centenas de soldados com fomes que pareciam de séculos.
Sempre mal-humorado, aquele sargento, de vez em quando, anotava os nomes e as recusas dos soldados diante do que era servido: um não gostava de cebola, outra detestava alho, aquele outro considerava pimentões como venenos e mais aquele estertorava quando sentia o gosto de salsinha.
Certo dia, quando a tropa voltava de mais uma daquelas marchas pelo campo de treinamento sob o peso de toda a tralha do equipamento, a fome em proporções trágicas, alguns dos soldados, os mais renitentes quanto a não gostar disso e daquilo, foram chamados à parte e tiveram que devorar uma quantidade enorme exatamente daquilo que não gostavam, enquanto ouviam o sargento vociferando todos os adjetivos contra a incorreção de escolher isso e aquilo para comer, já que na hora da fome até paralelepípedo cozido sem sal era um delicado sabor reservado apenas para os deuses!
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Dizia ele, entre uma frase e outra da sua peroração diante dos assustados soldados: “goste ou não goste, tem que gostar; e não tem nada a ver essa de achar que o que o outro gosta eu não gosto; e estamos conversados”.
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