Espiritualidade

Mas afinal, quem foi Jesus Cristo?

Vitral de igreja com Jesus Cristo
travelspot de pixabay / Canva
Escrito por Madaleine

Seria Jesus a figura mais enigmática de todos os tempos?

Seria ele o salvador que ninguém pôde salvar? Quando ele esteve entre nós, peregrinou com uma multidão que o seguia, ouvia e tentava multiplicar seus ensinamentos.

Mas, afinal, quem foi Jesus Cristo? O que ele buscava? Por que não foi compreendido?

Seus ensinamentos realmente fazem algum sentido nos dias atuais?

Para essa e outras perguntas, tentarei abordar aqui um lado menos religioso e talvez mais emocional.

Falar de Jesus é um grande desafio, pois ele realmente se tornou um parâmetro de bom comportamento.

Idealizado como exemplo, não é tarefa fácil desmistificar esse homem e torná-lo apenas um homem bom e comum como tantos outros. Diante deste desafio, procurando pelo menos uma resposta para cada uma das perguntas, vou começar dizendo: Jesus Cristo foi um grande profeta, já nasceu praticamente condenado à morte, e para escapar do anúncio de Herodes, que ao saber do nascimento do “Filho de Deus”, mandou matar todas as crianças de até 2 anos, nascidos em Belém, foi poupado com a fuga de seus pais. Com essa fuga, ele passou sua infância e adolescência em Nazaré e já adulto com 30 anos de idade, Jesus pede a João Batista para ser batizado e parte para sua vida de peregrinação, pregação e milagres.

Quando chegou em Jerusalém, causou o maior fuzuê. Era mais um judeu, camponês, chamado Yeshua, protestando contra as ordens vigentes, que foi aprisionado e condenado à morte por ter desafiado o poder romano e o templo de Jerusalém em plena Páscoa. “Se você quisesse chamar a atenção de multidões para as suas ideias, essa era a data ideal”. E ele conseguiu atingir seus objetivos. Sua ideia era reunir seguidores que pudessem compactuar de seus ideais.

Ele passou um tempo se preparando para isso, e assim começou a história de Jesus! Um homem inteligente, estratégico e que passou a arrastar multidões que o seguiram até o momento de sua morte, que pregaram e ainda pregam suas ideias e tentam praticar seus ensinamentos. Por esse e muitos outros motivos, ele pode ser considerado um dos maiores líderes da humanidade.

O fim da história já sabemos, ninguém pôde salvá-lo da crucificação e foi exatamente isso que o tornou um mártir a ser seguido, afinal se a história tivesse sido diferente, talvez ele fosse apenas mais um dentre tantos que se opuseram aos reis da época e também perderam suas vidas.

Essa parte da história, muitos já conhecem, e não é nenhuma novidade afirmar que muitos registros bíblicos foram transformados pela igreja exatamente para atender aos interesses dela. Um dos exemplos que podemos citar é que talvez Jesus tivesse tido alguns irmãos e irmãs, citados no Evangelho de São Mateus, no capítulo 13, versículos 55-56: “Porventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chamava sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, e José, e Simão, e Judas: e suas irmãs não vivem elas todas entre nós?”. A igreja usou a história fazendo uso da palavra “irmandade” para dizer que aos olhos de Deus, somos todos irmãos e irmãs e no sentido literal da palavra transformou isso em mais uma crença. O detalhe a ser levado em conta aqui, é que crenças são fatos nos quais se acredita ou não. A dúvida nem sempre é um benefício não é mesmo?

Porém a verdade sobre Jesus é que ele realmente conseguiu causar o impacto que desejava no templo. Causou uma grande confusão, defendeu em público o uso do templo de forma imprópria para o comércio da época, dizendo que aquele lugar sagrado não podia continuar sendo desrespeitado daquela maneira, e foi além; ainda defendeu uma mulher humilhada pelo marido, jogada à própria sorte, que mais tarde virou uma de suas seguidoras mais fiéis; além de sua mãe, Maria, a única mulher no meio de doze apóstolos que lavava seus pés e lhe atendia as necessidades. Foi ela quem o viu “ressuscitar” e trouxe as boas novas a todos. Maria Madalena ficou conhecida como uma mulher inteligente e corajosa para a época, não desistiu de seu lugar naquela sociedade cruel e não se acovardou diante das situações a que foi exposta e submetida. Mais um exemplo a ser seguido. Junto a Maria, ela seguiu os passos de Jesus até os últimos momentos e chorou sua morte na cruz, tornando-se, assim como Jesus, um nome épico e lembrado até hoje.

E por que Jesus não foi compreendido?

Terço e bíblias ao lado de velas
Faruku Tokluoglu @ faruk-tokluolu de diversifylens / canva

Na época havia muitos interesses voltados única e exclusivamente à cobrança de impostos e as ordens vigentes. Por esse e outros motivos, não era conveniente aceitar e compreender Jesus. Ele era o carinha “do contra” e não foi o único a ser crucificado por não concordar com os padrões da época. Também não era conveniente aceitar as ideias de Jesus, afinal, ninguém podia ter mais poder e oferecer risco ao Rei. Tanto que foi condenado e, por deboche, recebeu uma coroa de espinhos.
Na verdade, Jesus foi um revolucionário político e não é à toa que surgiram nesse período vários movimentos populares de contestação ao poder romano, do qual Jesus era mais um representante.

Ninguém sabe ao certo até que ponto Jesus começou a sua pregação motivado por esse sentimento de injustiça social. Até mesmo porque a tentativa de retratá-lo como um revolucionário político (e não um líder espiritual) parece fazer pouco sentido, considerando-se a época em que ele viveu.
Certo é que, ao se misturar com doentes, mendigos, gentis, prostitutas, e toda classe de pessoas consideradas impuras, Jesus conseguiu incomodar a maioria dos grupos judaicos da época.

Seu estilo de ensinar e de viver desagradou muitos desses judeus, que o colocaram à margem do judaísmo palestino. O resto da história você também já conhece: para os romanos, apenas mais um agitador crucificado, nada anormal em meio a centenas de outras crucificações. Para muitos seguidores, o símbolo de uma nova fé que mudaria o rumo da humanidade.

O certo é que, alguns séculos depois, a cruz, a imagem brutal da sua crucificação, foi usada para invocar a guerra e a paz entre os povos. Yeshua, o judeu pobre que morreu como outros durante a Páscoa em Jerusalém, já era conhecido por boa parte do mundo como o Cristo. O mesmo Cristo cujo nascimento passou a ser celebrado todos os anos, no mês de dezembro, no dia de Natal.

E sobre seus ensinamentos, se fazem sentido nos dias atuais, vamos por partes:
Primeiro a parte racional, aquela que os historiadores tentam explicar e provar com fatos; depois iremos para a parte que envolve emoção, as crenças e a fé.
Com a missão de livrar os israelitas da opressão estrangeira e implantar um mundo de justiça e salvação, quando o Novo Testamento foi escrito, em grego, no primeiro século da era cristã, a expressão “mashiah” foi traduzida como “christos” e tornou-se o título de Jesus — ou seja, dizer “Jesus Cristo” é o mesmo que dizer “Jesus, o Messias”. Essa, a parte racional, tentar criar uma espécie de substituto, capaz de dar continuidade ao reinado de Davi. Essa, a parte racional, falhou.

Mas o que realmente era peculiar em sua missão, e o que a distinguia de outras missões, era isto: Ele não veio para buscar a glória e a honra dos homens, mas para buscar a honra e a glória de Seu Pai e para realizar a obra do Pai que o enviara. Nisso reside o segredo de seu sucesso, aqui está a parte emocional, a da fé, aquela que até os dias atuais a maioria não questiona.

Nestas últimas palavras está a essência da Missão de Jesus, trazer a cada um a sua missão. Honrar a Deus como ele honrou. Fazer de seus dias aqui na Terra uma fonte de exemplos de amor e caridade, ao Pai de todos e aos seus filhos, que deveriam ser salvos como ele fôra.

A figura carismática e enigmática de Jesus não pôde nos mostrar de fato quais eram todos os seus ideais, pois o tempo dele foi curto demais para isso.

É como se, em sua breve passagem pela Pangeia, ele fosse como um furacão: veio, passou por aqui como um pé de vento, transformou certas coisas e, depois de sua passagem, nunca mais a paisagem foi a mesma.

Já se passaram 2022 anos desde sua estada aqui e ainda estamos perdidos, buscando acertos em seus ensinamentos.

Mas a parte da fé, como ela influencia a vida das pessoas, como ela modifica e enche de sentido ou não a vida de cada um de nós, isso, sim, é um fato relevante e deve fazer com que cada um reflita e tente compreender a si mesmo depois desse furacão chamado Jesus.

Fé é uma “esperança” nas coisas que se não veem e que são verdadeiras”, ou, ainda, “Fé é um princípio de ação e poder que motiva nossas atividades diárias” (Hebreus 11:1).

Baseados na fé, seguimos um norte, uma intenção, um objetivo que se queira conquistar. Sem fé, fica difícil encontrar um equilíbrio entre razão e emoção, esse sentimento intocável não pode deixar que fiquemos insensíveis e descrentes.
Ter fé, como dito na passagem bíblica citada acima, é manter a esperança naquilo que não é palpável, mas promete, porém, um sonho realizado. A espera de uma concretização de nossos pedidos e desejos.

Silhueta de pessoa segurando um papel com forma de cruz, com céu alaranjado ao fundo
chatkarenstudio / Canva

Alguns mantêm na fé o único recurso para realizar um “milagre”, pois, em alguns casos mais complexos em que milagres são necessários, a fé tem que ser redobrada. Baseados na fé, em relatos de acontecimentos de milagres, muitas vezes escapamos da racionalidade e ficamos perplexos diante dos resultados obtidos. Coisas que a ciência nem sempre explica e fatos que deram origem à canonização de tantos santos pelo mundo. “E aquele que fez cessar a tempestade e andou sobre as águas, conforme essa passagem bíblica em Lucas 8:23-24”. “E navegando eles, adormeceu; e sobreveio uma tempestade de vento no lago, e o barco enchia-se de água, estando eles em perigo. E, chegando-se a ele, o despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, estamos perecendo. E ele, levantando-se, repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança”. Ele deixou todos sem compreender, de onde vinha tanto poder? Como era possível a um homem comum realizar tais feitos, ungir de poder seus apóstolos e pedir-lhes que tivessem fé para que pudessem também realizar feitos como este e tantos outros?
Falar de Jesus é um grande desafio, afinal nada do que foi dito até aqui é uma grande novidade para ninguém, porém o que diferencia esta história de qualquer outra, para mim, somente para mim, é a minha relação com ele. A minha história com Jesus, e assim deve ser com cada um de nós.

Nossas experiências e confidências com ele são únicas e compreendidas apenas por nós mesmos. Nas noites frias e tristes, é nas nossas lágrimas que buscamos alento em suas palavras, e nas horas de alegria é a ele que agradecemos e dizemos “amém”.
Nada, nem ninguém pode interferir nessa relação e tentar compreender o que de fato se passa no nosso coração.

Eu moro ao lado de um templo, e nos meus momentos de angústia e de gratidão sempre me sento em frente a sua figura iluminada, em frente das chagas de seu coração, nas mãos, e “converso” com ele. Abro meu coração e, na delicadeza de seu olhar, entrego todos os meus anseios e todas as minhas necessidades. Com seus olhos solidários, ele “me olha” e é capaz de me entender. Lá, sentada por alguns minutos, ou mesmo por horas, eu esqueço que o mundo existe ao meu redor, volto no tempo e posso sentir todo calor daqueles momentos de intensidade que Jesus viveu quando esteve entre nós. Ele chegou aqui e por aqui ficou.

Sua memória estará entre os homens pela eternidade, pois seu exemplo de generosidade superou a capacidade da época, a ciência, a filosofia, a religião, nada poderá explicar com precisão realmente como se deu sua missão.

Assim, a nós seres humanos imperfeitos e comuns, resta apenas continuar treinando e tentando chegar a um milímetro da perfeição deste Mestre que veio para modificar a história da humanidade e nos transformar em alguém melhor, mais completos, mais íntegros e mais verdadeiros.

Houve muitos outros líderes importantes antes e depois de Jesus Cristo, mas, para mim, seu exemplo de amor e caridade são a maior de todas as referências. Sigo forte no propósito de refletir e tentar colocar em prática seus “ensinamentos”, e percebo a cada dia que sou apenas uma sementinha, um grãozinho de mostarda perdido nessa imensidão que é Gaia, nossa mãe Terra, mas também percebi que, como uma gota neste imenso oceano, posso tocar corações e fazer a diferença na vida daqueles que passam por mim. Posso deixar um pouquinho de mim e levar um pouquinho de cada um, assim como fez Jesus, e não existe alegria maior que essa, saber que nossa passagem por aqui não foi em vão, que deixamos uma marca, uma pequena história escrita, que podemos também ser exemplo na vida das pessoas que convivem conosco e levar a elas algum alento e alguma esperança.

Se render aos propósitos e desígnios de Jesus Cristo, o Mestre, o Salvador, o caminho, a verdade e a fé me enche de ânimo e coragem.

Mesmo sabendo da minha imperfeita condição, eu sigo em frente, de cabeça erguida, confiante, em nenhum momento duvidando de sua existência, de seus feitos e de sua estada aqui.

Não cabe a nós duvidar de que é possível continuar caminhando e buscando melhoras mesmo diante do egoísmo e de toda a maldade do ser humano que tem nos levado a miséria material e emocional; mas diante de tanta escuridão, lá está a figura de Jesus, olhar manso e amoroso, brilhante como uma luz ofuscante que nos conduz e nos carrega no colo nos nossos momentos de tristeza e fraqueza.

E o maior de todos os ensinamentos?

São tantos, mas eu gosto deste: “amar o próximo como a si mesmo”.
Vamos continuar acreditando num mundo melhor, tentando sempre colocar esse e tantos outros ensinamentos deixados por Jesus Cristo em prática!

Você também pode gostar:

Meu nome é Patricia, mas escrevo para vocês amorosamente com o nome Madaleine, e minha missão é aprender sempre!

Sigamos!

Sobre o autor

Madaleine

Minha formação acadêmica é em pedagogia. Atuo na área de educação há quase trinta anos, fiz diversos cursos e especializações, além de pós-graduação em supervisão escolar e letramento. Atuei quase 15 no ensino fundamental, desde sempre na educação infantil e na maioria do tempo na escola pública municipal da Cidade de São Paulo. Sempre em busca de aperfeiçoamento profissional, passo ainda a maior parte do tempo estudando — e não por acaso me apaixonei pelo estudo da espiritualidade. Frequentei um espaço durante muitos anos, onde fui acolhida e atendida. Mais tarde passei a ser estudante, depois trabalhadora. A cada dia conheço novas descobertas, além de me encantar ainda mais pelo tema e me aprofundar na espiritualidade como um todo. Eu me interesso também por temas como literatura, filosofia e ciências, além do amor, que, na minha opinião, nunca sai de moda. Mãe de um casal de adolescentes, sigo aprendendo a lidar com os desafios dessa fase tão linda e cheia de descobertas. Eu me considero uma pessoa amada e feliz. Minha missão é aprender e progredir sempre! Fé é uma palavra que gosto sempre de usar. Acreditar e ter esperança em dias melhores é minha meta.
Gratidão 🙏🏻

Email:patypatymarinho@gmail.com

Facebook; Patricia S. Marinho