Prazer é uma palavrinha curta, forte e passível de inúmeras interpretações. Seu significado dado pelos dicionários é simplesmente “uma sensação de bem-estar”. Biologicamente, o prazer é uma resposta do organismo ou da mente e indica que nossas ações estão sendo benéficas para a nossa saúde. Tudo isso para dizer que, sim, mulher, você tem mais do que direito de sentir prazer, pois isso significa qualidade de vida. Portanto, passou mesmo da hora de nossa sociedade deixar os tabus de lado quando o assunto é masturbação, especialmente com relação a masturbação feminina.
O tabu sobre esse processo natural de autoconhecimento e prazer da mulher tem diversas raízes. Começa antigamente, no início da Era Comum, quando a mulher e a sexualidade receberam o título de pecado e o sexo foi colocado como um ato voltado apenas para a sobrevivência da espécie humana. Desde os nossos primeiros séculos de história, muito se desenvolveu na medicina, inclusive a própria noção da relação entre sexualidade e saúde, reforçada pelos estudos da psique. No entanto, quando olhamos para o universo feminino, ainda existe certo grau de complexidade.
Ele começa pelo próprio desconhecimento sobre o corpo da mulher, nesse caso, o clitóris, ponte orgânica para o prazer feminino e que é alvo até de mutilações, como explica a historiadora Palmira Margarida em seu artigo “Moça, seu clitóris é Poder!”. Isso ocorre por antigas conclusões inadequadas que apontavam que ele não tinha uma utilidade no corpo.
No Ocidente, a prática caiu por volta de 1920, o que, no entanto, não quer dizer que parou totalmente. O Sudão, por exemplo, aprovou uma lei que proíbe tal prática no último dia 22 de abril. Esses dados mostram que a caminhada pelo prazer feminino é uma causa recente e está pulsando em nossa sociedade.
A sexualidade e o sagrado
Historicamente, existem registros sobre a masturbação em praticamente todas as civilizações pré-cristãs. Em 2010, por exemplo, a revista “Arqueologia Mexicana” divulgou uma série de ensaios sobre os costumes sexuais das civilizações pré-colombianas, que apontam como a sexualidade estava relacionada às crenças de fertilidade da terra. A própria masturbação era uma dessas ferramentas, utilizada inclusive em rituais coletivos – um outro paradigma quase estranho perto do excesso de tabus que a sociedade mais tarde veio a criar.
A visão de sexualidade sagrada contida nos saberes milenares, como o tantra ou a própria cultura matrilinear, é de grande ajuda para tranquilizar a mente das mulheres contemporâneas. O útero feminino é correspondente ao útero da Mãe Terra e a sua capacidade reprodutiva é sagrada como todas as outras formas de manifestação da criação.
Nesse sentido, amor e sexualidade não se dividem, pois são parte de uma mesma dança. Fora isso, o equilíbrio da energia sexual é primordial para a expansão da consciência, permitindo que a energia vital do ser humano (que pode ser vista como a própria libido) flua pelos chakras e meridianos do corpo. Essa é uma visão integrativa, que não temos tanto contato na cultura ocidental, mas que possui registros milenares da medicina védica e chinesa.
Quando a natureza e todos os seres integrantes dela são vistos de forma sacra, nenhuma das nossas características é colocada na sombra. O ser humano encarna um corpo pleno, ganha esse templo de presente para viver a experiência na Terra e todas as suas partes são vitais para a saúde, o bem-estar e a expansão da consciência.
A masturbação feminina
Como começar essa relação de naturalidade com a masturbação? Primeiramente, respeitando seu emocional. Está tudo bem se os tabus ainda têm forte influência em sua vida: todas as mulheres passaram e ainda passam por isso de alguma forma. Se preciso, busque auxílio terapêutico para se entender em meio a essas crenças que chegaram a você. É importante compreender como o prazer está atrelado ao poder pessoal: o orgasmo faz bem para a saúde, libera hormônios de bem-estar, de felicidade e de confiança, alivia estresse, dores de cabeça e até mesmo tensões musculares. Um próximo passo importante é conhecer seu corpo. Utilize um espelho para conhecer sua genitália, toque nela, conheça cada detalhe. Isso é puro autocuidado.
Agora, com tudo às claras, simplesmente sinta seu próprio toque. Entenda como gosta de ser tocada, em que nível de pressão, velocidade, umidade, enfim, permita-se. Vale utilizar os dedos, acessórios, colocar uma música, dançar, enfim, descubra de que forma ter atração por si mesma para que essa prática se torne natural e, de fato, prazerosa. O clitóris é o órgão do prazer, então vivencie e entenda na prática a sua própria força.
A partir daí, você pode testar a autopenetração (com os dedos ou com acessórios) para compreender a melhor forma de essa movimentação atender aos reflexos do seu corpo.
No mercado de sex shop, existem diversos acessórios que auxiliam essa autodescoberta. As lojas têm diversos tipos de masturbadores, vibradores de inúmeros formatos (coelhinho, pétalas, bullets), géis lubrificantes que aquecem e esfriam, entre outras brincadeiras. A experiência é o segredo para entender o que agrada ou não – e a prática leva a perfeição. Quanto mais orgasmos você tiver, melhor os orgasmos ficam.
O prazer com amparo científico
A bandeira do prazer feminino, hoje, conta com diversos aliados em diversas partes do mundo – ainda bem! No Brasil, temos o exemplo do Prazerela, núcleo de sexualidade positiva fundado pela psicanalista Mariana Stock, que distribui diversos cursos sobre sexualidade, inclusive sobre autoestimulação para que as mulheres possam se descobrir e desenvolver seu potencial de deleitar consigo mesmas.
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Outra fonte de estudos interessante é o movimento OMGyes. A iniciativa une diversos profissionais do campo científico e desenvolve pesquisas e conteúdos sobre o prazer feminino, que tanto carece de fontes e até nomenclaturas. Seu propósito é desmistificar os inúmeros tabus ainda existentes em nossa sociedade e contribuir para uma linha científica séria sobre esse universo. É possível comprar o acesso ao conteúdo pelo site para adquirir a pesquisa e os diversos vídeos que apresentam os resultados sobre como mulheres e homens de todo o mundo sentem prazer. Um material bastante valioso para aquecer todo tipo de relacionamento. Conforme eles explicam, casais que exploram constantemente novas maneiras de aumentar o prazer têm 5 vezes mais chances de serem felizes nos seus relacionamentos e 12 vezes mais chances de serem sexualmente satisfeitos.
Conclusão? Menos silêncio e mais conversa sobre o prazer, a sexualidade, a masturbação e toda a caverna sagrada feminina, pois esse conhecimento é mais do que necessário para a saúde mental e física da humanidade.