Maternidade não só rima com insanidade, ela é um viver insano.
Quem de vocês for mãe entenderá o que estou dizendo, quem não for conseguirá apenas ter uma ideia de que loucura é essa chamada maternidade, porém não conseguirá entender de fato o que é um viver insano, exaustivo e maravilhoso ao mesmo tempo.
Só após me tornar mãe fui capaz de entender o tamanho daquela famosa frase “ser mãe é padecer no paraíso”. E olha que ela é direta, franca e não tem nenhum vírgula que sugira erros de leituras e entendimentos subjetivos.
Vivemos o paraíso de conquistas diárias, de sorrisos lindos, de descobertas de palavras, brincadeiras, de canções singelas de ninar e de brincar. Há o paraíso daquele olhar só seu, daquele cheiro que ninguém mais no mundo tem, das dobrinhas, covinhas, mãozinhas e pezinhos. São muitos os paraísos em um ser chamado filho e numa experiência única chamada maternidade.
No entanto, o padecer existe e consiste como uma bigorna em nossa cabeça e nossos ombros. Padecemos de sono, de cansaço, de não saber o que fazer, de tantos conselhos do que é certo e errado, de falta de tempo, de falta de espaço, de excesso de choro, de fome, de colo, de birra, de fralda, de cocô, xixi e tantas outras coisas.
A maternidade ainda é cercada de mitos que só atrapalham exigindo uma disposição insana das mães, de um estar bem mentiroso e uma completude que nos suga até a última gota. Melhor seria se pudéssemos dizer sem medo de julgamentos e de olhares tortos que sim, é uma delícia, mas cansa para CARAMBA!
Sim! É um êxtase, mas cheio de altos e baixos. Sim! É uma completude, mas carregada de uma incompletude que teremos que aprender a lidar com o passar dos anos dos nossos filhos.
Não sei se posso dizer que ser mãe é a coisa mais difícil de ser, mas se não for com certeza é uma das. São tantos os cálculos e as questões, tantas tentativas e erros, tanto não saber misturado com saberes pré-concebidos da sociedade, da família e de nossas histórias vividas, que a probabilidade de fazer besteira é bem maior do que a de criar de maneira legal um filho.
Porém, que fique claro que, por mais difícil que seja, vale MUITO a pena. É divino e maravilhoso!!!!!!! (Está vendo que loucura é isso? Como é possível ser difícil e maravilhoso ao mesmo tempo?)
Agora, para além de todas essas questões mais práticas e físicas do dia a dia que citei, existem outras tão importantes quanto. O que transmitimos aos nossos filhos? O que apresentamos como possibilidades? Que mundo os fazemos enxergar? Que coisas ensinamos ser importantes? Nossa! Essa transmissão, para mim, é a mais enlouquecedora e instigante da maternidade.
Porque é um eterno e diário convite ao novo. Um eterno e diário convite à dúvida e ao questionamento do que temos como certo.
Desde que me tornei mãe me pergunto – e agora? Como ensinar o que é Deus, se existem várias maneiras de entendê-lo? Como não encerrá-lo em verdades minhas quando ele tem a vida inteira para construir as suas? E pior, ou melhor, vai saber, como dizer que verdades muitas vezes são correntes que nos limitam e melhor mesmo é estarmos abertos às muitas possibilidades?
Como mostrar toda a geografia do mundo e as diversidades culturais se o país em que ele vive é o que mais mata homossexuais, que se diz sem preconceito racial e no entanto serão poucos os amiguinhos negros nas escolas em que ele estudar?
O tempo todo preciso colocar em xeque o que acho certo, minha postura diante de fatos, minhas falas e caras ao ver certas coisas. Minhas crenças, minha história familiar e os modos de relacionamento que foram criados. Revisito constantemente minha infância, reencontro um pai e uma mãe tão diferentes dos que tenho e dos que idealizava/imaginava ter. E isso dá um trabalho lascado.
Maternidade e insanidade são sinônimos, pois é o lugar onde somos sem ser. Onde construímos para nos desconstruir. Onde amamos para perceber que amar é muito mais do que amávamos. Um lugar em que criamos um lar para que nossos filhos possam partir.
Maternidade e insanidade são sinônimos porque alcançam o mais puro e dolorido de uma experiência a dois e não é possível acessar esses dois polos extremos com precisão, razão e sem paixão.
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Obs.: falo em maternidade porque sou mãe, mas acredito que paternidade também é uma loucura assim deliciosa e difícil. E faço aqui um pedido: compartilhem nos comentários pais que me leem como é para vocês essa experiência?