Você já ouviu falar da Medicina Ayurveda? Para saber um pouco mais sobre o tema, conversamos com o professor Arjun Das, que trabalha nessa área e dá palestras sobre o assunto. Nesta entrevista, desenvolvida em 3 partes, você vai compreender um pouco da história da medicina Ayurveda e seus benefícios. Boa leitura.
Eu Sem Fronteiras: O que é medicina Ayurveda ?
Segundo Arjun Das, Ayurveda é um sistema originário da Índia, que nasceu no momento em que a própria cultura e a própria filosofia, então chamada filosofia Ayurvédica, florescia no país. Arjun diz que Ayurveda é um sistema que traz orientações sobre como viver.
A palavra Ayurveda, na sua tradução literal, significa ciência ou conhecimento da vida. Ela vai da vida humana à vida botânica, vegetal, animal. De certa maneira, a Ayurveda pode contemplar toda e qualquer forma de manifestação de vida.
Arjun explica que trata-se de um sistema que traz uma poesia em sua origem, que está instruindo a humanidade e todos os seres sobre como viver em harmonia com o meio ambiente. O sistema Ayurvédico provavelmente foi a primeira compilação, ou primeiro registro de uma abordagem verdadeiramente ecológica, de uma premissa de cidadania absoluta no sentido de uma convivência pacífica de todos os seres.
Ayurveda e os cinco elementos materiais
Quando a Ayurveda estruturou a visão dos cinco elementos materiais para o sistema Ayurvédico, a natureza foi constituída a partir de cinco elementos básicos essenciais, fundamentais e, de certa forma, presentes em toda e qualquer manifestação: Éter, Ar, Fogo, Água e Terra.
Conforme Arjun, quando esses cinco elementos são vistos de forma predominantemente fria, quente, liquida, sólida ou gasosa, nós estamos falando de uma abordagem milenar do Ayurveda, numa perspectiva química sobre como é que a criação se deu.
Há harmonia imensa com a própria aposta ou interpretação da própria ciência, e da ciência química em especial. É nesse momento que falamos da transição do sutil para o denso, dos fenômenos da gravidade, do gasoso, do liquido, do sólido, das transferências de temperatura e do extremo frio e calor. É muito interessante observar como este sistema é essencialmente filosófico e espiritual, e não necessariamente religioso.
O olhar que temos para a Índia hoje faz com que associemos este conhecimento com algum caminho que liga à religiosidade Hindu, mas na realidade o Ayurveda nunca teve nenhuma conexão obrigatória com este ponto de partida da fé.
Quando falamos do Ayurveda em si, pensamos nesta filosofia como um poema que contempla a vida, que tenta descrever os elementos que animam o teatro da existência material. Quando se trata da essência de vitalidade, de força e de brilho desse sistema, então nós falamos de uma questão mais sutil ainda.
É muito interessante observar que, mesmo a Ayurveda estudando elementos materiais e biotipos de constituição física sobre cada pessoa, no fundo a grande busca desse sistema é observar onde que está essa vitalidade e este estado de contentamento. Atualmente, a proposta chamada de medicina Ayuvédica é utilizar esse sistema originariamente de forma filosófica, poética, sutil, contemplativa e colher algo desta observação, desse olhar do poeta, nessa linhagem de mestres, de discípulos em toda a existência da historia da Índia.
Quando você trabalha com esses pontos de vitalidade, de metabolismo e de imunidade total, você está trabalhando com os pilares essenciais desse sistema que começa dialogar com o homem, para promover vida.
Logo, promover vitalidade para esse ser que vive e não sobrevive é incrível, e você pode abrir um espaço imenso para essa sutil e encantadora abordagem do sistema Ayuvédico em relação à vida espiritual. Porque quando nós falamos de medicina, pressupõe-se uma interação médico-paciente, tentando aliviar o paciente de algum quadro de sofrimento que esteja obstruindo uma fisiologia plena e o funcionamento correto desejado para uma determinada parte do corpo.
Por trás desse esforço da medicina Ayurvédica, existem sempre o olhar e o foco preservado em aliviar esse externo sofrimento.
Essa é a grande qualidade desse sistema Indiano que é uma semente para uma cultura da saúde e de bens. O foco é no crescimento e na plenitude do espírito. É no intervalo entre a conquista da saúde e o desejo de conquistá-la que acontece a plenitude de todo o processo terapêutico, que vai utilizar de vários recursos.
Medicina Ayurvédica na alimentação
Esse sistema traz o conhecimento do melhor programa alimentar, que vai preservar a vitalidade do seu corpo, respeitando a sua constituição e potencializando sua natural força e entusiasmo.
É necessário usar as ervas medicinais em várias formas, como preparados, formulações, pós-pastas, óleos vegetais, hebraizados e preparações medicamentosas.
Trata-se de um sistema que busca aliviar o organismo da presença de toxinas, para devolver ao corpo o tônus e a excelência de sua função. Essas substâncias são geradas a partir do momento que o indivíduo tem uma atividade alimentar incompatível.
Mas o que seria uma alimentação incompatível? Isso acontece quando a pessoa consome o que não está adequado para sua constituição, quando ela se alimenta de uma forma inadequada ou além da necessidade do seu corpo.
Assim, a ciência Ayuvédica também avançou e começou a perceber qual é o aspecto e as características de um alimento que promove vida e amplia a capacidade de potência do estado de consciência.
É interessante observar como, desde os primeiros acessos às escrituras e aos textos originários do Ayurveda, já havia uma relação profunda entre o que se come e o quadro de vitalidade, de acuidade sensorial, de potência intelectual ou de um quadro psicossomático associado. Por exemplo, existe um grau de contentamento produzido por alimentos doces e um grau de despertar e de vigilância sensorial ao consumir alimentos mais ácidos ou azedos.
É superinteressante notar que os textos antigos já falavam dessa relação entre o alimento e sua capacidade de potencializar funções dentro do ambiente mental. Segundo Arjun Das, a ciência Ayuvédica identifica qual é sua natureza. Ela é definida no seu processo de gestação e ao longo de sua vida. Dessa forma, ao nascer, essa pessoa seria cunhada com um biotipo, que seria um padrão constitucional que fala sobre sua verdadeira força, potência e característica básica essencial.
Doshas
Doshas são os termos usados para definir se a pessoa seria de um grupo VATA, rico em ar e vento, de um grupo PITA, rico em alimento fogo, ou de um grupo CAFÃ, rico nos alimentos água ou terra.
É possível observar que os Doshas organizam a natureza em três biotipos. Isso não serve simplesmente para excluir. Na verdade, é criada uma totalidade a partir do reconhecimento da singularidade, que contempla a beleza da diversidade a partir da unidade representada por cada um desses biotipos.
Eles ajudam a entender o que está por trás da determinação constitucional de uma pessoa, a identificar qual é esse sopro, esse alento vital que pulsa e que anima aquele individuo.
Auxilia também a identificar sua potência maior, sua competência, sua grande forma de expressão, reconhecendo suas habilidades e limites. Em cima disso, o VATA é relacionado com o mundo, orientando a pessoa sobre o que fazer para preservar sua força e não perder tanto nessa interação com o meio, além de utilizar o próprio meio como fonte segura e qualificada, de renovação de vitalidade.
Isso será feito a partir de um tripé, que é um estilo de vida, que lida com o tempo, a cultura e o contexto de suas necessidades, metas e adversidades apresentadas fora de seu controle.
Esse estilo de vida se relaciona com a sociedade, com o seu tempo e com a atividade física que, produzindo força em seu organismo, circula fluídos e nutrientes, facilitando a eliminação e a excreção dentro do seu próprio sistema fisiológico.
A atividade física é incrível, porque favorece a eliminação natural e espontânea de toxinas ao gerar calor, mobilizar fluidos, tonificar, alongar, flexibiliza e oxigenar o corpo.
Com o movimento é possível fechar ou interromper um ciclo de estagnação, que é sempre favorável para o aparecimento de toxinas no organismo. Esta estagnação pode ser uma letargia, sedentarismo ou apatia (mental, emocional ou intelectual), caracterizando um desinteresse psíquico, por qualquer questão.
Quando a atividade física é inserida no dia a dia, você circula essa energia vital, essa força, esse fluxo e então, espontaneamente, o organismo vai encontrando o seu caminho.
Cada indivíduo deve decidir como será a intensidade, qualidade, características, limites e preferência de exercícios. Tudo deve ser feito em harmonia e compatibilidade com o seu Dosha, biotipo, estilo de vida e alimentação.
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Não existe milagre fora desses três pontos O Ayurveda entra para viabilizar a potência desse saber, partindo da informação mais importante para a condução do seu dia a dia mais saudável, que é: quem é você, no sentido VATA, PITO, CAFÃ e qual é sua constituição.
Confira as próximas partes dessa entrevista: parte 2 e parte 3.
- Entrevista concedida a Angélica Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras.