Em tempos em que a correria é o que dá tom à nossa rotina e executar diversas tarefas ao mesmo tempo é uma prática comum, a concentração e o foco são verdadeiras quimeras. Segundo um estudo divulgado em 2010 pela Universidade Harvard na revista Science, nossas mentes costumam divagar 46,9% do tempo. E isso tem um custo emocional, pois uma mente dispersa é uma mente infeliz, segundo os psicólogos que conduziram essa pesquisa.
Ultimamente não temos conseguido manter nosso estado de consciência em que corpo e mente estejam alinhados e em sintonia. Estamos fazendo as coisas no piloto automático, inclusive em atividades que supostamente deveriam nos proporcionar prazer e bem-estar. O sexo é uma dessas atividades.
Muitas vezes não dispomos de tempo para a dedicação como casal, seja pela natureza corrida da vida moderna, seja pela presença dos filhos, que demandam cuidados. E isso também interfere nos momentos de intimidade, acabando com a qualidade de vida a dois. É aí que entra o mindfulness.
Decifrando o conceito
Também conhecido como psicologia da atenção plena, o mindfulness consiste em um conjunto de práticas que leva a um estado mental de controle sobre a aptidão para se concentrar nas sensações percebidas no presente. Ou seja, foco no aqui e no agora, abandonando as distrações e os pensamentos externos que podem nos levar para outro tempo (passado ou futuro).
Trata-se de uma série de exercícios que conectam ação e pensamento e que exigem muita dedicação por parte de cada praticante. Mas toda essa autorregulação é gratificante, tendo em vista os benefícios conquistados. Entre as benesses dessa técnica, destacamos:
– apoio no desenvolvimento da inteligência emocional;
– aumento da capacidade de concentração;
– redução da insônia;
– aperfeiçoamento do autoconhecimento;
– controle da ansiedade e redução do estresse;
– melhoramento da memória;
– redução dos pensamentos negativos.
Como aplicar o mindfulness
Procure aplicar a técnica em atividades rotineiras, principalmente naquelas em que você age no piloto automático. Por exemplo: preste atenção na sua respiração (esse é um excelente exercício de autoconexão); exercite a sua habilidade de ouvir (não seja aquela pessoa que espera a sua vez de falar).
Assimile o que o outro está dizendo); perceba tudo ao seu redor, das coisas mais simples, como levantar-se da cama, ou o ambiente onde você está (veja os detalhes); procure analisar a atividade que você está praticando no momento (por exemplo, enquanto você come, em vez de pensar em algo fora desse momento, tente sentir o ato de comer, a mastigação, o cheiro e as texturas. Não viaje para longe do ato momentâneo).
Você também pode praticar meditação e técnicas de respiração pura e simplesmente. Para isso, escolha um local tranquilo e adequado para essa prática.
E no sexo?
Hoje em dia, falta tempo para tudo. Para o sex também, então ele acaba sendo visto como um mero alívio de tensão. Mas ele é mais do que isso. É o encontro de dois corpos trocando energias, envolvendo emoções, sentimentos e vidas. Se as nossas energias não estão boas, a troca será carente.
Uma vez que nosso corpo é nossa casa, não podemos fazer uso dele de forma banal. Precisamos experimentar o sexo de forma plena. Entendendo as extensões de cada corpo.
A falta de atenção torna os corpos desconexos. Com o mindfulness, a atenção estará voltada ao momento do sexo, à textura dos corpos e às sensações percebidas durante o ato.
Antes
Viva as preliminares. Aprecie cada carícia, cada toque e cada respiração. O calor do corpo do outro. Conecte-se com o seu parceiro por meio do beijo. Feche os olhos, sinta a textura e a temperatura dos lábios.
Use todos os sentidos: olhe no olho, toque o corpo, sinta o cheiro, ouça a respiração. Concentre-se em cada movimento e em cada ação. Não pense em mais nada além de vocês dois se beijando e se sentindo nesse momento.
Durante
Preste atenção em cada ato e em cada gesto. Perceba cada sensação, desde as mãos tocando ou quando os corpos se encontram. No momento do ato sexual em si, preste atenção na sua respiração e em como ela se altera quando você está prestes a atingir o orgasmo.
Nesse momento, preste atenção no cheiro, no gosto e nos sons. Não se prive, não se sinta inibido nem julgue nada. Apenas observe todos os movimentos, as sensações, procure identificar suas reações a cada um deles. Isso também ajuda no autoconhecimento e melhora muito a qualidade do sexo no relacionamento.
Depois
É importante manter a conexão vibrando depois do sexo. Mantenha-se abraçado ao seu par e sinta o calor dos seus corpos unidos, as energias se acalmando, a respiração mais lenta e voltando ao normal e a temperatura se estabilizando.
É tudo uma questão de identificar e de se concentrar nas sensações, sem pensar no boleto que vai vencer, se você desligou a luz daquele cômodo ou se no dia seguinte tem um relatório para entregar.
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O problema nas relações, como um todo – inclusive nas relações com a gente mesmo –, muitas vezes reside no fato de que não estamos ali de corpo e alma vivendo aquele instante.
Devemos viver o agora sem nos amarrarmos ao passado e ou nos preocuparmos com o futuro, assim como bem escreveu o poeta romano Horácio, em uma de suas odes: “Carpe diem, quam minimum credula postero” (“Aproveite o momento e confie o mínimo possível no amanhã”).