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Minha Lia e eu: a intensa relação de um homem com sua liberdade

A silhueta de um homem está ao ar livre na frente de uma cerca. Ele observa o ambiente de natureza. A luz do sol reflete forte ao fundo.
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A relação entre um homem e sua liberdade é personificada pela figura de “Lia”, que simboliza a busca por autonomia e autenticidade. Ela atua como força protetora, alertando contra ameaças à liberdade e incentivando a individualidade. O desafio está em equilibrar essa busca com o respeito aos outros. O texto é uma reflexão sobre a importância e os paradoxos da liberdade pessoal.

A Lia que habita em mim é muito mais do que um simples conceito; ela é a personificação da minha busca incessante por liberdade, independência e autonomia, numa relação que, ao mesmo tempo, me coloca como senhor e escravo. Desde cedo, essa força interior começou a moldar minha vida, guiando minhas escolhas e definindo minha relação com o mundo ao meu redor. Essa profunda conexão é evidenciada em cada pensamento, ação ou objetivo que se manifeste em mim, nos mais diferentes aspectos da minha existência.

Ela deixa claro não aceitar que absolutamente nada se interponha entre mim e ela. Essa certeza se coloca sempre à frente de cada decisão que tomo, de cada escolha do cotidiano, como se todo o resto perdesse o sentido se eu não respeitasse essa regra. A liberdade é a essência da minha identidade, e a Lia me lembra de modo incessante que devo priorizá-la acima de tudo, com uma devoção que transforma minha independência intelectual numa base sólida para minha autoafirmação.

A minha Lia, como qualquer mulher ciumenta, fica me alertando sobre qualquer coisa que ameace minha liberdade. Sempre que sinto que algo ou alguém pode restringir meu espaço, a Lia cresce em sua autoridade, levantando barreiras e me alertando sobre os perigos de uma entrega excessiva. Essa vigilância dela me chega em forma de uma reação instantânea, como uma ordem imperiosa partindo do meu amor-próprio e bem acima do que eu deva dedicar a qualquer outra coisa, uma espécie de lembrete de que minha autonomia deve ser preservada a todo custo.

A Lia inclusive me cobra romper com todas as convenções. Ela me incentiva a questionar normas sociais e a buscar meu próprio caminho, mesmo que isso signifique desafiar expectativas. Essa rebeldia brota de dentro como uma expressão da minha autenticidade, um chamado para viver de acordo com minhas próprias regras, a reagir contra crenças pré-fabricadas e convenções que assumam configuração de trilhos, em lugar de trilhas, que me permitem mudar o rumo a qualquer momento que o decida.

Assim sendo, a Lia não admite minha entrega total a qualquer crença ou pessoa. Esse aspecto se impõe como um valor crucial, pois me impede de me “diluir” em relações ou ideologias que possam comprometer minha essência. Parece que a Lia me instiga a manter a individualidade, mesmo diante de conexões mais profundas que a coloquem em segundo plano, ou principalmente quando começa a se mostrar dessa forma. Ela chega a condicionar minhas respostas comportamentais oferecidas às pessoas, onde cada interação é filtrada por essa lente de liberdade. Preciso daí sentir que ajo de forma autêntica, evitando a conformidade que poderia me aprisionar. A Lia me cobra ser verdadeiro o tempo inteiro, tanto comigo quanto com os outros, até o ponto de se sobrepor ao prazer, se necessário for.

Uma mulher que veste uma blusa rosa está ao ar livre. Ela sorri e levanta os dois braços para trás. Ela sente a brisa no rosto. Ao fundo, há um ambiente de natureza desfocado.
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Em compensação, ela me recompensa com uma plenitude e prazer quase absolutos em cada pequena coisa que eu faça sozinho, como se para me convencer de que não preciso de mais nada. Essas pequenas vitórias são celebradas como “milestones” de minha autonomia, reforçando a ideia de que sou suficiente por mim mesmo, de que não preciso ser “metade da laranja”, mas uma laranja inteira, mesmo que algumas vezes não se mostre tão doce quando se esperava, mas antes me lembrando do benefício maior em relação a mim mesmo.

A Lia, no entanto, é uma força que preciso conter para não ferir pessoas por “excesso de zelo” em relação ao meu próprio estado de ser. Esse zelo, embora surja do mesmo lugar de onde vem o amor, pode se tornar uma armadilha se não for controlado, ou me manter afastado de vivências relevantes, ainda que como aprendizado. A Lia me cobra equilibrar a proteção da minha liberdade com a consideração e respeito pelos sentimentos alheios, mas nem sempre esse equilíbrio consegue ser mantido de forma satisfatória, e então sei que ela sempre sairá vencedora.

No seu lado mais contundente, a Lia me coloca em pé de guerra contra qualquer sinal de domínio, cobrança ou autoritarismo. Ela atua como uma voz interna que se levanta automática e enfaticamente contra injustiças ou opressão, mesmo subliminar, instigando-me a lutar por um mundo onde a liberdade seja respeitada e nossas idiossincrasias se rebelem contra a “moldagem” que nos tentam impor. Essa luta, eu o sei bem, é uma extensão da minha própria busca por autonomia.

Outra coisa que aprendi com minha Lia é que ela adora se colocar como fonte de plenitude levada às mínimas coisas que faço, como se quisesse me lembrar a todo instante: “Eu te basto!” E com essa afirmação consegue uma reação instantânea em mim, quando qualquer sentimento “alienígena” mais forte não se coloque alinhado com minhas premissas libertárias. Parece querer sempre me lembrar que a verdadeira felicidade deve ser buscada dentro de mim, e não em fatores externos, independente de quais sejam, quando cada momento é valorizado e consiga sentir alegria até nas menores conquistas.

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Por fim, a minha Lia não aceita que parceiros amorosos se coloquem como “rivais” dela. Essa dinâmica se mostra vital para manter a saúde das minhas relações e a dosagem adequada para eventuais “desvios de rota”, ocasiões em que não faltará um “deadline” aceitável para minha “retomada de consciência”. E é quando se mostra enfaticamente determinada a restabelecer o equilíbrio entre a doação daquele momento e a minha liberdade. Irá me cobrar que eu estabeleça limites claros e inequívocos de modo a garantir que a liberdade e a autonomia permaneçam como foco central de todas as minhas interações.

Enfim, a relação entre mim e a minha Lia é complexa, e muitas vezes sujeita a incompreensões por parte de quem esteja do outro lado e se perceba “colocada em segundo plano”, tomada pelo sentimento de que algo parece ter mais ascensão sobre mim do que ela. E esse é o maior desafio na minha relação com essa força vital que me impulsiona a viver plenamente, a desafiar normas e a valorizar minha própria liberdade acima de tudo. Nada aponta para que, ao longo da vida, a Lia deixe de ser meu norte, minha sustentação interna, e deixe de me lembrar da importância de ser fiel a mim mesmo e à minha eterna busca por autonomia e plenitude.

Sobre o autor

Luiz Roberto Bodstein

Formado pela Universidade Federal Fluminense e pós-graduado em docência do ensino superior pela Universidade Cândido Mendes. Ocupou vários cargos executivos em empresas como Trimens Consultores, Boehringer do Brasil e Estaleiro Verolme. Consultor pelo Sebrae Nacional para planejamento estratégico e docente da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear (IBQN) para Sistemas de Gestão. Especializou-se em qualidade na educação (Penn State University, EUA) e desenvolvimento gerencial (London Human Resources Institute, Inglaterra). Atualmente é diretor da Ad Modum Soluções Corporativas, tendo publicado mais de 20 livros e desenvolvido inúmeros cursos organizacionais em suas diferentes áreas de atuação. Conferencista convidado por várias instituições de ensino superior, teve vários de seus artigos publicados em revistas especializadas e jornais de grande circulação, como “O Globo”, “Diário do Comércio” e “Jornal do Brasil”.

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