Eram poucas as palavras com as quais João Batista alcançava e punha em movimento as pessoas do seu tempo: “Mudai vosso sentido; o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3, 2). Essa mensagem continha tudo que podia preparar a virada dos tempos. O Batista percebia um entrelaçamento entre os acontecimentos espirituais e humanos. “Os Reinos dos Céus estão em movimento”, dizia. Essas palavras do professor e teólogo Gerhart Palmer, escritas em 1976, por ocasião da época de São João, me intrigam. O que queria dizer João com: “Mudai vosso sentido”?
O professor afirma que, com alguma atenção, é bem possível perceber que os “céus estão em movimento”, e, por isso, devemos “mudar nossos sentidos”, como advertia João Batista. A começar pela nossa percepção temporal, o tempo linearmente estabelecido, como o conhecíamos, não existe mais.
A aceleração e a multiplicidade de “agoras” é uma coisa que pode ser experienciada até mesmo por quem tem uma vida bucólica, no campo, longe da agitação dos grandes centros.
Palmer diz que, além da aceleração temporal, do movimento dos céus, temos muitos outros motivos para relacionar a fala de João no deserto com nossa experiência no contemporâneo. Segundo ele, estamos vivendo em um tempo no qual as almas humanas estão muito atarefadas e sempre ocupadas. Por isso, faz parte da nossa mudança de sentido atual criarmos espaços em nossas almas para o que está vindo, para devires ativos e, com isso, mantermo-nos saudáveis.
Esse espaço anímico pode ser entendido como consciência ampliada pelas dinâmicas do corpo. Nesse caso, como uma consciência viva, aquém e além do conteúdo mental, do entendimento. Ampliar nossa percepção para os não ditos, para as sensibilidades sutis, para as invisibilidades, no cotidiano mais simples ou nos grandes acontecimentos tem a ver com o que o teólogo chamou de perceber os “fatos que partem dos Reinos dos Céus”.
Os céus estão em movimento. E os seres humanos? Na cultura cristã, desde João Batista, há mais de dois mil anos, estamos sabendo, que para encontrarmos aquilo que pode nos preencher com vida e plenitude, devemos nos colocar em movimento.
Um movimento especial em múltiplas direções, que nos conecte com ao mundo com o corpo todo. Um movimento que permita o desabrochar de qualidades fortalecedoras e higienizadoras.
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João Batista ensinava que o tempo antigo está cumprido e que um novo tempo precisaria começar. Esse novo tempo está ao nosso alcance, ao vivenciarmos a época de João como um convite à ampliação perceptiva.