Autoconhecimento Psicanálise

Não é fácil ser pai

Escrito por Ana Cerqueira

Olá, queridos amigos, continuando na linha do último post, hoje vou falar sobre a trabalhosa tarefa de ser pai pela primeira vez.

Quando há uma gestação, o foco principal é a mãe e o filho que está por vir. Tudo gira em torno destes dois, não é? O pai, que já começa a se formar ali, inicia seu processo já sendo colocado de lado. Acredito que a natureza sábia já o prepara para o que vem por aí.

E começam as preocupações: financeiras, com o quarto, com a mãe do filho dele, com a saúde do bebê, etc. As inseguranças infantis retornam, os medos, as expectativas e um turbilhão de emoções tomam conta dele, muitas vezes confusas, perdidas, soltas. Outros sentem que a responsabilidade é grande demais, assustam-se e começam um processo de autocobrança, e muitas vezes não se sentem suficientemente bons para essa nova função. Outros, não conseguem lidar com tudo isso e vão embora. Não julgue, cada um sabe a dor que tem na sua vida, e cada um é responsável pelas escolhas e consequências delas. Vou falar sobre os que ficam e participam, lembrando que cada caso é um caso.

Homem barbudo sentado no chão, mexendo em um notebook, com cara de preocupado, ao lado de um bebê.

Na gravidez, conforme a barriga da mulher vai crescendo, a ansiedade aumenta, e traz junto um conflito: a vontade de ver aquele rosto e o medo de ver aquele rosto. Será que vai se parecer comigo? Será que vou dar conta de tudo isso? Será que fiz a coisa certa? Como cuidar de uma criança? Ansiedade e medo se fundem e a cabeça fica a mil.

Durante esse processo, o pai pode ter que lidar com enjoos da mulher, dores, idas e vindas ao hospital, exames, preocupações e mais preocupações. E ao mesmo tempo é maravilhoso e emocionante tudo isso.
E enfim chega o dia, coração na boca, a sensação de êxtase misturada com mais medo e mais expectativas que ele nem sabe explicar. E o pai fica lá, aflito, inseguro, feliz e nervoso, esperando o momento em que aquele ser vai invadir a sua vida e “fazer dele a pessoa mais feliz do mundo”. E é lindo, e perfeito. Até levar para casa…

E lá a coisa começa a apertar, na maioria das vezes. O choro, o cansaço físico, as dúvidas, o não saber o que fazer, não saber como cuidar, aquela coisinha tão pequena, como faz? E para piorar tudo a mulher está um caco. Ela não dorme, não come direito, está exausta, com dores no corpo e nos seios, e olha para ele desesperada, muitas vezes sentindo que não vai conseguir. E cabe a ele, que também pode sentir as mesmas coisas, ser forte, apoiar, dividir. Às vezes ele consegue fazer isso bem, às vezes não dá conta. E sofre.

Muitas vezes se sente abandonado pela esposa, pode até chegar a sentir ciúmes do filho, por aquele ser ter tomado tudo dele. Após o nascimento, a vida muda completamente, o tempo não é mais o mesmo, a liberdade não é a mesma, a mulher não é a mesma, e às vezes o casamento não é mais o mesmo. Há ainda aquele primeiro momento de separação, sem sexo, onde a mãe está totalmente dedicada à amamentação e cuidados, e ele sofre.

Homem e mulher brancos, sentados em um sofá branco, no meio de uma sala branca, ondem o homem segura um bebê.

Nunca mais a atenção que ele tinha da esposa será a mesma, geralmente não é. E para ele é trabalhoso entender isso, esse negócio de instinto, de aumentar os sentidos da mulher, ele sente que quando fala, ela não o ouve. Percebe que o bebê está em primeiro lugar e que perdeu seu espaço, sua casa, sua esposa. Em alguns momentos pode até sentir que perdeu tudo, e entrar em depressão, em casos mais graves.

Não pensem que é fácil para eles, também não é. A luta entre o amor pelo filho e a sensação de perder espaço em todos os sentidos é muito grande. É preciso que o casal se una, compreenda e principalmente conversem muito, pois com paciência as coisas vão aos poucos se encaixando. É preciso que cada um entenda o lado do outro, ou a relação pode se desgastar a ponto de nunca mais voltar a ser a mesma.

A maternidade é trabalhosa, como vimos, mas nunca se esqueça que do lado da mãe tem um pai, um ser que precisa também de amor, carinho, compreensão e principalmente, ser ouvido.

Um grande beijo no coração e até a próxima!


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Sobre o autor

Ana Cerqueira

Sou Psicanalista Clínico, com especialização em Métodos de Acesso Direto ao Inconsciente. Tenho graduação em Publicidade e pós-graduação em Comunicação Digital. Sou Autora do Blog “Amor pela Psicanálise”.

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