O cansaço pode ter vários motivos, mas, muitas vezes, não chegamos à verdadeira fonte do que o provoca.
Ao contrário do que muitos pensam, não estamos mais cansados porque fazemos mais coisas; na realidade pensamos mais e fazemos menos, estamos fatigados e preguiçosos devido a uma disfunção relacionada à ansiedade. Faltam-nos gatilhos para iniciar processos que buscam uma conclusão, fantasiamos as metas, mas não há força para iniciar.
Há, no nosso quotidiano, muitas situações malresolvidas, e isso nos causa um peso do qual não sabemos como nos livrar.
Estamos mais fatigados pois temos mais pendências para resolver. Há uma pandemia, e ela não está relacionada a vírus, bactérias nem a qualquer outro microrganismo: ela está relacionada com a mente e a não adaptação às mudanças abruptas que sofremos.
Foram milhares de anos para chegarmos a este presente, em que lê este texto, mas foram apenas centenas de anos, apenas um quase nada em nossa linha cronológica, para termos que nos adaptar a esta nova realidade tecnológica e social.
O ser humano está burlando a sua identidade genética e, neste momento, sofre as consequências disso.
Doutrinamos nosso organismo em milhares de anos a metas mais alcançáveis, predeterminadas. Hoje em dia buscamos metas que necessitam de muito mais energia mental para serem alcançadas.
Por consequência daquilo que nos propomos e do patamar que queremos alcançar, há uma defasagem entre energia e tempo que não conseguimos controlar.
A ansiedade mal aproveitada gera uma necessidade de conquista que supera a realidade do tempo que seria necessário para conquistar as coisas.
É como querer algo, ter que ter algo, mas, quando a resposta não é imediata, isso causa frustração e desânimo. Esse desânimo soma-se a mais desânimo, e juntos revelam a preguiça, que na realidade é uma fadiga, e ela, por sua vez, impede mais conquistas, trazendo mais desânimo.
Mas o ser humano é engenhoso e, mesmo inconscientemente, arranja caminhos de fuga. Muitas vezes esses caminhos não se revelam a melhor solução em longo prazo.
É nesse sentido que se buscam atalhos para chegar logo ao resultado, e esses atalhos criam um vício que faz a pessoa não ter forças, deixando, assim, de praticar.
A ansiedade mal aproveitada gera uma necessidade de recompensa imediata sem a necessidade do esforço. É um vício e/ou necessidade de dopamina, um pedido para aumentar a sua produção, já que não temos a mesma rotina do passado distante e estamos forçando a um descontrole desse hormônio ou forçando a sua produção por introdução medicamentosa. Por isso há tantos casos de síndromes, transtornos de ansiedade e depressão.
Se não tratamos as nossas pendências, toda essa ansiedade generalizada, relacionada a necessidade, obrigação, vontade, resulta numa fadiga que se confunde com a preguiça e eleva mais a ansiedade, que é a pendência de resolução. É um ciclo que pode resultar em um final infeliz.
Mesmo em nível físico, as consequências começam a aparecer. Esse excesso de ansiedade sobrecarrega o corpo com hormônios de estresse, como o cortisol, por exemplo. O cortisol é um regulador do estresse, já que é o hormônio responsável por manter nossa imunidade e eliminar o que tem de ruim em nosso organismo.
Esse esforço constante em combater o estresse exige um gasto de energia que leva à fadiga, já que o corpo está desprovido de energia. O estresse constante leva à fadiga crônica. A ansiedade sobrecarrega o corpo, ocasionando a exaustão. A fadiga é diferente da preguiça; a fadiga é um estado de indisposição pessoal constante relativo a uma disfunção, já a preguiça é um estado de indisposição imediato.
O melhor remédio para combater essa doença, que levará muitos à morte prematura, são os hábitos, que vão desde a alimentação até a rotina programada por meio de uma organização. Eu falei neste texto em usar a ansiedade a favor. Ela faz parte da nossa vida, do nosso instinto de sobrevivência. Podemos usá-la ao organizar a nossa vida, definindo metas, e ela nos incentiva e promove a ação para conquistá-las. Também depende de nossos hábitos a harmonia do nosso organismo, desde a microbiota intestinal até a produção de hormônios e neurotransmissores que nos tragam bem-estar.
Ocupe a mente com afazeres, como exercício físico, metas alcançáveis, lazer, interação com outras pessoas, organização do seu dia e da sua semana de forma que traga um melhor conforto emocional. Utilize a inteligência, a consciência e seu conhecimento para agir de forma que evite danos mentais devido a disfunções. É bom olhar para o passado e entender nossa história, para que possamos agir de maneira compensatória, sem rastros de faltas que burlam nossa trajetória, já determinada em nosso código genético.
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Há uma defasagem que temos que corrigir. Temos que ter plena noção do que somos e de quais são as nossas capacidades e ajustar a nossa realidade de acordo com isso.
Para chegarmos aonde chegamos, andamos muito, caminhamos quilômetros diários, interagimos, formamos família e grupos para sobrevivermos, convivemos com a natureza, plantamos, caçamos, tínhamos sempre metas fáceis e alcançáveis que compensavam a pendência da ansiedade. É assim que temos que agir, estamos tentando virar a chave da evolução enquanto a genética e a natureza humana exigem milhares de anos de adaptação.