Espiritualidade Reflexões do editor

Nas Margens do Rio Sena Sentei e Agradeci – Um momento Muda Tudo

Rio Sena com uma ponte atrás iluminando. O dia está começando a anoitecer
Micko081 / Shutterstock.com
Escrito por Geise Machulek

Eu estava relativamente tranquila na sala de espera, enquanto aguardava minha vez para realizar uma biópsia de mama, pensando com meus botões: nunca fiz uma biópsia, mas faço mamografia anualmente desde os 40 anos, como manda o protocolo, e a última detectou uma alteração que não apareceu no autoexame, nem na ultrassonografia. Então iam espetar algumas agulhas longas e finas na mama esquerda e, em seguida, prensar no mamógrafo algumas vezes, foi o que me explicaram.

Consegui um horário do tipo “encaixe”. Eu já havia passado por dois especialistas que alertaram para a realização de biopsia o quanto antes, tudo bem: confesso que pouca coisa assusta alguém que passou por três videolaparoscopias para retirar órgãos comprometidos por endometriose, então seria apenas mais um exame.

Pausei meu burburinho interno, mulher vá tomar um copo d’água! E foi bem ali, no caminho para o bebedouro, que a “ficha caiu”: senti medo, sentia frio, parecia que o gelo polar tomava conta de cada gotinha de sangue que circulava pelo meu corpo.

Já vi muitos casos, é verdade, todos os dias milhares de mulheres lutam contra o câncer de mama, e lá em meus tempos de ambulatório (de nutrição), tive a oportunidade de conviver com várias guerreiras em tratamento e, claro, a ficha caiu porque senti o quanto minha vida poderia mudar a partir do resultado dessa bendita biópsia!

Sou daquelas que enxerga o lado bom da vida em quase tudo: eu estava ali, viva, grata, plena e como costumo dizer para os meus meninos: com as duas pernas boas (para correr atrás do que precisar), então não havia um problema real ainda!

Durante a semana, evitei comentar com as pessoas ao meu redor sobre o assunto, não queria fazer alarde, mas um ponto de interrogação parecia piscar em minha testa em letras de antigo neon.

Ponto de interrogação aceso por uma luz neon
Per Bengtsson / Shutterstock.com

Sim, um momento pode mudar tudo, e finalmente chegou minha vez de ser atendida. O médico foi muito humano e muito profissional ao mesmo tempo. Explico: porque espremer uma mama cheia de fios numa prensa deve ser corriqueiro para ele, que, para minha sorte, foi extremamente gentil e consciente de que para nós, mulheres, aquilo ali não é algo muito agradável.

Terminamos, fizemos curativos e voltei para casa. Era sexta-feira de um final de semana que parecia infinito e não havia muito que fazer para amenizar a espera. O médico foi claro: nada de atividade física de nenhum tipo e nem consumo de bebida alcoólica por dois dias (ok, foi-se embora a cervejinha do happy hour de uma sexta-feira quente mesmo).

Mas vamos logo aos resultados:

  • Primeira biopsia: ausência de malignidade e indicação de cirurgia para remoção do tal “tumor benigno” (foram retirados 4,5 cm da mama esquerda).
  • Segunda biopsia (pós-cirúrgica): ausência de malignidade, uau!
    Era como se todo o peso do mundo saísse dos meus ombros. Fiquei igual à música do cantor Armandinho (salve Armandinho!):
    “Leve, leve, leve… eu me sinto plenamente leve, leve”. Tão leve e tão plena que nem os quilinhos extras me incomodam mais, aliás, nada mais me incomoda; é como se eu recebesse um papel em branco com lápis e canetas novas para escrever, desenhar e pintar do jeitinho que eu quisesse.
    Que assim seja! Minha alma poeta sorri com o simples abrir de olhos todas as manhãs, e queria mesmo era sair por aí dizendo aos quatro ventos:
    Viva sua vida, aproveite cada minuto precioso e, por favor, faça os exames chatos de rotina, independentemente do que for: diagnóstico precoce e qualidade de vida andam juntos. Ame-se, cuide-se, não postergue cuidados com sua saúde.
    Quatro meses depois, lembrando do título de um livro do imortal Paulo Coelho, “Nas margens do rio Piedra eu sentei e chorei”, eu, aqui, nas margens do rio Sena, sentei e agradeci! Grata simplesmente pela alegria de estar viva, grata por respirar, grata pelas pernas ágeis que sobem e descem as imensas escadarias aqui no velho mundo, grata por ser uma eterna aprendiz, uma sonhadora que se maravilha com as pequenas e grandes coisas da vida.

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*Com admiração e respeito a todas as pessoas que estão lutando contra o câncer neste momento, meu forte abraço, força e muito carinho a vocês.

Sobre o autor

Geise Machulek

Nutricionista, terapeuta corporal, mestre em psicologia, pós-graduanda em nutrição clínica, ortomolecular, biofuncional e fitoterapia.

Uma aprendiz de cerâmica manual, fotografia e restauro de antiguidades, amante das coisas simples da vida. Autora do livro “Autoimagem Corporal”, Editora NEA (Novas Edições Acadêmicas), e “Antologias Poéticas”, Editora Beco dos Poetas e Câmara Brasileira de Jovens Escitores (CBJE).

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Email: geisedeoliveira@gmail.com
Site: Apartamento na Praia da Enseada