Neusa Santos Souza era psicanalista lacaniana, psiquiatra e escritora. Nasceu na Bahia em 1948. Neusa se formou na Universidade Federal da Bahia, mesma faculdade de Juliano Moreira, psiquiatra negro que lutou no combate ao racismo científico.
Desde o início da graduação em Medicina, Neusa já demonstrava seu interesse pela Psiquiatria. Durante a graduação, ela foi assistente em um sanatório ainda na Bahia. Em meados dos anos 70, mudou-se para o Rio de Janeiro, com o objetivo de estudar Psicanálise e ingressou no curso de mestrado do Instituto de Psiquiatria da UFRJ.
Sua tese de mestrado virou o que mais tarde seria um dos grandes livros marcados por sua luta antirracista e para mostrar os efeitos do racismo na saúde mental da população negra: “Tornar-se Negro” é um norteador não só para profissionais das áreas da Psicologia e Psicanálise, mas também para pessoas negras na compreensão, autoconhecimento e ressignificação de ser negro.
Neusa teve passagens pelo Núcleo de Estudos Psicanalíticos (NEP) na Bahia, em grupos de estudos no Instituto Brasileiro de Psicanálise, assumindo um papel muito importante na formação de analistas.
Além disso, a psicanalista foi um dos nomes a lutar pela reforma psiquiátrica no Brasil, participando dos experimentos iniciais. Neusa atuou no Centro Psiquiátrico Pedro II, mesmo local onde Nise da Silveira iniciou a revolução no tratamento de transtornos mentais.
“Tornar-se Negro” passou a ser um livro em 1983, e, além dele, a psicanalista escreveu mais outros dois: “A Psicose – um Estudo Lacaniano” e “O Objeto da Angústia”. Este último nasce de uma perspectiva da releitura do “Conceito do Ideal do Eu”, de Freud, sob a ótica do racismo sofrido pela população negra.
Neusa tirou sua vida em 2008. Ninguém sabe o que pode tê-la levado por esse caminho – ela deixou uma carta aos amigos mais próximos se desculpando. Mas o que sabemos é que Neusa foi uma grande psiquiatra e psicanalista negra. Seus estudos sobre os impactos do racismo na saúde mental foram, e ainda são, de grande valia para a população negra, e seus feitos para a reforma psiquiátrica deram impulso para uma atuação mais humanizada no Brasil.
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“Saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas expectativas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas.” – Neusa Santos.