Convivendo

Nu saí do ventre da minha mãe, e será nu que voltarei para lá!!!

Uma mulher com uma bicicleta. Ela contempla um sol nascente.
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Nós, seres humanos, seremos vistos pelos deuses como crianças mimadas, frágeis. Somos condicionados pelos meios nos quais somos criados. Estamos cercados de achismos e de certezas absolutas das crenças que temos. Somos adultos infantilizados. Não abrimos mão das nossas crenças, nem mesmo para um debate saudável sobre possíveis estórias dentro das nossas crenças — lembrando que história é diferente de estória. Nesse sentido, abraçamos inconscientemente tudo quanto nos dá segurança e conforto, isto é, aceitamos aquilo que nos ensinaram os senhores detentores das estruturas de controle de massa, a saber, os oficiais religiosos, políticos e sociais, que, por seu turno, “impõem” regras e verdades daquilo que devemos seguir e acreditar. Creditar, crer, ter credo pelo que nos falam os oficiais é, para eles, um sinal de submissão. Contudo, na contramão, andam os que preferem viver de forma livre, sem gurus ou mestres, quiçá um ditador.

O ser humano precisa perder o medo de ser livre. Nus saímos do ventre de nossa mãe — e aqui me refiro tanto à mãe física quanto à mãe terra. Nus saímos, sim: viemos do pó e, obviamente, voltaremos ao chão, como pó. Nada levaremos desta vida, apenas nela ficarão nossas obras, nosso legado.

O desapego, aqui, ao qual me refiro, é o modo como você permanece dependente das formas positivas, em que os cenários da vida favorecem o sentimento de felicidade. Quando você não se prepara para o enfrentamento da vida real, isto é, quando você não se prepara para o dia mau, logo você desmonta toda a sua estrutura em lágrimas e até em depressão. Sabemos que, cedo ou tarde, você vai enfrentar o dia mau, quando parecerá que seu universo vai parar de fazer sentido, por causa de uma perda ou de uma decepção. Podemos perder um emprego, um ente querido, um relacionamento de longos anos e, até mesmo, sermos traídos por pessoas sobre as quais continuávamos de olhos fechados.

Um homem com semblante preocupado. Ele escora seu rosto nas suas mãos.
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Quando você não se prepara para esse dia, seu mundo acaba, você fica sem chão, perdendo toda consciência e caindo em uma tristeza profunda, que pode até mesmo levar ao desejo de suicídio. Existem coisas na vida que você ainda não aprendeu, mas vai aprender agora.

Guarde isso, e trabalhe em sua mente sobre tudo o que você vai ler a partir daqui.

Você não está apegado ao outro; pelo contrário, neste universo infinito, mesmo ao lado das pessoas que você ama, inevitavelmente você estará sozinho em si. Quero dizer que você estará sempre condenado à liberdade em um espaço, dentro de você, onde o ser interage com o nada. Você é o ser, porém, não é o ser “seu nome”, mas, sim, o ser consciência que habita no silêncio e observa os fenômenos de luzes, cores e ruídos, e que reconhece o mundo externo — que, no caso, é o nada. Sua consciência reconhece o mundo externo pelo condicionamento, que são rótulos, nomes, crenças e os conhecimentos adquiridos pelo ser, o qual é apegado ao mundo externo.

Entretanto, deve haver um rompimento entre o ser e o nada, no sentido de que, sendo o ser um observador em silêncio, sem nenhum vínculo com o nada, torna-se natural um simples adeus ou um “seja bem-vindo”.

Quero dizer que você precisa deixar que os ciclos se vão, pois é chegado o fim da servidão voluntária. Quando não sou dominado pelos sentimentos e nem pelas fortes emoções, me tornei um super-homem, além do bem e do mal. Desapego-me totalmente de tudo: pessoas, ideologias, crenças; porém, posso brincar com tudo isso, de forma imparcial e livre. Posso até assumir responsabilidades e ter compromissos; no entanto, sem ego, sem aflorar paixões extremistas, porquanto a paixão é um estado de demência, no qual a razão se perde, diante das emoções que escravizam o que de melhor tínhamos para viver, isto é, as possibilidades além das margens e dos limites, em circunstâncias específicas.

Não é tão difícil você compreender um filósofo como eu, mesmo que muitos não queiram abandonar o olhar da medusa. Meu papel é orientar para que você organize seu turno enquanto vida.

Certa vez, um amigo me perguntou: “Nilo Deyson, eu nunca vi você cabisbaixo… você é totalmente feliz?” Respondi na hora: “A vida é uma tragédia, vim parar no teatro das interpretações, e minhas lágrimas estão em baldes debaixo dos meus olhos, porém, viva, estrague sua vida como quiser.”

Máscaras típicas de tragédia (gênero literário e dramático).
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Ninguém é um forte o bastante para não chorar!!! A diferença está na estrutura emocional, intelectual e espiritual de cada um — logo, há reações adversas para o mesmo problema, sem falar da questão de condicionamento social e estrutural da experiência, em que, por conta dos limites de cada ser, um comportamento, uma tomada de decisão diferente acontece.

É preciso respeitar a diversidade;
é necessário respeitar a natureza das coisas;
é muito bom saber deixar ir um ciclo que terminou.

Ninguém é de ninguém. Nus nascemos, e nada levaremos daquilo que temos em vida, senão a própria consciência, abraçada na alma, que, talvez, possa ser uma realidade após a morte.

Claro, apegue-se a Deus, aproximando-se da espiritualidade, do universo. Muitos sofrem tanto sem saber da força que existe dentro de si, sem nem sequer tentar melhorar a própria versão humana, para transformar sua própria existência em um verdadeiro espetáculo aos seus próprios olhos. Antes de amar, ame-se, seja seu admirador número 1.

Nunca mais voltará a mendigar amor, quiçá terá o espírito de comiseração ou vitimização. A Bíblia sagrada, lá no livro de Jó, no capítulo 1, versículo 21, diz assim: “Nu saí do ventre da minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!”

Quem já leu toda a história de Jó deve recordar que ele perdeu tudo. Ele perdeu bens materiais, animais, ficou leproso e até mesmo perdeu seus filhos. Segundo a narrativa, Satanás pediu permissão a Deus para tocar em tudo quanto Jó amava, afirmando que ele iria dizer blasfêmias contra Deus. A história bíblica salienta que Satanás havia chegado até Deus; porém, o próprio Deus falou para Satanás sobre o servo Jó, homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do que era errado. Sabiamente, Satanás disse que ele só era fiel e reto porque possuía muitos bens e riquezas, bem como tinha uma linda família. Então, Satanás pediu para que Deus colocasse em provação a fé de Jó. Foi quando Deus permitiu que Satanás tocasse em tudo de Jó, menos na alma dele.

Uma ilustração de mãos estendidas. Dentre elas, uma forte luz.
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Nesse sentido, você perde tudo na vida, menos o conhecimento, por ser sua verdade. Jó perdeu tudo, e, quando estava leproso, sua esposa gritava para que ele fosse amaldiçoar o próprio Deus e morrer. No entanto, segundo o texto sagrado, Jó lançou o rosto em terra e adorou ao Senhor. Assim, entre suas orações e adorações, ele disse “Nu saí do ventre da minha mãe e nu voltarei para lá”.

Quem conhece a história, pode recordar que, por causa da espiritualidade dele, da fé e fidelidade dele ao Deus criador do universo, Deus restaurou toda a vida de Jó.

Aonde eu quero chegar com isso? Basta você saber para onde estou te levando, pois o verdadeiro mestre te empurra para dentro de você mesmo. E quem é que te empurra? É você mesmo.

Ninguém vai te tirar do deserto, não adianta se vitimizar ou ficar de comiseração. Desapegue-se das coisas e das pessoas. Aceite a vida como ela é para você hoje. Uma característica de alguém forte é saber converter seu destino ao inédito, isto é, ao espanto daquilo que te tira da zona de conforto para novos desafios, sem medo da liberdade e sem carregar armários cheios de inutilidades. Abandone sua mente tagarela e viciosa. Como é que você se enxerga daqui a 10 anos?

Uma mudança de rotina hoje, um projeto que você for iniciar hoje, uma nova maneira de ocupar seu tempo a partir daqui, tudo isso será refletido na sua vida daqui a cinco anos, portanto, em 10 anos, você se tornará em um ser humano admirável, requisitado e disputado por muitos. Porém, é preciso humildade de espírito para crescer em silêncio. O sábio coroa suas palavras e torna-se imune aos infortúnios do mundo agressor.

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Enfim, deixe que coisas e pessoas passem diante do seu mundo, que entrem e saiam de sua vida. Não se apegue nem aos seus limites intelectuais, nem ao tanto que você conquistou até hoje. Sobre pessoas e relacionamento, fique em paz. Se perder alguém, chore seu luto pelo tempo que for preciso, porém, nunca se esqueça: você está condenado à liberdade, estrague sua vida como quiser. Sabendo ou não aonde quer chegar, qualquer caminho te serve, sem paixões, sem estado de demência. Viva e viva bem. Morrer de que importa? Diabos é deixar de viver em paz com a diversidade entre pessoas e o universo próprio.

Sobre o autor

Nilo Deyson Monteiro Pessanha

Sou filósofo, escritor, poeta, colunista e palestrante.
Meus trabalhos culturais estão publicados em diversas plataformas. Tenho obras e livros publicados.

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Sou uma incógnita que deve ser lida com atenção e talvez somente outras gerações decifrem meu espírito artístico. Sou muitos em mim e todos se assentam à mesa comigo. Posso não ser uma janela aberta para o mundo, mas certamente sou um pequeno telescópio sobre o oceano do social.

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