Essa palavra sempre me perseguiu… Não é novidade para mim ter me tornado uma nutricionista. Bom, quando se fala em Nutrição lembramos de ‘comida’ e quando se fala em Nutricionista, é a ‘pessoa’ que tira a comida ‘boa’. Então, vou me apresentar novamente. Primeiro, vamos entender o sentido da palavra ao pé da letra.
Nutrir – Fornecer alimento, alimentar, sustentar. Alentar, revigorar. Promover, aumentar. Revitalizar, restaurar, robustecer, nutrificar. Entreter, fazer subsistir: nutrir esperanças, sentimentos. Verbo intransitivo: Ser nutritivo.
Eu me encaixo em todos os conceitos mencionados acima sobre a palavra nutrir, menos ‘a moça que tira a comida boa das pessoas.’
Desde criança, fui nutrida pelos meus antepassados, que me deram além de muitos biscoitos de polvilho e broas de fubá deliciosas, muito amor e atenção.
Me nutriram com conhecimentos sábios sobre a natureza e como eu deveria respeitá-la. A gentileza era o nome da dona que vinha nós dar ‘boas vindas’ quando chegávamos na casa de minha avó, e com ela (avó) eu tive a base de tudo que eu sou hoje…
Minha casa era simples, mas tínhamos uma horta e canteiros de flores.
E quando queríamos tomar um refresco, apanhávamos um limão no pé, e meu pai exprimia e o transformava numa deliciosa limonada, o guaraná era para eventos festivos. Quando eu gritava; “mãe estou com fome”!
Aliás, pude constatar na minha atual vivência como mãe de filho pré-adolescente, que eles não podem ver uma mãe passando pela frente que essa frase sai da boca deles de forma mecanizada. Então, aprendi com a minha mãe atarefada, que sempre respondia que “tem fruta aí na fruteira, come fruta!”
Com o tempo eu não pedia mais, eu ia direto à fruteira e resolvia o meu problema da fome. E da mesma forma acontece em casa, com a vantagem de eles encontrarem algumas frutas já descascadas e cortadas na geladeira.
Minha mãe adorava fazer ‘quitutes’ nos seus dias de folga da função de enfermeira. Ela fazia bolachinhas de nata, pão caseiro, bolos, rosca e deixava em latas de alumínio, impecavelmente areadas. Para que eu e me meu irmão pudéssemos nos nutrir na sua ausência. Não havia supermercado ou padaria por perto, por isso, essa necessidade de fabricar em casa.
Bolachas recheadas nunca existiram no armário.
O hobby de meu pai era pescar, nos dias de descanso ele pegava a sua vara e ia para a beira do rio ou represa – ‘pescar para refrescar a cabeça’, dizia ele.
Quando chegava, colocava os peixes dentro da pia da cozinha ainda vivos, e eu com dó colocava água, aumentando assim a agonia dos pobres peixes.
Ele retirava as escamas, limpava e com a destreza de um sushiman cortava filés e congelava. Duas vezes por semana comíamos carne vermelha, nos outros dias peixe frito, assado, grelhado, ensopado e, com muita sorte, um frango caipira.
Quando eu pedia um doce, meu pai colhia do seu pé de laranja uma enorme, mais parecia com um melão e dizia: – “Peça a sua avó que faça um doce de laranja para você”.
As pizzas eram somente aos sábados, meu dia preferido era esse, por causa das pizzas. Não existia delivery, então a minha mãe fazia a massa, meu pai comprava os ingredientes e comíamos deliciosas pizzas artesanais, da massa ao molho de tomate. E eu e meu irmão disputávamos o último pedaço a tapas.
Meu pai gostava da comida feita na gordura da banha do porco, porque a mãe dele fazia assim, além de explicar que o óleo era ruim e a ‘comida ficava sem sabor’. Usava quantidades generosas de alho e cebola na comida, que eu chegava a ficar com um bafo… Sim… meu pai também cozinhava, seu filé à parmeggiana era muito mais delicioso do que o da mamãe.
Todos os dias havia uma explosão de cores e sabores sobre a mesa em forma de saladas. Meu pai ficava bravo quando mamãe se resumia pela pressa em servir apenas uma saladinha básica de alface e tomate, e até hoje escuto o barulho que meu pai fazia mastigando os rabanetes cultivados por ele…
Em dias frios, e fazia muito frio na minha terra, o prato de entrada no almoço era a sopa durante todo inverno. Na verdade, quase todos os dias da minha vida infanto juvenil foi sopa no jantar também, por ser leve e quente. Meu pai pedia a minha mãe: “Faz uma sopinha, para esquentar a gente. ”
Teve historias cômicas se não fossem trágicas. Tinha uma pequena goiabeira no pomarzinho dele, quando as goiabas amadureciam, eu apanhava, lavava e uma vez, na primeira mordida, eu vi um bichinho da goiaba, dei um grito escandaloso e mostrei a ele com cara de nojo. Ele avaliou e disse; – Liga não, se tem bicho é porque não tem veneno!
Assim eu cresci vendo, escutando e aprendendo que comida de verdade e original é aquela que vem da natureza.
Os tempos são outros, é verdade…
Mas equilíbrio e bom senso nunca caíram de moda. E o que se faz da vida quando não se tem saúde?
Porém, o processo nutritivo não se deu apenas pelo alimento, e sim, pelos ‘ensinamentos’ e como foram aplicados.
Avaliando como uma ‘doutora’ da nutrição, fizeram tudo certo; quantidade, qualidade, harmonia e adequação. Atenderam perfeitamente as 4 leis da Nutrição, com simplicidade e sabedoria.
Minha família me fez nutricionista aos 10 anos, eu só precisei me aprimorar na Ciência da Nutrição no banco da Universidade por 4 anos, a essência eu herdei.
Trabalhei por mais de 10 anos na Nutrição Clínica e Hospitalar, constatei que na maioria das vezes não existe mais tempo hábil para se aprender muitas coisas, eu decidi investir tudo na ‘semente’.
Atualmente aplico Educação Nutricional ‘raiz’ em seres humanos com menos de 1,50 cm.
Resgatei a ‘Lilinha’, menininha faceira que sempre morou dentro de mim, dei voz a ela, e poder também. Deixo ela se esbaldar no mundo do faz de conta, fiz dela uma fadinha, e através dela ensino outras crianças como e porque crianças devem sempre optar pelos alimentos mágicos que o papai do céu inventou.
Há tempos deixou de ser trabalho e se tornou uma leve e doce missão.
Funciona assim, semeia o conhecimento num solo fértil, de preferência em locais bem ensolarados onde a alegria tem livre acesso, aduba com muita magia e rega com doses generosas de amor. Vai fazendo as podas quando necessário, é um processo que exige um pouco de paciência e de observação.
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Isso não é um fator complicante para mim, me ensinaram a ser persistente e resiliente.
Além de Nutritiva.
Simplesmente, simples assim…