Estava finalmente deitada, exausta após um longo dia de passeios turísticos. O corpo já entregava os pontos e o sono começava a me abraçar, quando, de repente, o pior pesadelo de qualquer hóspede se materializou: o alarme de incêndio do hotel começou a soar de forma ensurdecedora. Uma voz robótica, mas urgente, repetia sem cessar: “Atenção! Este prédio precisa ser abandonado imediatamente!”
O que você faz em uma situação dessas?
Levantei num pulo, ainda atordoada, enquanto meu marido já se dirigia à porta, pronto para sair. Mas eu… eu fui direto para o cofre! “Os passaportes!”, pensei. Ao me ver nessa direção, ele, meio incrédulo, me perguntou:
– O que você está fazendo?
E antes que eu pudesse responder, te faço a mesma pergunta: o alarme de incêndio toca, o que você pega?
Parece uma resposta fácil, não é? Ou será que não? Pense bem! Nesse momento de pânico, eu, ainda agarrada à ideia de proteger o passaporte, fui repreendida pelo meu marido, que disparou:
– O mais importante é a vida! Vamos logo!
Aquela frase ecoou mais alto que o próprio alarme. “A vida”. É claro que ele estava certo. Mas enquanto ele já me puxava em direção à escada de emergência, eu ainda olhava para o cofre, hesitando. E então, descemos. Degrau por degrau, acompanhados por um desfile de hóspedes em diferentes estados de espírito e de roupas. Uns de pijama, outros com mochilas, malas de mão, e até um cara segurando… uma escova de dentes! Sim, uma escova de dentes! E foi aí que me dei conta: estamos todos apegados às coisas mais estranhas quando o caos bate à nossa porta.
“O mais importante é a vida”, repetia para mim mesma, tentando acalmar o coração que acelerava mais a cada andar. Dez lances de escada depois, finalmente chegamos ao saguão, onde fomos informados de que, por sorte, o alarme havia sido disparado por engano. Ufa! Mas se tivesse sido real? Bem, eu teria perdido meu passaporte, mas ainda estaria viva. E quer saber? Isso era o que realmente importava.
Agora, eu te pergunto de novo: se o alarme de incêndio tocar, o que você leva?
As pequenas grandes escolhas.
Claro, não é todo dia que o alarme de incêndio toca (ainda bem!), mas todo santo dia somos obrigados a fazer escolhas. E essas escolhas, por menores que pareçam, muitas vezes definem o rumo da nossa vida. A sua escolha será preservar a sua vida, seus valores, sua integridade? Ou será o conforto de uma mentira, de um atalho? Será passar horas rolando a “timeline” ou investir em algo que te faça crescer? A sua escolha será pela vida ou por um objeto que você estima, mas que, no fim, só será útil para identificar seu corpo?
Às vezes, achamos que estamos fazendo a escolha certa. Tipo, claro que vou pegar o passaporte quando estiver em outro país, certo? Mas, sem vida, aquele passaporte só serviria para uma coisa: identificar um corpo que, por teimosia, colocou um documento acima da própria sobrevivência.
E, se pensarmos bem, estamos vivendo nossas vidas como se o alarme estivesse tocando o tempo todo. Acumulamos coisas desnecessárias, compramos compulsivamente pela Internet e depois nos perguntamos por que nossa casa parece sempre cheia e nossa alma, sempre vazia. Trocamos refeições saudáveis por “fast food” e sobremesas, porque “não temos tempo”. Deixamos nossos filhos presos às telas porque nós não temos tempo. E enquanto postamos “stories” de uma vida feliz, estamos nos trancando em um mundo onde a conexão real com os outros está se perdendo.
Estamos, lentamente, nos matando em vida. Fazendo escolhas ruins, uma após a outra, sem perceber que, no fundo, estamos escolhendo coisas que nos afastam do que realmente importa.
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Então, o que é importante para você?
Quando o alarme de incêndio da sua vida tocar — seja ele real ou metafórico — o que você vai escolher levar com você? Será algo que realmente importa? Ou será algo que só faz barulho, mas no fim, não tem nenhum valor real?
Lembre-se: no fim das contas, é a vida que vale a pena ser preservada, acima de qualquer outra coisa.