“Mas não contavam com a minha astúcia!”, deve ter dito o Criador e deve ter completado: “Vós que sois homens e mulheres de pouquíssima fé e medos demais! Eu pensei nisso e ajeitei uns lenitivos, tenham paciência, filhos e filhas!”. E sucedeu que retornando de um golinho de água geladinha e pondo-me diante do teclado novamente, eis que do rádio me vem mais uma poesia musical de Vinícius de Moraes, o doce poetinha que por aqui passou com a missão de espalhar manifestações de amor. Você, caro(a) leitor(a), deverá lembrar-se da melodia:
“Pra que chorar
Se o sol já vai raiar
Se o dia vai amanhecer
Pra que sofrer
Se a lua vai nascer
É só o sol se pôr
Pra que chorar
Se existe amor
A questão é só de dar
A questão é só de dor
Quem não chorou
Quem não se lastimou
Não pode nunca mais dizer
Pra que chorar
Pra que sofrer
Se há sempre um novo amor
Em cada novo amanhecer”.
Terminada a música, me veio a inspiração: não existe finitude definitiva em tudo na vida… Só nela mesma, mas isso é assunto para outras fronteiras! Existe uma sucessão de dias, noites, meses, anos, séculos e de fatos em nossas vidas que chegam para renovar a existência e acalmar umas tantas dores e contornar as perdas emocionais. Com o amanhecer, sempre vem o novo! Um dia inteirinho para ser vivido, um zilhão de possibilidades de fazer e acontecer, a solução para as angústias e as mágoas, um novo sorriso para nos abençoar e ajudar a suportar um dado sorriso que tenha se apagado e ido embora das nossas vidas. A cada novo amanhecer, o sol abre o seu olhão em cima de nós e jorra de si a energia e a luz dos seus bilhões de toneladas de hidrogênio queimados em suas entranhas nucleares. Em oito minutinhos, só esse tantinho, chega até o nosso planetinha cada raio do sol e o calor de que precisamos para tirar a Vida da preguiça da noite de largo sono e pô-la a construir e reconstruir. Mesmo que o céu esteja despejando chuvas de todas as águas, atrás delas sempre está o sol e seus calores luminosos. Nunca falha, inda que demore um tempão danado!
Mas o que fica depois de tanto divagar pelas veias das intempéries e passagens de poetas entre nós? Simples, muito simples, espantosamente simples: no dia seguinte àquele em que a dor e a perda resolveram nos atazanar, já serão passadas pelo menos umas 12 horas, tempo suficiente para lembrar da astúcia do Criador e começar a abrir o coração para o que a Vida, sempre paciente e generosa, nos refaça espaços de consolo para as dores e fertilização para um novo amor.
O Criador não falha, gente!
Você também pode gostar de outros artigos do autor. Acesse: https://www.eusemfronteiras.com.br/autor/benedito-milioni/