Um céu de cores luminoso lá fora e aqui dentro pulsa ansiedade ao passo em que eu preparo a sua chegada – enquanto dentro de mim, você dorme tranquilamente por quase longos e nove meses.
Lá fora eu aprecio o canto dos pássaros e a bela paisagem que dá pela janela do seu quarto – todo iluminado pela luz que entra através da fresta da janela e acalenta-se pelo seu bercinho que aguarda o seu frescor.
Acomodo-me na poltrona e não vejo a hora de conhecê-lo de pertinho – e que quando encostado sobre o meu peito, nós possamos sentir a verdadeira sintonia do ritmo familiar – com a sua orelhinha contra o meu coração.
Tudo perfeito como deveria ser – até o momento em que você nasce e dentro de mim vem um mix de culpa e rejeição – e aquele sonho de se tornar mãe em um segundo torna-se um pesadelo que parece não ter fim.
Não é fácil receber o diagnóstico de uma criança com necessidades especiais e é notório que o corpo clínico ainda não tem preparo para lidar com – principalmente quando uma mãe descobre que o seu bebê tido como “perfeito” é imperfeito. É dificultoso o processo de aceitação e a realidade vai muito além da dita “inclusão”.
É necessário passar por esse processo de luto e dar lugar a outros sentimentos como o otimismo e a fé – além de muito preparo emocional e, acima de tudo, empatia e compaixão – além do amor materno – reconhecendo e aprendendo aos poucos a aceitar o seu filho.
Não há como ter inclusão do lado de fora, se existe um sentimento de culpa e, inconscientemente, de rejeição pela criança. Após a fase do luto, é importante salientar que proteger demais é um fator prejudicial e pode até impedir o desenvolvimento da criança – pois toda criança, independente da deficiência, tem e terá suas habilidades como qualquer outra pessoa, mas isso dentro do seu desenvolvimento e sem ser superprotegida.
Essa pequena história é fictícia e eu decidi compartilhar aqui um pouquinho da sensação que eu tive ao conversar com uma amiga, a Carol. Inclusive, peço toda licença a Carol ao vir aqui.
Carol é ouvinte, filha de pais surdos e mãe de um filho ouvinte. Conversando com ela, pude imaginar como é a sensação e o medo ao descobrir estar grávida e por um segundo, ter um filho com limitações.
No exemplo de Carol, o medo seria de o filho nascer surdo, como seria a adaptação dele, e tantas outras “n” questões – lembrando que eu não sou mãe e apenas cogitei pensamentos e questionamentos esperados e que passam pela cabeça de uma mãe quanto ao futuro da criança, e noto que poucos sabem que a inclusão não está só e verdadeiramente presa à educação – muito embora o governo foque nisso, o mesmo não oferece ferramenta suficiente para o possível acesso à criança, e isso fica para outro artigo. Mas, a inclusão verdadeiramente dita, começa no amor. Na adaptação da família, dos amigos – e da sociedade. Não ao sentir dó, mas ao dar oportunidade para a criança se expandir e mostrar que ser diferente é normal.
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É encorajar através do amor materno e agradecer por ter o privilégio de ser mãe de uma criança com necessidades especiais tão incrível quanto uma criança sem necessidade alguma – enxergando que o perfeito está no imperfeito.