Em março de 2020, o mundo se viu diante de uma realidade que ninguém tinha presenciado em pleno século 21: uma pandemia de nível mundial, com um potencial letal altíssimo e uma rapidez assustadora na transmissão.
O planeta praticamente parou diante de um vírus de dinâmica desconhecida na contemporaneidade. Conhecemos uma nova e devastadora doença: a Covid-19. O contágio começou a se acelerar, o número de infectados crescia exponencialmente e os óbitos começavam a acontecer, um após o outro e após outro… até chegarem a níveis alarmantes.
Esse foi o retrato que o coronavírus desenhou em todos os países mundo afora. Diante do desconhecido, a única reação que o ser humano conseguiu ter foi medo. Medo de se infectar, medo de ser internado e intubado. Medo de morrer, medo de perder um familiar, um amigo.
A quarentena também trouxe uma sensação de impotência: teríamos que ficar praticamente isolados para não sermos vencidos pelo vírus. Até quando? O que os governos estavam fazendo para resolver? O que a população poderia fazer? Quanto tempo duraria esse infortúnio?
Eram perguntas que não traziam respostas, muito menos certezas. O que tínhamos eram as imagens de hospitais e cemitérios lotados, notícias de amigos ou conhecidos sendo acometidos pela doença. Aqueles que conseguiam sair dela diziam o quanto tinham sofrido, que tinha sido a pior doença pela qual passaram em suas vidas… Aliás, esses, muitas vezes, temeram por suas vidas.
Saiba mais dos impactos ocasionados pela pandemia
A pandemia e os aspectos emocionais
Em meio a tanto temor, incertezas e isolamento social — que não só trazia a distância dos nossos amigos e entes queridos, como também a falta de segurança quanto ao emprego e às questões financeiras.
Tudo isso mexeu — e muito — com o estado psicológico de muitas pessoas. Os ditos males do século — depressão, ansiedade e síndrome do pânico — ganharam proporções estratosféricas desde que a pandemia se instaurou.
O que já era ruim piorou
Só no Brasil, 53% das pessoas tiveram uma piora na saúde mental. Foi o que revelou uma pesquisa do Instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial. Já em outro estudo, publicado pela Fiocruz em julho de 2020, 40,4% dos brasileiros adultos relataram “sentimentos frequentes de tristeza e depressão”; 52,6% da população admitiu que se sentia mais nervoso ou ansioso. No mesmo estudo, 43,5% dos entrevistados demonstraram o surgimento de problemas para dormir. 48% relataram uma piora dos problemas com sono que já existiam antes.
De fato, fomos tomados pelo medo de perder alguém próximo ou de ficar doentes ou incapacitados pelas sequelas do vírus, e até mesmo tememos perder o emprego e não ter uma fonte de renda para o sustento.
Em outubro de 2020, o evento “Depressão, saúde mental e pandemia”, realizado pelo Instituto do Legislativo Paulista da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ILP-Alesp) e pela FAPESP, trouxe números sombrios: 34% dos fumantes admitiram aumento da quantidade de cigarros consumidos por dia, contra uma queda significativa na prática de atividade física semanal: de 30,4% para 12,6%. O exercício físico é um atenuante de transtornos mentais.
O consumo de TV e outras telas também teve mudanças: aumento médio diário de 1 hora e 45 minutos para a primeira e aumento de 1 hora e 30 minutos para celulares e tablets. É mais do que sabido que o acesso a telas também pode ajudar no aumento de quadros de ansiedade e outros transtornos psíquicos. É uma bola de neve ladeira abaixo.
O que esperar do pós-pandemia
Se formos continuar pesquisando, encontraremos centenas de pesquisas e estudos que corroboram o agravamento das doenças psíquicas graças a quase dois anos de pandemia pelo mundo.
Hoje já temos a ação das vacinas, um quadro diferente daquele que vimos em 2020, porém não podemos dizer que é absolutamente o fim. Resta a esperança, que hoje em dia reside justamente nas doses vacinais e no uso da máscara. Mas o longo período de mortes, perdas e reveses certamente está deixando um passivo emocional na humanidade.
A pandemia pode acabar em breve — tomara que seja em breve mesmo —, mas ainda teremos que lidar com as questões emocionais represadas e o “legado” de uma série de perdas em nossas vidas. O luto, a impossibilidade de se despedir dos parentes — quando, na época, não era possível nem chegar perto dos nossos mortos — ainda residirão em nossas emoções por um bom tempo.
E como lidar com isso
Não existe uma fórmula para lidar com tantas emoções negativas se atropelando e nos atropelando também. Quanto ao luto, por exemplo, cada pessoa tem sua forma de elaborar e lidar com ele.
O sofrimento e o medo vieram se acumulando ao longo dos anos, então poderemos demorar um pouco para digerir o fim da pandemia, para entender que já passou e que não estamos mais em perigo.
Mas, inevitavelmente, estaremos com um sinal de alerta aceso: se formos pegos de surpresa por uma virose letal, quem garante que não haja outras por aí esperando a oportunidade para se esparralharem novamente pelo planeta?
Além dos nossos medos reais, a pandemia também trouxe os medos imaginários — porém possíveis — e uma dor de longo prazo que vai precisar ser trabalhada com ajuda profissional adequada.
Se você está passando por momentos de ansiedade e acredita que possa estar acometido por algum distúrbio, como depressão, agorafobia, transtorno do pânico ou qualquer outro problema psíquico, procure o auxílio de um psicólogo e/ou psiquiatra. Somente o profissional poderá diagnosticar a doença e apresentar o melhor tratamento para trazer uma cura para aquelas doenças que podem ser curadas ou tratar adequadamente aquelas que não podem.
Esperança sempre
Mas uma coisa é certa: a humanidade é feita de esperança. E já podemos ver uma luz no fim do túnel, graças aos esforços da ciência e dos profissionais de saúde, que trabalharam — e ainda trabalham — incansavelmente para salvar nossas vidas de todos os modos: cuidando dos pacientes, buscando soluções medicamentosas e desenvolvendo vacinas.
E nós, fazendo a nossa parte — hoje, por exemplo, com os protocolos de segurança e higiene —, conseguiremos vencer mais essa adversidade. Olhe para trás, olhe para a História. Vencemos pandemias, epidemias… estamos aqui!
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Sabemos que muitas perdas aconteceram e que a nossa dor precisa ser ouvida e ter seu tempo respeitado. Mas não podemos jamais perder a esperança de dias melhores. Vemos você logo, logo no pós-pandemia, no novo normal… até que tudo se torne simplesmente vida novamente.