No caminho do autoconhecimento, muitas pessoas acreditam que, por estarem nessa busca ou por exercerem um papel de terapeutas, são de alguma forma superiores às outras. Como se o conhecimento adquirido fosse um passaporte para um status especial, acima daqueles que ainda não trilharam esse percurso. Mas será que o verdadeiro autoconhecimento nos coloca em um pedestal? Ou será que ele nos ensina justamente o contrário: a humildade de reconhecer que estamos todos aprendendo, em diferentes etapas da mesma experiência humana?
Infelizmente, já vi muitos casos de pessoas que, ao assumirem essa posição, passaram a se sentir mais do que os outros. Como se o fato de compreenderem certas práticas ou de terem passado por processos internos lhes conferisse uma autoridade incontestável. E, pior ainda, há aqueles que usam esse conhecimento para distorcer realidades em benefício próprio, manipulando pessoas que confiam neles. O que deveria ser um caminho de acolhimento e respeito se torna um palco para jogos de poder.
Algumas dessas pessoas, além de tudo, misturam esse sentimento de superioridade com suas crenças religiosas e tratam aqueles que consideram “inferiores” como se fossem ninguém.
Não apenas julgam, mas também destratam, desrespeitam e fazem exatamente o oposto do que pregam. Falam sobre constelação familiar, comunicação não-violenta, ioga, mas, nos bastidores, suas ações revelam outra história.
A dissonância entre discurso e prática pode ser esmagadora para aqueles que acreditam nessas pessoas e se deixam influenciar por elas.
Por outro lado, no extremo oposto desse cenário, há também aqueles que carregam um peso imenso por estarem nesse meio. São pessoas sensíveis, que absorvem tudo ao redor, que sentem demais, que tentam ajudar a todos sem perceber que estão se esgotando no processo.
O peso da responsabilidade, das dores compartilhadas, das expectativas depositadas pode se tornar insustentável. E, infelizmente, conheci histórias de pessoas que não suportaram essa carga e acabaram tirando suas próprias vidas.
Diante de tudo isso, a grande questão é: como seguir nesse caminho sem absorver o que não é nosso? Como não se deixar levar por esses jogos, sem adoecer no processo?
Talvez a primeira resposta esteja no discernimento. É preciso ter um olhar atento para diferenciar quem realmente vive aquilo que ensina de quem apenas veste uma máscara. Não se encantar apenas pelas palavras bonitas, mas observar as ações, as pequenas atitudes no dia a dia.
Além disso, proteger nossa própria energia é importante. Aprender a colocar limites, entender que não podemos salvar ninguém, que nosso papel não é carregar o peso do mundo. Ajudar não significa se anular, e acolher o outro não significa se deixar consumir por aquilo que não nos pertence.
Outro ponto importante é lembrar que estar nesse caminho não nos torna especiais ou melhores do que ninguém. Pelo contrário, quanto mais nos aprofundamos, mais percebemos que somos apenas humanos, falhos, em constante aprendizado.
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O autoconhecimento não é um troféu, não é um título que nos coloca acima dos outros. Ele deveria ser um exercício contínuo de humildade e presença.
E, talvez, o maior aprendizado de todos seja justamente esse: seguir buscando, mas sem se perder. Cuidar de si enquanto se cuida do outro.
Praticar na vida aquilo que se ensina, sem máscaras, sem jogos, sem ilusões de superioridade. Porque, no fim das contas, todos estamos no mesmo caminho, apenas em diferentes momentos da caminhada.