O cínico age sempre com segundas intenções. Nunca age de forma transparente. Dessa forma, o cínico não respeita os sentimentos e valores estabelecidos nem as convenções sociais. É alguém que é desavergonhado, descarado, imprudente, impassível, obsceno. Geralmente, o cínico fala uma coisa e faz outra.
Não cabe aqui citar nomes, no entanto, no campo da política nacional ou local, certamente você deve conhecer uma porção de cínicos. O cínico adora confundir a população. Vive invertendo o sentido das palavras, da história. Geralmente o cínico fala da mentira como verdade e a verdade como mentira.
O cínico sempre pensa em benefício próprio. Nunca pensa no outro. Quando se aproxima de alguém é sempre por interesse, para levar vantagem em alguma coisa. Geralmente o cínico é um “sequestrador sentimental”. Quando o cínico lança-se a cargos públicos é para atender os próprios interesses. Dessa forma, o cínico acredita que fazer política é a forma mais rápida de colocar em ordem a vida da família, dos amigos e dos parentes.
Em primeiro lugar, somos radicalmente contra a ideia de que “a maioria sempre vence”, isto porque reconhecemos a existência das ideologias dominantes. Marx já dizia que “As ideias dominantes de uma época são sempre as ideias da classe dominante”. O maior desejo do cínico é esconder a verdade.
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Em segundo lugar, todo cínico pensa que a política é o meio mais fácil e rápido de subir na vida. O trágico é que aos poucos, o cidadão acaba se acostumando com toda essa situação. Pior, a indignação, quando aparece, acaba sendo canalizada para alvos antidemocráticos, como por exemplo, fechamento do Congresso Nacional, perseguição aos migrantes pobres e assim por diante.
Geralmente o cínico, em sua totalidade, é inteligente e possui humor elevadíssimo. Tem a capacidade de observar a realidade que o cerca e de perceber um acontecimento rapidamente. O cínico raramente confia nas pessoas, na realidade, suspeita de todos. Quase sempre o cínico é oportunista.
O antídoto contra o cinismo deve ser à liberdade de expressão, liberdade sexual, liberdade de opinião, liberdade de ação, liberdade política. Norberto Bobbio, sociólogo italiano contemporâneo, considera que a liberdade política deve ser condição elementar para a tomada de decisões. Liberdade política significa educação de qualidade para todos, liberdade de cátedra, respeito às minorias étnicas.
Dessa forma, a maior virtude da liberdade política é a exclusão do cinismo. Ou seja, ao trocar o cinismo pela ética, o político renunciaria os bens e prazeres terrenos até conseguir uma total independência das necessidades vitais e sociais, assim como pensava Antístenes, discípulo de Sócrates, fundador do cinismo na filosofia grega.
De toda sorte, tenho a mais absoluta certeza, o cinismo que se constata na política brasileira atual não é aquele defendido pelo filósofo grego. Para Antístenes, a filosofia cínica, permitia ao homem, em primeiro lugar, alcançar o autoconhecimento e chegar à verdade das coisas.
Assim, o verdadeiro sentido da filosofia cínica era levar o ser humano à felicidade, entendida como não ser afetado pelas coisas más da vida e convencionalismos, que eram valorizados de acordo com o grau de conformidade e com a razão. Enfim, o cinismo que se constata atualmente na política brasileira é a versão descabida da famosa expressão “cara de pau”.