“Quanto mais brilhante é a luz, mais escura é a sombra.” — Carl G. Jung
Vivemos em um mundo com inúmeros desafios, preocupações e deveres. A partir do momento em que resolvemos olhar para dentro de nós, à procura de um sentido, de um lugar de paz ou de uma profunda compreensão do que realmente somos, mais um “problema” surge: descobrimos que temos dentro de nós forças, tendências, sentimentos e emoções completamente antagônicos entre si, mas que pulsam e se manifestam… muitas vezes à nossa própria revelia.
Como integrar polaridades totalmente opostas que vivem e pulsam dentro de nós? Como compreender e admitir que em certos momentos tomamos decisões e nos expressamos de formas muito diversas?
Em primeiro lugar, devemos nos esforçar para dirigir a atenção ao nosso mundo interior. Dentro de nós há todo um universo de dimensões tão vastas como o Universo físico onde habitamos.
Isso pode parecer incrível — ou aterrador! — em um primeiro momento, pois não queremos admitir que dentro de nós existem coisas que desconhecemos. Isso pode até parecer um insulto, pois equivale a dizer que não somos “donos” de nós mesmos.
Ao nos observarmos com a ajuda da terapia, da meditação e da prática da observação silenciosa do próprio mundo interior, encontramos sentimentos elevados, altruístas… ao lado de outros totalmente mesquinhos e egoístas!
Antes de se sentir impactado diante desta evidência, é preciso lembrar que nosso mundo interno abriga uma parte essencial que integra nosso ser, chamada de SOMBRA.
“Todo mundo carrega uma sombra, e quanto menos ela está incorporada na vida consciente do indivíduo, mais negra e densa ela é.” — Carl G. Jung
Nesta sombra, estão todos os conteúdos que, ao longo da vida, foram negados, reprimidos ou permanecem completamente desconhecidos de nós. Geralmente projetamos essas características nos outros — é preciso maturidade para aceitar uma parte que não é “bonita” ou “boa” dentro de nós. Isso causa muitos problemas, pois, ao adotar esse procedimento, não trabalhamos esses conteúdos e não podemos compreender e lidar com as emoções. Quanto mais negamos algo, quanto mais empurramos o que não apreciamos para longe de nós, mais fácil será perder o controle de grande parte de nossa vida psíquica — e isso acaba influenciando nosso comportamento.
Existe uma história bastante conhecida dos povos nativos norte-americanos: um idoso da tribo ensinava a um jovem sobre a vida com a seguinte história: “Existem dois lobos que brigam dentro de você. Um deles é raivoso, arrogante, triste, mentiroso, preguiçoso. O outro é amoroso, generoso, amante da paz, corajoso, humilde. O jovem pergunta: Qual deles vence a luta? E o sábio responde: Aquele que você alimenta.”
Porém existe uma outra versão desta história na qual o velho sábio responde: “Ambos ganham se você os alimentar direito. Se apenas o lobo da luz receber alimento, o outro ficará ressentido e voraz, cheio de ódio e ciúme, e lutará contra o lobo da luz sem descanso. Mas se eu alimentar os dois de maneira certa, eles viverão lado a lado, em harmonia e paz. Não haverá mais batalha; e quando há paz, há sabedoria. O objetivo da vida é respeitar esse equilíbrio — quando você colocar fim à batalha, você estará livre.”
Os budistas tratam dessa questão ao falarem do “caminho do meio”, um caminho de conduta que acolhe tanto o lado puramente humano quanto o lado divino.
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A sombra, quando observada e acolhida como parte de nós, traz inúmeros benefícios: espontaneidade, criatividade, emoções profundas e numerosos insights, essenciais ao nosso pleno desenvolvimento como seres humanos. Esta é a grande chave para lidar positivamente com este aspecto: aceitar sua existência, compreender os sentimentos que ela traz, tornando-a o mais clara possível; e depois deixá-la ir embora, dando espaço a pensamentos e atitudes positivas que a sombra nos alerta que devem ser desenvolvidos.