Saúde Integral

O dilema da eficácia da homeopatia. Como lidar?

Mulher deitada na cama com sua mão no rosto ao lado de remédios
Katarzyna Białasiewicz/123RF
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Quando você está resfriado, por exemplo, e decide ir ao médico tratar a sua doença, ele ouve você a respeito dos sintomas, faz observações e análises clínicas e, após isso, receita remédios que combatem os sintomas e as origens daquele mal. Essas substâncias são combativas ao vírus causador da doença (o que é fruto de décadas de estudo, para que fosse possível concluir que determinado ativo ou medicamento combate uma doença ou um mal específico). É assim que funciona a medicina ocidental (também chamada de medicina tradicional, ou, por alguns poucos, de alopatia ou medicina alopática).

Como bem sabemos, diversos povos e culturas, antes de termos tecnologia suficiente para o estudo de doenças, com o objetivo de encontrar uma cura para elas, desenvolveram métodos próprios para curar as doenças que assolavam seus contemporâneos. Alguns exemplos são a acupuntura, da medicina tradicional chinesa, e o uso de ervas nativas, utilizadas, por exemplo, pelos povos indígenas brasileiros para curar uma infinidade de doenças.

O que é homeopatia?

Mulher sentada no chão ensolada em  um edredom com resfriado
Andrea Piacquadio/Pexels

A homeopatia foi um método idealizado pelo médico alemão Samuel Hahnemann, em meados da década de 1790. A homeopatia atua segundo uma regra oposta à da medicina tradicional. Enquanto a medicina tradicional usa uma substância oposta à substância que causa o mal para combatê-lo, a homeopatia se utiliza da mesma substância que causa o mal, mas numa dose muito menor, para combatê-lo. “Semelhantes são curados por semelhantes”, escreveu Hahnemann.

Em linhas gerais, a homeopatia é uma especialidade farmacêutica e médica que evita intoxicações e estimula reações orgânicas fazendo o uso de doses mínimas de medicamentos – conhecidos como medicamentos homeopáticos. Segundo aqueles que acreditam na homeopatia, todo ser humano tem uma energia vital; quando essa energia vital entra em desequilíbrio, doenças se manifestam. Não basta, segundo os homeopatas, apenas tratar os sintomas de uma doença específica e não cuidar do desequilíbrio que está afetando o ser humano doente ao mesmo tempo.

A homeopatia opera segundo duas principais leis desenvolvidas por Hahnemann.

1. Lei do semelhante: segundo essa regra, uma substância que é capaz de produzir sintomas semelhantes aos de uma doença pode ser usada para tratar essa mesma doença;

2. Lei dos infinitesimais: se aplicada em grandes quantidades, a substância causadora (e curadora) do problema pode causar intoxicações ou piorar o quadro clínico, então a substância é diluída ao máximo.

Exemplos práticos

Potinho de comprimidos caído
neydt/123RF

Há muita controvérsia a respeito da eficácia da homeopatia, especialmente porque ela nunca foi comprovada com métodos científicos, ou seja, sua eficácia é atestada somente por relatos, que não configuram o método de estudo, testagem, prova e contraprova, exigidos para que um medicamento tenha sua eficácia comprovada.

Para exemplificar quão absurdo pode parecer o conceito homeopático, trazemos dois exemplos. O primeiro exemplo foi dado por Rubens Dolce Filho, segundo-secretário do Departamento Científico de Homeopatia da APM (Associação Paulista de Medicina), em entrevista ao site Viva Bem, do UOL. O exemplo citado foi o do comprimido conhecido como “Muro de Berlim”, que é feito a partir de fragmentos moídos e diluídos do Muro de Berlim, que dividiu a Alemanha durante o período da Guerra Fria. Segundo os defensores da homeopatia, o comprimido ajuda a curar condições causadas por problemas de comunicação e diálogo, já que o Muro de Berlim era uma barreira à comunicação e à livre circulação de pessoas e informações. “A ultradiluição da substância original e seu efeito não podem ser explicados pelos matizes da farmacologia clássica, por isso geram muita polêmica”, explica Dolce Filho, ao defender que os métodos científicos tradicionais não podem explicar esse tipo de medicina.

Outro exemplo foi citado por Beny Spira, professor livre-docente pela USP, com doutorado em genética molecular pela Universidade de Tel Aviv, em um artigo publicado no “Jornal da USP”. Ele usou como exemplo o caso da utilização da cebola diluída para combater os sintomas de resfriado, já que, segundo os homeopatas, a cebola, quando é picada, causa sintomas como irritação dos olhos, nariz tampado e coriza, semelhantes, portanto, aos sintomas de um resfriado. “A divulgação da homeopatia contribui para a difusão de um conhecimento errado, arcaico e perigoso. A ciência baseia-se na busca pela verdade”, opina o professor.

Ainda segundo Spira, é impossível classificar a homeopatia como ciência, porque ela não apresenta resultados consistentes em testes clínicos: “Não votamos para decidir se um antibiótico é eficiente para o tratamento de uma determinada doença infecciosa; os testes clínicos dirão se ele funciona ou não”. Quanto à eficácia do método, o professor é taxativo: “A grande maioria dos estudos clínicos devidamente bem conduzidos revelou que o tratamento homeopático equivale ao tratamento com placebo, ou seja, não foi detectado nenhum efeito curativo significativo de qualquer composto homeopático”.

Em resposta ao artigo de Spira, o médico homeopata Lucas Franco Pacheco, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em homeopatia pela Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB), disse que não é possível analisar a homeopatia sob a mesma ótica da medicina tradicional e justificou: “A homeopatia sabidamente atua de forma frequencial, energética, e não química”, portanto não seria possível comprovar sua eficácia em testes clínicos e, portanto, químicos.

Prós e contras da homeopatia

Doutor falando com paciente ao lado enquanto segura uma caneta
SARINYA PINNGAM/123RF

Seria irresponsável afirmar os prós e contras de uma prática como a homeopatia. Enquanto que ela pode não agravar um mal como um simples resfriado, tratar uma pneumonia ou um câncer com uma técnica medicinal que não tem sua eficácia comprovada é uma atitude temerária. O recomendado é consultar um médico não homeopata, fazer exames clínicos, seguir as recomendações quanto a medicamentos e tratamento e sugerir a ele a adição da homeopatia ao tratamento, porque somente ele, conhecedor do seu caso, poderá avaliar até que ponto essa técnica pode ajudar ou atrapalhar o seu tratamento.

A homeopatia é aceita no Brasil?

Sim. A homeopatia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), e, portanto, tem sua prática legalizada. Além disso, ela é oferecida como terapia complementar no Sistema Único de Saúde, num programa criado pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), que inclui terapias alternativas e sem eficácia comprovada cientificamente, como acupuntura, aromaterapia, florais, ioga, reiki, entre outras.

E em outros países?

Há ,essencialmente, três tipos de tratamento em relação à homeopatia mundialmente, hoje:

Países que não reconhecem a homeopatia como tratamento médico: Holanda, Portugal, Espanha e Suécia.

Países que autorizam a prática da homeopatia, mas não a financiam com dinheiro público ou estão em vias de deixar de financiar: Austrália, Bélgica, França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Estados Unidos e Canadá.

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Países que reconhecem a homeopatia como tratamento médico e a oferecem em seus sistemas de saúde público ou privados, como no caso do Brasil: Índia, República Tcheca, Romênia, Argentina, Colômbia e México.

Independentemente da sua opinião a respeito da eficácia da homeopatia, sempre consulte um médico antes de iniciar qualquer tratamento homeopático e confie no julgamento dele, especialmente se você estiver enfrentando o quadro de uma doença grave. Aja de maneira responsável com a sua saúde e não acredite em curas milagrosas.

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