Somos induzidos a crer que, uma vez desenvolvidos cognitiva e emocionalmente, não teremos mais dores ou dias difíceis. Esse é um perigoso engano e grande armadilha que pode causar desequilíbrio e afetar a todas as áreas da vida.
Temos sim o direito de sentir. Na verdade, temos o dever de sentir, porque tudo aquilo que negamos, consumirá silenciosamente nossas forças. É a tal história de jogar a poeira para baixo do tapete. Ela vai crescer, encrostar e desenvolver parasitas nocivos que irão nos consumir silenciosamente. Quando identificarmos a “doença”, talvez nem saibamos mais atribuir a causa, uma vez que ela já não será uma, mas um aglomerado de negações. Não à toa muita gente se assusta quando vai ao psiquiatra e ele receita um antidepressivo. Entendeu a relação?
Saindo da metáfora da “sujeira debaixo do tapete” para o contexto humano, o que seriam esses parasitas? Podemos pensar que eles são tristeza e outras vulnerabilidades que conotam fraqueza, quando os grandes consumidores de energia e destruidores da realização são o medo e a culpa. Esses são os “vermes” silenciosos que nutrimos quando negamos pequenos incômodos ou negligenciamos nossas reais necessidades.
A culpa está relacionada com o passado, ela se materializa através de sucessivos episódios de autoexigência, que com o tempo se tornam autocondenação. É preciso exercitar o autoperdão em relação a tudo aquilo que já fizemos de nocivo. Perdoar-se e pedir perdão a quem já ferimos propositalmente (como defesa) ou “sem querer” é uma atitude libertadora, que exige desprendimento e consciência perceptiva e ampliada. Aí a importância do autoconhecimento.
O medo, por sua vez, está relacionado ao futuro. Geralmente, ele nasce durante nosso processo de inserção no mundo, ou seja, da nossa primeira infância, até as primeiras experiências sentimentais, escolares, profissionais e amorosas.
Nossos padrões de educação geralmente não foram de encorajamento, mas de imposição de medo. Raramente tivemos líderes condutores nas primeiras experiências, mas sim “chefes”, que nos ensinaram a relacionar respeito ao temor. E o que esperávamos nutrir no decorrer das nossas experiências? O medo é consequência natural da nossa educação autopunitiva. O autoconhecimento entra na desmistificação desses medos. É o meio de libertação de tudo aquilo que fomos induzidos a crer e dos vícios comportamentais e emocionais que limitam nosso potencial de realização. Nas imersões de Eneagrama trabalhamos isso a fundo.
Mais do que isso, é preciso abrir a ferida, limpá-la, trocar os curativos, limpar mais um pouco e somente suturar quando estivermos aptos. Para essa limpeza você precisará de muito, mas muito interesse e vontade de vencer aquilo que talvez nem você saiba ao certo o que é. Lembre-se: onde há dor, existe algo a ser tratado. Para que essa limpeza aconteça de forma segura, certamente precisará de auxílio especializado, seja de um profissional da saúde psíquica, um coach, um mestre espiritual ou todos eles juntos, dependendo do grau da sua dor e da forma e dimensão como a qual ela irradia.
A decisão é sua. Apenas evite negar sua dor. Essa é a forma mais certeira de somatizar dores ainda maiores.
E que fique bem claro: temos sim o direito de sentir dor. Como temos o direito e dever de fazer bom uso dos nossos dias. É nesse sentido que o autoconhecimento fará toda a diferença. Ele é quem nos permite enxergar beleza até mesmo na dor porque, muitas vezes, é ela quem sinaliza o que precisamos e podemos aprimorar.
Você também pode gostar
Quando enxergarmos beleza na dor, será o sinal de que estamos num nível elevadíssimo de consciência, o nível onde não há mais julgamento, mas sim ação libertadora. Um sinal de que respeitamos nossas fraquezas, sem atribuir a elas a sensação de fracasso, mas de uma nova chance de fazer ainda melhor por nós e pelo meio onde estamos inseridos.
E viva o autoconhecimento! Você tem investido no seu?