Considero um grande avanço todas as iniciativas de empoderamento feminino nos últimos anos. Sabemos que a realidade social da mulher está longe de se equiparar à do homem, sobretudo em países como o nosso.
E se você tem dúvidas sobre isso, basta pesquisar os índices de violência contra a mulher, de comparação salarial, de acesso à educação superior ou o número de representantes em cargos públicos eletivos.
As iniciativas de empoderamento que mais vejo estão relacionadas a empreendedorismo feminino, estudo, expressão artística e criativa. Há também discussões sobre liberdade sexual e relacionamentos. O debate sobre o direito ao aborto.
Mas pouco se falta sobre a mulher apropriar-se de fato de seu próprio corpo. Não como algo urgente e pontual, como numa situação em que desejaria interromper uma gravidez, mas como algo permanente.
Nas últimas décadas se falou muito sobre o anticoncepcional como uma forma de liberdade da mulher. E não questiono que foi uma nova possibilidade que se apresentou na época e que pode ser a melhor escolha para muitas mulheres até hoje.
No entanto pouco se discute, com exceção de grupos muito específicos, sobre a mulher poder ser integralmente mulher, com seus ciclos, seu sangue, suas mudanças hormonais aceitas, suas alterações emocionais decorrentes dessas que são respeitadas, e assim por diante.
Ignora-se o útero quando não há nele uma criança.
Controlam tanto o corpo de uma mulher a ponto de existir um padrão idealizado de como deve ser sua vulva: pequena, sem pelos, rosada e infantilizada.
E para quem achava que a virgindade já não tinha mais tanta importância, surgiu há alguns anos a cirurgia de restituição de hímen para “voltar a ser virgem”.
Tudo isso pode até soar cômico para machistas inveterados. Para mim soa trágico ter um panorama desses em 2021.
Estudando sobre o tantra e sobre ginecologia natural, eu percebi que precisava incluir mais o corpo, não só nas minhas escolhas de vida, mas nos meus atendimentos como terapeuta.
Percebi que, para uma mulher apropriar-se de si e se empoderar, não é o suficiente cuidar apenas das emoções e dos pensamentos, nem somente ressignificar memórias e ajudar a trazer à consciência novas possibilidades escolhas, mesmo que elas incluam hábitos saudáveis.
Era necessário incluir uma reconexão com o corpo, principalmente com o útero e a vagina.
Muitos traumas ficam guardados nessa região e podem ser liberados com recursos naturais, como as yoni eggs (ovos vaginais de cristais usado em culturas ancestrais), por exemplo, ou meditações guiadas e vaporizações uterinas com ervas.
Também estimular que uma mulher reconheça e toque o próprio corpo ajudará muito mais do que apenas aumentar a autoestima; trará à tona crenças sobre não merecimento, falta de permissão para ter prazer, medo de acessar o próprio poder, condicionamentos para alegria, questões sobre autonomia e independência.
A mulher tem um poder incrível. É capaz de gerar a vida, desenvolvê-la dentro de si e nutri-la. E não é à toa que há milênios esse poder vem sendo reprimido pelo patriarcado, estrutura social que se mantém até hoje.
Estamos tão acostumadas a permanecer nesse lugar, muitas vezes, de invisibilidade, silêncio ou menor importância, que ignoramos a possibilidade de um dia a realidade ser diferente.
E a verdade é que um dia ela já foi!
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Por mais distante que isso esteja de nós, com seus resquícios somente em achados arqueológicos, existiram sociedades matrifocais, nas quais a mulher era vista como centro, altamente valorizada por gerar a vida e, entre outros, por seus atributos de cura, capacidade de conexão com o espiritual e comparação com a natureza.
Esses registros não se encontram somente em artefatos e livros; estão presentes no profundo na psique de toda mulher e em nossos corpos.
Esses vestígios esperam para serem vistos, ouvidos e sentidos. São como brasas quase se apagando, mas que, se assoprarmos, podem virar uma chama e – por que não? – uma labareda.
O caminho para isso?
Para dentro! Pelo corpo.