Mudamos o formato do espaço de trabalho, mas quase sempre mantemos a mente fechada. A sala ampla e luminosa, branca ou colorida, moderna, não tem a capacidade de derrubar as paredes do ritmo acelerado e dos moldes muitas vezes cansativos e sem tanto significado a que somos submetidos diariamente.
O exercício que transforma nossa rotina e nos abre a visão além dos olhos físicos, se chama contemplação.
Significado real de contemplação
Contemplar é mais que apenas observar algo.
Quando procuramos o significado mais profundo e exato da palavra, logo nos deparamos com a explicação de que se trata de um estado meditativo. Uma espécie de comunhão espiritual, conexão com o divino, recolhimento interior e mesmo, benevolência. Envolve ainda o termo consideração. Consideramos que não estamos sós, inclusive.
Fica bem evidente que contemplar o que está à nossa volta, é positivo e é uma forma de meditar sem que tenhamos que agendar uma data e um horário ou esperar uma oportunidade de férias.
Aprender a contemplar, envolve se recolocar na vida com um olhar de criança que se encanta e que senta para aprender, sem medo. Um baita exercício para nosso ego que por vezes decide “berrar”.
Contemplar é entregar-se a uma experiência de entrega e certamente há o recebimento de algo neste processo, só que o que nos chega é sempre, sempre uma resposta, uma inspiração, um toque… um presente.
E como contemplar com entrega?
Não é preciso se afastar da vida e subir aos montes mais altos, ainda que de cima a vista seja bem bonita. Antes, é preciso ter o autocuidado como uma disciplina. Cuidar de si é uma responsabilidade intransferível. Dar a mente experiências de relaxamento e descanso. Conceder pausas ao corpo, é uma questão de vida para que não percamos energia sem reposição e não entremos em colapsos.
Outro dia, li uma reportagem sobre os monges beneditinos que circulam pela cidade, frequentam teatros, exposições, almoços com os amigos e entendi o quanto essa vivência traz a eles elementos de inspiração e reposição ao espírito. Ninguém, afinal, é de fato uma ilha.
Ainda que acordem às cinco da manhã, produzam seu próprio pão, cuidem do jardim, respeitem o silêncio e todas as normas, tais monges existem em vida e em um diálogo com o mundo. É esse diálogo que permite que um trabalho de transformação se realize com toda originalidade possível.
Notei, ao ler a matéria, que tudo para eles é um bom exercício de contemplação. Contemplar permite que o divino seja então visto na prática e posto em prática. O que é bem importante!
Citei como inspiração, porque muitas vezes, os muros não são tangíveis, mas são mentais e nos causam uma certa cegueira.
Perdemos a capacidade de olhar para cima de um poste, por exemplo e notar que ali, em meio a cidade cinza, reside um casal de bem-te-vi. O ninho? Atrás da caixa de luz. Todo dia eles cantam no fio e só percebe quem olha um pouco para cima e deixa de olhar incessantemente para o celular.
Em casa, olhar pela janela e menos para os filmes e séries, também pode nos promover uma contemplação com entrega. Uma liberação de beleza e um recebimento de lindas lições.
Eu costumo ver o porto de onde moro. A cada dia, navios novos e à noite uma iluminação linda. Já aprendi muito sobre navios só de vê-los e acho incrível quando a garça passa ao amanhecer bem em frente à varanda, num movimento gracioso que me traz paz. Em seguida, ela desce ao canal e vai pescar.
Contemplar com entrega é isso. É simples. É aprender a estar presente no seu cotidiano. Mas…presente de verdade! É um olhar sem intelectualizar. É um olhar que traz junto uma respiração profunda e um espreguiçar macio. Parece que tudo volta para o lugar e a energia se restaura.
Uma prática meditativa é na verdade, uma prática em que a energia se torna ainda mais ensolarada.
Meditar é lembrar quem somos e nessa lembrança envolver as cenas que compõem nossos dias, através de um olhar amoroso. Precisamos aprender a enxergar a vida, como o mais verdadeiro e doce exercício de meditação.
Contemplar é a prática meditativa que mais pode te transformar num autêntico “yogue”!
Desfrute e carpe diem.
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