Certa vez, após adotar um gato, seu tutor não queria que ele subisse no telhado, com medo que escapasse. Haviam telhas de fibra bem velhas na lavanderia por onde o gato, após subir numa bancada, achava uma brecha e passava pelas telhas, alcançando o telhado. Seu tutor fazia de tudo para impedir que o gato subisse: colocava placas de madeira, tampava as brechas com isopor, pregava onde as telhas estavam soltas, instalava grade de arame e etc., sempre achando que “agora o gato não conseguirá passar!”, entretanto o gato dava um jeito, encontrava uma brecha e flup!, lá estava ele no telhado novamente.
Segundo teorias psicanalíticas, o inconsciente da psique humana pode ser entendido como um vulcão de pulsões e afetos reprimidos e recalcados a buscarem satisfação em algum objeto ou ato. Entre a barreira do conteúdo passível de ser realizado (inconsciente) e as formas possíveis de realizar este conteúdo (consciente), há uma instância chamada superego, que faz o papel de guarda de fronteira, tentando controlar o que passa pela barreira.
Por mais que passe um pensamento de pular de um prédio, cometer suicídio, homicídio e roubar milhões, o superego atua (ou quase sempre, né?) no impedimento desses atos.
Ocorre que muitas das pulsões e afetos que deveriam passar pelo guarda de maneira mais aceitável possível socialmente, não passam, e esse conteúdo vai se transvestir e se traduzir em sintomas: depressão, neurose, angústia, chiste, obsessão, atos falhos, fobias, perversões etc.
Sabe aquele assunto do qual você tem vontade de falar com uma pessoa mas não fala?
Aquele “não” entalado na garganta para determinada situação que não vira atitude?
Aquele “sim” que você gostaria de se permitir mas que por inúmeras desculpas não se autoriza?
Aquela situação familiar emaranhada há décadas envolvendo diversas pessoas, deixando todas de rabo preso, sem ninguém tocar no assunto?
Então… é sobre isso.
Seja da forma que você achar melhor (e existem diversas técnicas para tratar desse conteúdo), a sugestão é cuidar urgentemente disso. Aceitar que existe, olhar, tomar consciência, agir sobre e dar o próximo passo para realizar essas pulsões e afetos. Isso faz parte do desenvolvimento do amor-próprio. Somente assim se abrem entendimentos sobre emoções, sentimentos e pensamentos que constantemente você sente mas não entende a origem.
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O conteúdo inconsciente precisa ser visto — caso você não queira sofrer, claro. Não que ele deixe de existir, mas ter consciência dele permite a você uma autonomia que antes não se encontrava capaz de ter.
É só acender a luz que a sombra sai correndo!
Pode ser colocada a barreira que for, mas inevitavelmente o gato encontrará uma forma de subir no telhado…