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O jogo da vítima: como a manipulação se esconde atrás de uma aparência de sofrimento

Imagem de uma mão masculina manipulando um modelo de brinquedo de madeira.
Moussa81 / Getty Images / Canva
Escrito por Giselli Duarte

Algumas pessoas adotam o papel de vítima como estratégia manipulativa, despertando compaixão e culpa nos outros para obter benefícios. Esse comportamento pode desgastar relações e criar ciclos de dependência emocional. Identificar padrões repetitivos e estabelecer limites é essencial para evitar ser manipulado por essa dinâmica.

Sabe aquela pessoa que já chega se vitimizando para você? Às vezes é um amigo, ou pior, uma pessoa que você nem conhece, que, ao começar uma conversa, logo se coloca como a grande vítima da situação. Pode ser alguém que se apresenta com uma longa lista de problemas, queixas e ressentimentos. Ou, em um cenário mais complexo, um cliente que vem “cheio de dores”, sempre falando de como foi injustiçado e enganado por outros. Esse tipo de comportamento pode ser facilmente confundido com uma expressão genuína de sofrimento, mas, na verdade, por trás dessa máscara de vítima, muitas vezes existe um jogo manipulativo.

O que começa como uma história de desamparo pode, sem que você perceba, se transformar em uma tentativa de controlar as suas ações e emoções. A vítima não está apenas buscando compreensão ou apoio, ela está jogando um jogo psicológico que pode ser muito mais complexo e, até mesmo, perigoso.

Inicialmente, pode até parecer inofensivo. A pessoa compartilha sua história de forma emocionada, como quem deseja apenas ser ouvida. “Eu não merecia passar por isso”, “Me enganei tanto, foi horrível”, “Não sei o que fazer, me sinto tão perdido(a)”, são frases comuns que podem surgir. Aparentemente, a pessoa só quer uma escuta amiga, alguém para desabafar e aliviar a carga emocional.

O problema começa quando essa postura se repete constantemente, não como uma busca por solução, mas como uma forma de manter o centro das atenções e, mais ainda, como um mecanismo para que os outros sintam pena ou culpa. Quando alguém sempre se apresenta como a vítima, sem tomar ações concretas para mudar a situação, é um sinal de que algo mais profundo está em jogo. É nesse momento que o papel de vítima deixa de ser apenas uma expressão de sofrimento genuíno e se torna um jogo manipulativo, onde a pessoa procura manipular as emoções dos outros para atingir seus próprios objetivos.

Essa estratégia manipulativa é mais comum do que imaginamos. A pessoa que se coloca na posição de vítima sabe o poder que a culpa e a compaixão têm sobre os outros. Ela entende que, ao despertar sentimentos de piedade ou preocupação, pode obter o que deseja. A manipulação se torna mais visível quando a pessoa usa sua dor para controlar as ações dos outros, seja para receber ajuda, apoio emocional ou até mesmo favores materiais.

Em um cenário mais intenso, como no caso de clientes ou colegas de trabalho, esse comportamento pode ser uma forma de evitar responsabilidades. Ao se apresentar constantemente como a vítima de uma situação injusta, a pessoa pode tentar desviar a atenção de suas falhas ou erros. Se um cliente reclama que foi “enganado” em uma compra, ele pode, de forma velada, tentar reverter a situação ao jogar toda a culpa sobre o vendedor ou a empresa, sem nunca considerar a possibilidade de sua própria contribuição para o problema.

Esse tipo de comportamento também pode se manifestar de maneira muito sutil, criando um ambiente em que os outros se sentem obrigados a agradar ou apoiar, não por empatia genuína, mas por uma sensação de culpa implantada pela pessoa em questão. Isso é ainda mais evidente em relações onde a pessoa se beneficia do sofrimento alheio, mantendo-se no papel de “coitada” para que outros a tratem com mais atenção e favorecimento.

Quando esse padrão de comportamento se torna recorrente, as relações interpessoais começam a sofrer os efeitos. Quem constantemente se coloca como vítima pode acabar criando um ciclo de desgaste emocional nos outros. Amigos, familiares, colegas de trabalho e até clientes, movidos por um impulso natural de querer ajudar, acabam se sentindo sobrecarregados, frustrados e, muitas vezes, impotentes diante da situação. Por mais que tentem resolver o problema da pessoa, nada parece ser suficiente, pois a verdadeira intenção não é resolver, mas sim continuar mantendo a posição de dependência e controle.

Imagem de um homem irritado em um local de trabalho, simbolizando a manipulação entre os funcionários.
Yan Krukau / Pexels / Canva

Em uma relação de trabalho, isso pode se manifestar por meio de clientes ou parceiros que constantemente se colocam como vítimas de uma situação, tentando manipular as emoções da outra parte para obter benefícios. O problema é que, ao perceber que está sendo manipulado, a relação de confiança começa a se deteriorar. O ciclo de vitimização vai desgastando tanto a quem oferece apoio quanto a quem a recebe, já que, no fundo, ninguém gosta de sentir que está sendo usado ou manipulado.

Reconhecer o jogo da vítima pode ser difícil, especialmente porque quem o utiliza muitas vezes parece genuinamente necessitado de ajuda. O caminho para perceber quando a vitimização se transforma em manipulação está na falta de ação. Quando alguém se apresenta como vítima constantemente, mas nunca toma medidas para mudar sua situação, isso pode ser um sinal claro de manipulação. Em vez de procurar soluções, essa pessoa tende a permanecer no papel de coitada, pedindo cada vez mais apoio sem querer resolver os problemas de forma ativa.

Outro sinal importante é a maneira como a pessoa reage quando não recebe a atenção ou ajuda que espera. Se ela começa a se sentir ofendida ou irritada, acusando os outros de não se importarem ou de não ajudarem o suficiente, isso pode ser um indicativo de que está manipulando as emoções alheias para obter algo em troca.

A melhor forma de lidar com uma pessoa que se comporta dessa maneira é estabelecer limites claros e agir com empatia, mas sem alimentar a manipulação. Oferecer apoio emocional é importante, mas é preciso incentivar a pessoa a também tomar ações para resolver seus próprios problemas. Ao invés de ceder à pressão emocional, é importante ajudar a pessoa a reconhecer a necessidade de mudança e responsabilização.

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Seja em uma amizade, em uma relação profissional ou até com um cliente, estabelecer fronteiras saudáveis e deixar claro que o papel de vítima não vai conduzir às soluções que ela busca é importante. A mudança deve vir de dentro da pessoa, e não ser forçada por manipulação emocional.

O comportamento de vitimização, quando não é tratado adequadamente, pode se tornar um jogo manipulativo que afeta profundamente as relações interpessoais. Quando alguém constantemente se coloca como vítima sem buscar mudar sua realidade, está tentando manipular as emoções alheias para seu próprio benefício. Reconhecer esses sinais e estabelecer limites saudáveis é essencial para evitar que esse tipo de manipulação comprometa as relações e o bem-estar emocional de todos os envolvidos.

Sobre o autor

Giselli Duarte

Nunca fui alguém que se contenta em observar a vida passar. A inquietação sempre pulsou em mim, guiando-me a atravessar caminhos diversos, por vezes improváveis, mas sempre significativos. Não se tratava de buscar respostas rápidas, mas de me deixar ser moldada pelas perguntas.

Meu primeiro contato com o trabalho foi aos 14 anos. Não era apenas sobre ganhar meu próprio dinheiro, mas sobre entender como o mundo se movia, como as relações de troca iam além de cifras. Com o tempo, percebi que meu lugar não seria apenas cumprir horários, mas criar algo próprio. Assim, aos 21, nasceu meu primeiro negócio, registrado formalmente. Desde então, empreender tornou-se tanto profissão quanto paixão.

Mas, por trás dessa trajetória profissional, sempre existiu uma busca interior que muitas vezes precisei calar para priorizar o mundo exterior. Foi somente quando o cansaço me alcançou na forma de burnout que entendi que não podia mais ignorar a necessidade de olhar para dentro. Yoga e meditação não foram apenas escapes, mas verdadeiras reconexões com uma parte de mim que havia sido negligenciada.

Foi nesse espaço de silêncio que descobri o quanto a curiosidade que sempre me guiou podia ser dirigida também para dentro. Formei-me em Hatha Yoga, dentre outras terapias integrativas, e comecei a dividir o que aprendi com outras pessoas, conduzindo práticas e compartilhando reflexões em plataformas como Insight Timer e Aura Health. Ensinar, percebi, é uma das formas mais puras de aprender.

A escrita foi um desdobramento natural desse processo. Sempre acreditei que as palavras possuem a capacidade de transformar não só quem as lê, mas também quem as escreve. Meus livros, No Caminho do Autoconhecimento e Lado B, são registros de uma caminhada que não se encerra, mas que encontra sentido na partilha. Participar de antologias poéticas também me mostrou a força do coletivo, de somar vozes em algo maior.

Cada curso que fiz, cada desafio que enfrentei, trouxe peças para um mosaico em constante formação. Marketing, design, gestão estratégica – cada aprendizado me preparou para algo que, na época, eu ainda não conseguia nomear. Hoje, entendo que tudo se conecta.

Minha missão não é ensinar verdades absolutas, mas oferecer ferramentas para que cada pessoa possa encontrar suas próprias respostas. Seja através da meditação, da escrita ou de uma simples conversa, acredito que o autoconhecimento é um processo contínuo, sem fim, mas cheio de significado.

E você, o que tem feito para ouvir as perguntas que habitam em você? Talvez nelas esteja o próximo passo para um novo horizonte.

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Meditação para quem não sabe meditar

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