Consciência Aplicada

O maior incômodo do intelectual é ter a consciência de que a maioria não tem plena consciência

Garota sentada em ponte olhando para o lago com sol ao fundo
Escrito por Fabiano de Abreu

Todos nós, enquanto seres pensantes, nos debatemos com questões existenciais, de conhecimento ou lógica, que nos afetam de determinada maneira, embora em graus diferentes.

O intelectual vive num mundo que pode ser duro para com ele. Um mundo um pouco solitário e de míngua partilha. É querer externar as suas ideias e sentir que ninguém se mostra verdadeiramente interessado ou, então, perceber que muitos não compreendem nem interiorizam com a mesma lógica ou com a mesma rapidez.

É difícil não ter com quem dialogar e ser compreendido e respondido de forma nivelada; é difícil não sentir que há uma partilha efetiva e sólida. Estas questões podem tornar as pessoas mais inteligentes, em seres solitários a optar (consciente ou não) por ter poucos amigos, pois a maioria das pessoas não os compreendem ou acabam atrapalhando na realização das suas metas.

Mulher andando de costas em gramado
Foto de Mitchell Orr no Unsplash

A questão aqui é que serão poucos os que efetivamente conseguem penetrar no seu mundo e caminhar ao seu lado. A mente do intelectual é esquiva e desacompanhada como se estivesse talhada a percorrer sozinha caminhos que muitos não querem pisar.

Aprender a filtrar essas diferenças, nos traz sofrimento por ter que lidar com nossas dúvidas e incertezas.

“O intelectual liberta-se a partir do momento em que tem a consciência de que é mais inteligente que a maioria das pessoas.”

A realidade deve assumir-se exatamente como é. Esse processo não torna alguém menos humilde ou mais arrogante, é antes admitir a veracidade da situação sem que esta lhe pese no íntimo. É um processo de aceitação.

Tomar posse de si mesmo aumenta a chance de nos aprimorarmos. Quando assumimos que ignoramos determinados conhecimentos, já estamos, de certa forma colocando a cognição em funcionamento, na busca da solução. Trazendo informação, aumentando o potencial criativo e ampliando conhecimento.

Mulher com óculos lendo livro
Imagem de PourquoiPas por Pixabay

Ter a capacidade de reconhecer que não se sabe tudo e tentar aprender sempre mais, demonstrando a sua sede de conhecimento é a base da intelectualidade. Para o intelectual, quando determinado assunto não está nos seus domínios, isso não o torna agressivo ou irritado, funciona antes como uma alavanca de procura para que mais tarde possa debater o assunto e ter a capacidade de argumentar e posicionar-se. É viver com a noção de que a consciência que tem sobre as coisas não é a mesma do que a maioria, é pensar e desconstruir realidades que nem todos têm acesso.

“Ser intelectual é ser curioso, humilde e observador.”

Por oposição, existem muitas pessoas que pensam ter razão dentro de uma razão inexistente, uma razão criada, e justificam os seus pensamentos e atos com raciocínios sem lógica, não compreendendo nem aceitando quando alguém lhes mostra o contrário.

Quando as provas óbvias são dispostas diante deles, mesmo assim, tentam arranjar justificativas para algo que está demonstrando não ser como pensam. São pessoas incapazes de dar argumentos plausíveis sobre a questão e em vez de discutir e tentar articular um pensamento, essas pessoas ofendem-se e desconversam. Não têm a capacidade de ouvir.

Homem mexendo no computador com mão na cabeça preocupado
Foto de Tim Gouw no Pexels

Pessoas que têm uma limitação intelectual, cognitiva, quando não têm formação teórica nem informação, não possuem a intuição da inteligência matricial e então negam. Na negação da informação daquilo que o outro fala, elas criam uma carapaça, uma blindagem para com a humilhação que é o outro ter conhecimento. Mas este tipo de reação dá apenas uma falsa sensação de proteção, quando devemos fazer exatamente o contrário: ouvir a opinião do outro, abrir a mente e enriquecer a própria visão do mundo com outras ideias e pontos de vista e assim ampliar horizontes.

A discussão deve permitir criar o terceiro ponto de vista baseado no diálogo. Duas opiniões divergentes que trabalham para criar uma terceira onde convergem. Quando não existe capacidade de discussão entra o processo de negação. Nega-se o conhecimento do outro e, essencial e especialmente, nega-se a possibilidade de aprender e absorver conhecimentos, cristalizando assim seus limites cognitivos.

Para alguém que se posiciona num direcionamento contrário, torna-se extremamente perturbador que as pessoas ajam dessa forma. Existem ainda pessoas que falam sem ter conhecimento amplo sobre os temas. Quando não se conhece, temos apenas uma opção válida e enriquecedora: conversar, escutar, discutir o tema sabendo quais os limites do próprio conhecimento e, no final, tirar as suas conclusões assentes em discursos e informações válidos.

Garoto sentado com livros antigos sobre a mesa
Foto de Andrea Piacquadio no Pexels

Para os intelectuais, a noção da falta de conhecimento e lógica da maioria das pessoas, sendo que, a falta de um deles interfere, inevitavelmente, no outro, pode ser um transtorno.

Quando a perspectiva sobre a vivência é vista através do prisma de alguém com capacidades acima da média, os detalhes são muito importantes. Eles fazem a diferença. As partes são sempre “maior” que o todo.

O intelectual sabe qual o limite do outro e choca-o quando esse alguém não faz nada para o ultrapassar. O conformismo mata.

Não somos todos iguais na forma como pensamos o mundo, e enfrentar isso como uma realidade auxilia no nosso posicionamento. Seremos melhores em todos os níveis conosco próprio e no tratamento e entendimento dos outros.

“Uma pessoa com um alto QI (inteligência lógica), e sem qualquer desvio que possa afetar a sua amplitude intelectual, pode aprimorar a sua inteligência emocional (QE) já que a sua inteligência lógica dará a racionalidade para alcançar o aprimoramento comportamental.”

Há um exemplo que posso usar para demonstrar esta questão da consciência da realidade e das diferenças que nos marcam.

Imaginemos que estamos numa sala de cinema. Há quem entre e se concentre no filme que passa na tela. Nada mais. Por outro lado, há quem entre e observe o espaço, veja o filme, esteja atento às reações e expressões das pessoas que partilham com ele aquele mesmo lugar e experiência assim como perceba a mensagem do filme e todas as nuances nele existentes nos mínimos detalhes. Toda a vivência é mais encorpada assim como a simetria do lugar é reparada.

As perspectivas são diferentes e as pessoas funcionam de forma diferenciada. Não podemos exigir e querer que todos tenham a mesma capacidade de observação e absorção.

Aqui entra a aceitação. Saber entender as diferenças. Saber que, por vezes, há pessoas que veem além da maioria, pensam e racionalizam mais do que a maioria, que o óbvio não é sempre assim tão óbvio, e que a lógica pela qual se regem não está ao alcance de todos.

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Para finalizar, o expoente máximo é unir sabedoria e usar em toda a sua extensão a intelectualidade e a inteligência que nasce conosco. Unir a nossa inteligência inata a uma procura constante de conhecimento, de absorção de informação. O cultivo do intelecto para se ter base, saber posicionar-se, saber de si e do outro. Ser a nossa melhor versão. Buscando por novas atualizações que permitam um funcionamento cognitivo mais apurado e afinado com o que temos de melhor: conhecimento.

A associação Mensa, de pessoas mais inteligentes do mundo, constatou que apenas 2% da população mundial têm o percentil maior que 98, considerando-as como superdotadas.

Sobre o autor

Fabiano de Abreu

Fabiano de Abreu Rodrigues é um jornalista, psicanalista, neuropsicanalista, empresário, escritor, filósofo, poeta e especialista em neurociência cognitiva e comportamental, neuroplasticidade, psicopedagogia e psicologia positiva.

Pós PhD em Neurociências e biólogo membro das principais sociedades científicas como SFN - Society for Neuroscience nos Estados Unidos, Sigma XI, sociedade científica onde os membros precisam ser convidados e que conta com mais de 200 prêmios Nobel e a RSB - Royal Society of Biology, maior sociedade de biologia sediada no Reuno Unido.

É membro de 10 sociedades de alto QI, entre elas a Mensa, Intertel, ISPE, Triple Nine Society, coordenador Intertel Brazil, diretor internacional da IIS Society e presidente da ISI e ePiq society, todas sociedades restritas para pessoas com alto QI comprovados em testes supervisionados. Criou o primeiro relatório genético que estima a pontuação de QI através de teste de DNA e o projeto GIP - Genetic Intelligence Project com estudos genéticos e psicológicos sobre alto QI com voluntários.

Autor de mais de 50 estudos sobre inteligência, foi voluntário em testes de QI supervisionados, testes genéticos de inteligência e estudo de neuroimagem já que atingiu a pontuação máxima em mais de um teste de QI em mais de um país corroborando com os demais resultados genéticos e de neuroimagem.

Proprietário da agência de comunicação e mídia social MF Press Global, é também um correspondente e colaborador de várias revistas, sites de notícias e jornais de grande repercussão nacional e internacional.

Atualmente detém o prêmio do jornalista que mais criou personagens na história da imprensa brasileira e internacional, reconhecido por grandes nomes do jornalismo em diversos países. Como filósofo, criou um novo conceito que chamou de poemas-filosóficos para escolas do governo de Minas Gerais no Brasil.

Lançou os livros “Viver Pode Não Ser Tão Ruim”, “Como Se Tornar Uma Celebridade”, “7 Pecados Capitais Que a Filosofia Explica” no Brasil, Angola, Paraguai e Portugal. Membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo, Fabiano foi constatado com o QI percentil 99, sendo considerado um dos maiores do mundo.

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