Penso que, desde que nascemos, já sentimos o medo da separação.
Medo, principalmente, da mãe nos abandonar. E, por isso, somos tão entregues ao sentimento de doação e confiança plena a quem cuida de nós.
Aprendemos, desde cedo, a esperar do outro, a nos fundir com algo ou alguém além de nós.
Com isso vamos nutrindo, ao longo da vida, nosso estado mental da criança emocional, aquela nossa versão cujo foco está sempre direcionado à aprovação, atenção e respeito alheios.
Obviamente, somos todos seres feitos de apego! Não há muito como desvencilhar certas partes infantis do adulto saudável, não é mesmo? Tendemos sempre a nos posicionar de forma impulsiva e emotiva, colocando à frente o que nos feriu e ainda fere, nossas ausências e lacunas em aberto, no que tange nossa criança.
A busca parece incessante por suprir inúmeros espaços em branco e que, na mesma medida, fazemos inúmeras concessões ao longo da vida, ainda que, no fundo, bem lá no fundo, discordemos por completo. Aí vem aquela sensação de: por quê? Por que raios eu agi dessa maneira? Por que sempre faço mais para os outros e menos para mim? Por que é sempre igual? Como posso sair dessa roda louca que parece nunca ter fim?
Todo esse universo perfeitamente cíclico nos acompanha em diversos setores da vida, seja no campo profissional, seja no amoroso, no familiar…. sempre existe uma criancinha abandonada, num canto bem escondido de nossa alma, pronta para gritar, chorar ou atribuir ao outro nossa infinita carência. Haja sofrimento!
Afinal, enquanto crianças, firmamos contratos inconscientes com as pessoas que cuidam de nós. Em troca de quê? Amor, claro! Sempre o amor. E, com isso, concordamos em acomodar a nossa energia vital e a nossa natureza, para corresponder às expectativas dos outros — seja nossa família, seja a sociedade de um modo geral, ou quiçá os professores, que, por boa parte da vida, estão ali, também ao nosso lado.
E assim seguimos nos desenvolvendo, de olho no que irão pensar de nós — se nossos atos serão ou não aprovados, se estamos a realizar tal tarefa com destreza e precisão.
Tudo tem seu preço! E nós pagamos cada centavo para não nos sentirmos sós.
Existe sempre aquela admiração intrínseca por pessoas que conseguem se soltar dessas amarras ou armadilhas emocionais. Ainda que se preze o que se tem, o que se construiu, no fundo, todas as pessoas desejam, secretamente, ter suas próprias vidas, caminhar com as próprias pernas e não derrapar tanto no sentimento alheio.
O medo da solidão é um fato, uma realidade. O desmame natural da vida é importante e tem sua valia — palavra de mãe de três, que amamentou cada uma por dois anos! Não existe arrependimento, pois fiz o que, naqueles momentos, pensei ser o mais correto para o bom desenvolvimento de minha prole; porém, isso também não deixa de ser uma doação, uma entrega, uma abdicação.
Por não ter sido amamentada — veja, em mim havia uma lacuna —, eu então desejava preenchê-la por meio dessa minha nova criação. Era algo que eu precisava integrar, em mim, em minha criança ferida, que se sentia abandonada. E, sim, temos memória desde o útero de nossas mães. Eu quis trazer esse sentimento do apego para perto, a fim de completar o álbum que atesta minha suposta separação de minha mãe.
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E, assim, todos e todas caminhamos, com o medo de nos separar do outro, de perder algo valioso. Entretanto, não podemos esquecer que as concessões normalmente têm suas raízes nos contratos negativos que firmamos lá trás, justamente com essas primeiras pessoas que cuidaram de nós. Por isso, é tão necessário que olhemos para isso com maior grau de autocuidado e dignidade, para não nos tornarmos seres dependentes de amor, que vivem em constante estado de ansiedade, em busca de aprovação.
Pensemos nisso… e ótima semana!