É intrigante como certas coisas parecem ser mais antigas do que o próprio tempo. Quando adolescente, eu costumava olhar o céu nas noites estreladas de ventania e sentia uma atração cósmica inexplicavelmente linda que me invadia pelos olhos e depois preenchia cada célula com encanto, curiosidade, magia, poesia e um senso de dever, tudo junto e misturado. Tinha a impressão de não pertencer àquele tempo. Parecia que camadas e camadas de eras antigas adormeciam dentro de mim, mas ainda não podiam se revelar completamente.
Às vezes, desejei (ainda acontece) ser capaz de ver as coisas com os olhos práticos e pragmáticos daqueles que não percebem o mundo para além da realidade nossa de cada dia. Talvez acreditar somente que nada há de maior e mais esplendoroso do que aquilo que vemos com nossos olhos mortais seria uma boa maneira de viver. Será que isso poderia trazer mais felicidade, paz, alegria e sorrisos? Por um certo tempo, sim. Para muitas pessoas, também sim. Só que, indubitavelmente, não para mim! Impossível para o menino que sempre teve o universo latejando dentro de si, inimaginável para o garoto que cresceu convivendo com deliciosos abalos sísmicos internos, como se placas de galáxias soltas se movimentassem em sua alma tal qual uma dança, um tango, uma coreografia cósmica pronta para ser exibida para toda a plateia humana.
Ainda hoje, continuo a sentir aquelas mesmas coisas. O velho senso de dever que brilhava com as estrelas continua aqui comigo, intocado. As noites dos tempos que apareciam em flashes, no meio das ventanias, surgem quando olho o céu azul límpido de outono, ou nos entardeceres avermelhados capazes de nos hipnotizar com tanta beleza (e mistério), nas manhãs escuras quando acordo e abro a janela pra dar um olá para Deus e agradecer por mais um dia, ou em vários e inusitados momentos em que lampejos de conexão com o divino acontecem.
Eu vim de longe, de muito longe. Nem mesmo me lembro de onde, mas sei que meus passos já trilharam as nebulosas, atravessaram constelações, contornaram buracos negros. Talvez tenha atravessado buracos de minhoca, rompendo distâncias, encurtando caminhos e surpreendendo as areias que escorrem nas ampulhetas dos séculos antes mesmo que findassem seu escoar.
Tão interessante quanto a própria jornada interestelar, magnífica por natureza divina, é o fato de não me recordar do propósito pelo qual fui enviado. Sim, são as regras do jogo, e sou parte importante no posicionamento estratégico das peças pelo tabuleiro. A insignificância aparente que carrego esconde a grandeza da tarefa destinada a quem foi enviado para uma posição estratégica em um posto avançado, localizado em terras distantes.
Sei que, às vezes, chego a sentir a presença quase que física da solidão me fazendo companhia. De vez em quando, sinto saudades do meu mundo e, por mais que ame este mundo em que estou, o chamado de casa bate forte no peito, as estrelas chamam, os planetas acenam ao mínimo relance de olhar depois do pôr do sol e, sim, sinto vontade de embarcar na viagem de volta, mas o cumprimento da missão fala mais alto. Então, é nesse exato momento que bate a gratidão pela oportunidade recebida.
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Um dia voltarei! Meu disco voador deve estar estacionado por aí, talvez a oeste da órbita terrestre, na sombra de uma estrela, talvez protegido no centro de um cinturão de asteroides, ou até mesmo bem guardado embaixo dos anéis de Saturno. Vai saber. Na hora em que precisar, vou, com toda certeza, me lembrar.
Enquanto isso, sigo por aqui, junto aos terráqueos. Acordo todos os dias imbuído do propósito de acordar os outros. Dar corda aos corações humanos é minha linda tarefa neste espaço-tempo privilegiado. Ser feliz, aprender, inspirar e ensinar são minhas atribuições. Minha camada humana às vezes sofre um pouco. Não ligo. Procuro aprender com isso porque sei que será bom para mim. No dia em que retornar para casa, estarei ainda melhor e talvez receba outras missões importantes em outros pontos do universo onde possa ser útil. Eu…
O MENINO DAS ESTRELAS!