Cidadania

O meu partido sou eu!

Escrito por Alex Gabriel

Ao entendimento de alguns, a afirmação que dá título a este artigo pode haver soado um tanto arrogante, egoísta ou até mesmo antipatriota, dado o fato de ser inspirada em afirmação semelhante recentemente adotada por determinada vertente ideológica, nesses tempos de acirrada polarização política – “O meu partido é o Brasil”.

Manifestantes brasileiros.

Afirmar-se como o seu próprio partido, no entanto, vai na contramão de todos esses adjetivos – possivelmente mais aplicáveis a determinadas vertentes políticas –, vez que se constitui como um ato revelador de uma rara coragem e disposição para assumir, verdadeiramente, o protagonismo no contexto social, ao contrário de tantos que o entregam de bandeja – ou na urna – a mitos, heróis e “mães” na doce ilusão de estarem atuando como protagonistas quando, na verdade, não passam de meros coadjuvantes…

Testemunhando, diariamente, e de ambos os lados, tão intensa expressão de vulnerabilidade, fico me questionando quando foi que abrimos mão de nosso poder pessoal para delegarmos a outrem o governo de nossas próprias vidas. E convém que não sejamos ingênuos neste ponto: é óbvio que a política exerce influência direta em nosso dia a dia, e isso é notório para qualquer pessoa que vivencie rotinas simples, como utilizar o transporte público, ir ao supermercado, ir ao trabalho (ou procurar um). Ninguém está a negar, portanto, a fundamental importância de se pensar a política. Pelo contrário, estou a sugerir um olhar menos fatal, menos dramático para os rumos que toma a nossa política.

Urna eletrônica.

As escolhas estão aí, e por enquanto, nós somos livres para fazê-las, o que me parece louvável. Todavia, antes de nos deixarmos cegar por tendências ideológicas, aderindo a determinadas ideias sem saber o que está incluso no pacote, vamos nos ater aos nossos dons, aos nossos talentos e ao nosso potencial, que é onde está concentrado todo o nosso poder de transformar a nossa vida e a vida dos que nos rodeiam.

Busquemos inspiração em sujeitos raiz.

Mulheres, negros, homossexuais e afins que deram a cara para bater em tempos em que a sociedade declaradamente lhes negava o direito de fala. São eles pessoas que reconheceram o seu poder pessoal, e ao se comprometerem a experienciar plenamente a própria vida, acabaram por abrir espaço aos que viriam em seguida.

Jovens fazendo manifestação.

Contudo, não é de surpreender que em uma sociedade cuja educação tanto negligencia temas essenciais como autoconhecimento, desenvolvimento pessoal, inteligência emocional e afins, os cidadãos estejam tão vulneráveis, tão inseguros e tão passionais politicamente, escolhendo aqui e ali políticos que assumam o papel de pais, mães e heróis.

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É claro que é um tema complexo, mas eu me arrisco a dizer que muito dessa passionalidade se deve ao fato de vivermos em uma sociedade que nunca incentivou o hábito de olhar para si próprio. Ademais, nós somos um povo tão historicamente calejado e marcado pela escravidão, por regimes autoritários, pela desigualdade social e afins, que não é de surpreender que nos entreguemos tanto e tão irrestritamente a promessas de liberdade.

Essa tal liberdade, aliás, tão exaltada tanto à direita como à esquerda, é comumente tida como ameaça em ambos os lados. Ora! Se assim é, não seria mais sábio buscar o exercício da mesma fora das prisões ideológicas, muitas das quais dedicadas a exaltar a liberdade sem tê-la de fato como um fim? E ao fazê-lo, não seríamos nós cidadãos mais autênticos e realmente empoderados?

Ilustração de uma pessoa presa com pensamentos presos.

Autoconhecimento e comprometimento consigo mesmo gera compromisso com a verdade, e quem se compromete com a verdade não se permite ser seletivo quanto a sua indignação e humanidade, não critica uma ditadura enquanto faz vista grossa para outras, não sai às ruas bradando por respeito e empatia enquanto faz ouvidos moucos à súplica de quem pensa diferente, não define como meta transformar o mundo… sem antes haver arrumado o próprio quarto.

Inclinações ideológicas todos nós sempre teremos.

Parece-me louvável, porém, que elas sejam posteriores a uma cuidadosa definição de princípios e valores, pois é daí que terá origem a tão necessária (e rara) coerência e flexibilidade em política.

Mão levantada em protesto.

Em tempos de mudanças, seguiremos tendo apenas a nós mesmos, razão pela qual é mister que tomemos consciência de quem somos e do que somos capazes. E não se trata de meritocracia. Se trata de esgotarmos todas as possibilidades dentro do nosso campo de ação antes de aceitarmos o rótulo de oprimidos que a sociedade, a mídia e até a escola tanto tenta nos impor. Se trata de assumirmos a responsabilidade por nós mesmos em lugar de esperar que nossos governos cumpram com a obrigação de nos proporcionar uma existência digna. Se trata de tomarmos posse de nossa herança divina enquanto filhos da luz que somos. É por isso que o meu partido sou eu.

Sobre o autor

Alex Gabriel

Mineiro de Belo Horizonte, Alex Gabriel é graduado em Letras e especialista em Revisão de Textos pela PUC Minas. É poeta, pai adotivo das vira-latas Diva e Nathalie, tem sempre um bom livro a tiracolo, acredita na Educação e vive cheio de fé na humanidade.

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