Na área de investimentos virou lugar comum avisar: “desempenhos passados não garantem retornos futuros”, nem por isso as pessoas deixam de olhar como o passado foi. Julgamos pessoas também, com base em seus desempenhos passados: a criança que repetiu um ano é forte candidata para fazê-lo de novo, os amigos nos avisam que a pessoa infiel não há de se consertar simplesmente. Estamos certos ou errados quando fazemos esse tipo de avaliação?
Fazemos apostas no futuro, pois é o futuro que nos importa. Fazemos inferências no passado, pois é a única coisa que conhecemos. Muitas teorias psicológicas vão defender o peso do passado na formação do comportamento presente. Para o comportamentalista, o comportamento é resultado de uma série histórica de respostas que foram emparelhadas aos estímulos (reforços e punições). Na psicanálise clássica, a raiz de nossos dilemas encontra-se na infância, fruto de nossas relações significativas anteriores.
Não estão errados ao atribuir a gênese de nossos comportamentos aos eventos anteriores. No entanto sempre prefiro enfatizar uma força que é componente vital e determinante de nossos atos: a vontade. Sim, há hábitos, certas tendências de personalidade, até mesmo alguns automatismos dos quais é mais difícil desviar. Mas isso não significa que estejamos determinados. Não há campeão que não tenha, vez ou outra, sido derrotado. A boa vontade ou, como costumamos falar, a força de vontade supera muitas adversidades, inclusive aquelas que estão em nós mesmos. É ela capaz de superar tudo? Certamente não. Mas o que ela consegue superar só podemos efetivamente dizer depois de algumas tentativas. E, inúmeras vezes, uma, duas ou três tentativas não fazem uma amostragem confiável.
A verdade é que podemos relativizar o sucesso de alguém, por não sairmos todos do mesmo ponto. É claro que algumas vitórias são mais fáceis para uns do que para outros. Mas não existe sucesso ou vitória que estejam embasados em uma vontade de suceder e algum grau de força de vontade. Nossas frustrações são parte de nós? Não há dúvida. Mas não é o mesmo que dizer que sejam elas que nos definem. Nosso passado faz parte de nós? Não há dúvida. Mas isso não é o mesmo que dizer que seja ele que nos define.
O mundo muda a todo instante. O partido que geria ontem, hoje faz oposição. Pessoas relevantes em nossas vidas partem, outras chegam. Não estudamos para sempre a mesma coisa, dificilmente ficamos a vida inteira no mesmo emprego. Por que acreditamos mesmo que o futuro será igual ao passado? Se o futuro é o que importa, por que nesse momento olhar para trás? Eu prefiro acreditar no oposto: ligeira que seja a diferença, nada permanece sempre o mesmo.
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