Hoje, no Dia Mundial da Amamentação, resolvi falar desse tema que julgo, mesmo não sendo mãe, muito importante para o bem-estar dos bebês e o desenvolvimento do ser humano. Entrevistei uma das minhas melhores amigas, a Fabíola Corrêa, que está passando por esse processo pela segunda vez e a pediatra, Dra. Marcia Lika Yamamura, para falarem do assunto. Inicialmente a ideia era fazer uma matéria mais formal, bem jornalística mesmo, rs. Mas acho que um conteúdo tão lindo, merece mesmo um texto mais humano, mais próximo, mais “vem aqui, vai ficar tudo bem!”.
Levantei alguns pontos que gostaria que Fá falasse e a deixei livre para discorrer sobre como bem quisesse. Já para a Dra. Marcia fiz algumas perguntas que vou linkar com trechos do depoimento para que tudo aqui faça sentido.
Quis saber sobre como os grupos formados nas redes sociais podem contribuir no amparo de pessoas que dividem a mesma dor, já que muitas vezes, os familiares e amigos próximos, por mais amor que possuam, não conseguem auxiliar da maneira que precisamos:
Fabíola – Eu faço parte de dois grupos de mães no Facebook, um formado por mulheres que buscam e defendem o parto natural (dentre outras coisas), outro por consultoras de aleitamento e mulheres que procuram amamentar prolongadamente seus filhos em livre demanda.
O primeiro eu conheci quando estava grávida da minha primeira filha, a Maitê. Foi nesse grupo que fiz amigas importantes durante o solitário pós-parto. Caminhamos juntas até hoje e nossos filhos de 4 anos se conhecem desde os 3 meses!
Já o grupo de amamentação me ajudou a lidar com uma das missões mais lindas e difíceis de uma mãe: alimentar seu bebê. Ali encontrei dicas de ouro quando tive hiperlactação (excesso de leite), mastite (inflamação das mamas) e quando voltei a trabalhar e precisei estocar leite.
Esses grupos até hoje me trazem o sentimento de pertencer, de não ser a única a passar por aquilo. Neles encontro acolhimento, empatia e relatos que me acalmam.
Hiperlactação
De acordo com a Dra. Marcia a hiperlactação é o excesso de leite materno, ou seja, produz-se mais leite que o bebê consegue mamar. Isso pode ocorrer devido ao não ajuste da produção com a necessidade do bebê e geralmente se normaliza por volta de dois meses após o parto. Há mulheres que possuem um número maior de glândulas e, portanto, a produção é maior. Também, quando se extrai o leite (para armazenar), pode-se ter um excesso na produção, levando ao empedramento das mamas.
Caso não ocorra o ajuste na produção, pode-se doar o leite em excesso para o banco de leite.
São sinais de hiperlactação se o bebê engasgar ou tossir enquanto mama devido ao grande fluxo de leite. Isso pode ser confundido com refluxo, então procure sempre o pediatra, que avaliará, além do ganho de peso do bebê, se a pega está boa e a mamada está sendo eficiente.
Para o bebê não se engasgar durante a amamentação, o principal é a posição adequada que garanta a ingestão do leite. O nariz do bebê deve estar livre para que ele respire, abocanhando toda a aréola da mama, e enquanto ele mama, não devemos ouvir nenhum barulho a não ser o dele engolindo o leite. Isso porque se a pega não estiver correta, o bebê engole muito ar, indo parar no estômago, distendendo-o e não deixando espaço para o leite.
A Fabíola que está enfrentando esse processo novamente dá suas dicas de mamãe porreta que é:
– Fazer compressas geladas por 5 minutos a cada 2 horas;
– Só tirar o leite se empedrar ou o bebê não conseguir abocanhar, para não estimular ainda mais a produção;
– Dar a mesma mama por 2 horas, só então trocar;
– Amamentar em outras posições, como a de cavalinho, com o bebê sentadinho na perna;
– E não desanimar! Uma hora a produção se equilibra!
Você já ouviu falar de Amamentação por Livre Demanda?
Basicamente é amamentar o seu bebê sempre quando ele quiser. A Fá optou por essa prática, e eu que acompanhei muitos desses momentos, posso dizer o quanto ela foi entregue, paciente e guerreira. Porque não só exigiu dela fisicamente e psicologicamente, como também a colocou na mira dos julgamentos alheios, já que essa decisão a deixou exposta milhares de vezes. Ela conta um pouco sobre isso pra gente:
“A Maitê eu amamentei em livre demanda até os dois anos e meio, quando fiz o desmame gentil, ou seja, sem que ela sofresse. Com a Cecília, agora no auge de seus 40 diazinhos de vida, seguirei o mesmo caminho!
Eu acredito muito na teoria da exterogestação, que diz que os bebês humanos nascem com o sistema nervoso imaturo por conta da passagem do crânio no parto (os filhotes animais nascem e já andam, por exemplo!). Então os nosso bebês vivem fora da barriga mais um período de gestação e precisam muito de acolhimento para não sofrerem. O peito e o colo da mãe são onde o recém-nascido encontra segurança.
Sobre a exposição me sentia acuada em amamentar na frente dos homens conhecidos, até dentro da minha própria casa. Eu me trancava no quarto pra isso. Meu marido fechava a cortina pros vizinhos não verem. Foi uma desconstrução conjunta de que aquilo não era sexual e de que me esconder estava prejudicando a amamentação da nossa filha. Aos poucos fui me livrando dos paninhos e da vergonha, me empoderando e passei a dar de mamar, com orgulho, em qualquer lugar, na frente de qualquer pessoa!”
Sobre a importância da amamentação
Dra. Marcia – A conscientização da importância do aleitamento materno é a única forma para que as mamães compreendam que seu leite é melhor que qualquer fórmula fabricada. As campanhas são muito importantes, pois aquecem a discussão e a propagação da informação. Mas o principal papel também é do pediatra que irá acompanhar a mamãe e o bebê. Ele/ela quem assistirá e será o apoio para que a mãe tire suas dúvidas e se sinta confiante no aleitamento materno. Fórmulas são feitas para os bebês cujas mães não possuem leite suficiente para atender a demanda diária ou para os que têm algum tipo de intolerância ou alergia.
Fabíola – Amamentar é maravilhoso, mas muito doloroso! Primeiro vem a dor física mesmo… enquanto o bebê não sabe abocanhar direito, os mamilos racham e até sangram. É preciso ter muita determinação para continuar a dar de mamar. Depois vem a disponibilidade. Mamadeira qualquer um pode dar e ela sacia por mais horas. Peito só a mãe e a digestão do leite materno é muito mais rápida. É muito cansativo. Mas o leite materno é a primeira vacina do bebê. Uma fonte riquíssima de vitaminas e de tudo o que ele precisa para crescer saudável.
Dicas práticas para as mamães
Dra. Marcia – A melhor forma para facilitar a amamentação, além da conscientização da futura mamãe, é que ela prepare as mamas antes do parto. Tanto a conversa, as dúvidas, o preparo das mamas deve acontecer antes, ou seja, antecipar algumas medidas ajudam e muito. Hidratar os mamilos é muito útil, pois evita as rachaduras que são muito dolorosas na amamentação. Há mulheres que possuem o mamilo invertido, ou pouco saliente, e pode-se estimular por meio de aparelhos específicos; facilitando a “pega” do bebê à mama na hora de mamar. Como o estímulo da sucção do bebê promove uma fricção ao mamilo, quanto mais difícil for a saída de leite, maior será o atrito na sucção, predispondo às fissuras.
A mastite é uma condição que afeta comumente as mamães e podem ser evitadas esvaziando-se completamente a mama, variando a posição para amamentar e colocando o bebê na posição adequada para mamar. A higiene das mamas e da boca do bebê também previne o aparecimento da mastite.
Dica de ouro da Dra. Marcia – Acupuntura:
“A acupuntura é bem indicada durante toda a gravidez e também auxilia no processo de engravidar, principalmente nas mulheres inférteis. Durante a gravidez, a acupuntura auxilia no tratamento das náuseas e enjoos característicos desse período, assim como para as dores nas costas, dores de cabeça, etc. Na amamentação, a acupuntura comprovadamente auxilia no aumento da lactação, ou seja, na produção de leite materno; além de ajudar na ansiedade que as mamães podem ter nesse período de adaptação com o recém-nascido.”
As mamães são bombardeadas com informação, cobrança em que é totalmente compreensível sentir aquele aperto no peito e questionamentos sobre essa etapa da maternidade. A Fá como mamãe de segunda viagem deixou um recadinho carinhoso e de acolhimento para todas que estão vivendo esse momento:
“Para as mulheres que estão inseguras em amamentar: acreditem no seu corpo. Confiem que ele sabe o que fazer. Se entreguem. Não pensem muito, sintam. Peito não é estoque, é fábrica! O leite é produzido enquanto o bebê mama. Se ele sugar, você terá leite. 90% do sucesso nesse processo está na determinação! Tamo junta!”
E o que eu posso dizer para você mamãe, que está lendo esse texto, é que tenho certeza que você fez e está fazendo o seu melhor. Vi e estou vendo isso na Fá, em todas as minhas amigas mães, na minha cunhada e quase que diariamente em histórias lindas que chegam a mim.
Muito orgulho de vocês! Gratidão por me ensinarem tanto, coisas que talvez nem façam ideia. Admiração resume!
Fabíola Corrêa: jornalista, roteirista e criadora do Instagram de maternidade real @mae_loki
Marcia Lika Yamamura: Médica pediatra, com especialização em infectologia pediátrica e professora da Escola Paulista de Medicina, com diversas especializações em acupuntura. Sua missão é difundir o conhecimento da Medicina Chinesa e os benefícios da acupuntura para toda a população.
Você também pode gostar de outro artigo da autora: Como encontrar e viver um grande amor!