Energia em Equilíbrio Tai Chi Chuan

O poder invisível do Tai Chi Chuan: Sobre o Dantian e o Tao

Escrito por Luciano Imoto

Depois de esclarecer o conceito “Yin-Yang” no Tai Chi e a sua função de regular o sistema nervoso cujos sinais bioelétricos (“Chi”) propiciam nossos movimentos e reflexos (Artigo 1 e Artigo 2), irei comentar sobre o “Dantian” e o “Tao” em um contexto científico.

Começarei pelo Dantian, normalmente traduzido do esoterismo chinês como “Mar de Chi”.

Considerando a sua localização anatômica no ponto médio entre a cabeça e a bacia, o Dantian abrange as coxas e as virilhas, incluindo a pélvis e a linha da cintura e da lombar, na fronteira entre o abdome e o diafragma.

Só após tomar consciência dos órgãos, ossos, musculatura e tecido conjuntivo dessa área dos quadris, o praticante poderá afirmar que deixou de ser um principiante na prática do Tai Chi.

É que nessa arte marcial interna o “poder de parada” é diferente dos demais estilos de luta. Enquanto as outras utilizam da força mecânica e do momentum dos braços e das pernas para atacar e se defender, no Tai Chi o importante é a correta aplicação do movimento proveniente do Dantian.

Mediante os exercícios certos, surgirá um novo “core” com o encontro entre os centros de gravidade e de massa separados na maioria das pessoas por diversas razões que explicarei em outro artigo. A execução da Forma do Tai Chi composta de uma sequência coordenada e suave de poses e sutis transições entre cada gesto e postura ajuda o centro de gravidade no plexo a descer e coincidir com o centro de massa no interior do ventre e abaixo do umbigo. Por isso, na visão dos antigos mestres guerreiros do Tai Chi, a chave estava na aplicação correta do poder que surge desta união de núcleos vitais. Antes do advento do Tai Chi, muitos se limitavam a fortalecer apenas a musculatura na falta do conhecimento para aproveitar o Dantian no combate. O resultado, quando se desconhece os princípios básicos do Tai Chi, é uma carreira marcial curta, limitada à força bruta e à velocidade, qualidades destinadas a se deteriorar com o avanço da idade. Por outro lado, no Tai Chi a ênfase recai na precisão e no ritmo, talentos que são progressivamente melhorados e aumentados sem depender do vigor da juventude.

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Para um mestre do Tai Chi, ninguém nasce com um Dantian pronto. É preciso criar e cultivar um no próprio corpo. Caso contrário, a energia cinética somada aos impulsos neurais que desceram do cérebro até os pés e ricochetearam de volta pelas pernas será perdida nas articulações. Com esse desperdício, o praticante ficará vulnerável e precisará apelar para a força e a rapidez. Essa é a maneira ineficiente de lutar e vencer. Muitas vezes, o emprego não-inteligente da força pecará por excesso ou falta, e as consequências poderão ser desastrosas. Enquanto nos esportes os seus praticantes têm o privilégio de competir nas suas categorias de peso, gênero e faixa etária, a força e a rapidez podem ser medidas e definir quem é o campeão nas regras. Já o Tai Chi floresceu e sobreviveu durante um período de guerras sangrentas na China e seus representantes enfrentaram desafios mortais que nenhum esporte radical consegue simular.

Mas qual foi a solução eficiente encontrada por aqueles velhos guerreiros?

Uma que exigisse o poder de um simples toque e nenhuma força extra ou movimento veloz para ser executado. Porque de acordo com o livro “A Arte da Guerra” de Sun Tzu, o essencial para se alcançar a vitória é a aplicação acurada e bem dosada do poder, e não a sua quantidade. Quanto tempo você acha que um lutador iria durar se ele estivesse incapacitado de se manter equilibrado? Lembre-se que para comprometer a precária estabilidade do corpo humano, um pequeno empurrão ou puxada no ângulo e na direção certa é suficiente. A queda causada por tal desequilíbrio, em última análise, supera o poder de destruição de socos ou chutes, afinal nada golpeia tão forte quanto o impacto da aterrissagem.

Outra vantagem de se usar o Dantian para acelerar a energia ao longo da coluna até a cabeça e as extremidades de cada dedo, é que não haveria como enfrentar um mestre sem correr o risco de entrar em contato com alguma parte dele. Por essa razão os grandes professores do Tai Chi eram temidos e nunca tiveram de usar manobras realmente drásticas para manter a sua reputação. A simples presença deles em um ambiente desestimulava o ímpeto agressor dos oponentes acostumados a abusar da violência. E os mais sensíveis percebiam que aqueles especialistas do Tai Chi eram capazes de desencadear lesões graves com um mero toque. E se mesmo assim alguém ousasse testá-los, sentiria como se tivesse sido arrancado do chão pelo vento.

Armado com essa fenomenal habilidade marcial, o praticante de Tai Chi se conecta a ordem natural do universo que os sábios chineses denominaram de “Tao”, ou “O Caminho”. Aliás, ao preservar a notória emissão de força explosiva do Tai Chi também sinergizamos o seu lado terapêutico.

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Esse é o “Tao” do Tai Chi: posicionar o corpo como um canal intermediário entre o Céu e a Terra. Aumento da resistência diante de ameaças internas e externas, e uma lucidez e vitalidade incomuns são os benefícios básicos que o Tai Chi propicia em longo prazo ao estimular o sistema imunológico e ampliar o seu fator de cura e proteção da medula até a pele e além.

Quando conseguimos irradiar esse poder que passa pelo Dantian, automaticamente reingressamos no “Tao”. Entrar em ressonância com a atmosfera e em equilíbrio com as forças ao redor nos deixa relaxados e descontraídos, contentes com o fato de estarmos vivos neste instante presente e saudavelmente curiosos e confiantes com o que a vida nos reserva no futuro. É o fim do estresse mental e o início de uma existência mais pacífica e racional.

Esse fascinante estado de contemplação é decorrente da atenção dirigida no treinamento da Forma e nos demais exercícios energéticos do Tai Chi.

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E se o “Tao” lhes trouxe aqui e vocês estão lendo este artigo, então é o momento de experimentarem o Tai Chi e comprovar o imenso potencial de bem-estar, liberdade e segurança que esta arte lhes ajudará a descobrir e desenvolver.

Sejam bem-vindos!

Artigo 1: O poder invisível do Tai Chi Chuan

Artigo 2: O poder invisível do Tai Chi Chuan: Yin-Yang

Sobre o autor

Luciano Imoto

Professor Luciano Imoto

Diretor da ACADEMIA IMOTO, idealizador do MÉTODO IMOTO, instrutor de defesa pessoal (GUIDED CHAOS), Tai Chi Chuan e condicionamento físico (MMA Fitness) para homens, mulheres e crianças.

Ministra aulas coletivas e cursos particulares de autoproteção para profissionais liberais, atletas, estudantes e civis em geral bem como para equipes de segurança das mais diversas áreas.

2º Dan de AIKIDO e faixa-preta graduado no sistema GUIDED CHAOS pelo Grão-Mestre John Perkins.

Iniciou oficialmente sua carreira marcial aos 16 anos em 1988, praticando as seguintes artes marciais:

- Jut-Bo (Chuteboxe) com Mestre Sun
- Aikido com Wagner Bull
- Tai Chi Chuan com Velzi Moreschi
- Xing Yi Chuan com Yong Jun Wang
- Yi Chuan com Wang Te Cheng
- Ving Tsun com Léo Imamura
- Caratê Kyokushin com Ulisses Isobe
- Systema com Gustavo Castilhos
- Taikiken com Massamichi Fukushima
- Jiu-Jitsu com Ezes Barros e Daniel Rego
- Guided Chaos com John Perkins, Al Ridenhour e Ari Kandel
- Sangenkai (treinamento de Poder Interno e Aiki) com Dan Harden

Atualmente realiza consultas técnicas com treinadores europeus de MMA (Mixed Martial Arts), com especialistas de faca sul-africanos (Piper System) e filipinos, instrutores de defesa pessoal nos EUA e com antigos alunos do Daito Ryu Aikibujutsu, entre outras autoridades nacionais e internacionais na área da segurança e do meio das artes marciais internas chinesas.

Em 2003 integrou equipe de instrutores de curso de segurança e autodefesa para a Guarda Civil Metropolitana de São José dos Campos - SP, ajudando na capacitação de centenas de recrutas.

Como projetista de armas e equipamentos de treinamento, desenvolveu um bastão com desenho inovador e prático batizado de Tonfa Imoto.

É autor do livro "A Metafísica do Combate", lançado pela Ícone Editora em 2008. Foi o primeiro treinador no Brasil a introduzir o treino funcional de resistência e rapidez utilizando correntes (Speedchain), Corda Naval e o Push-Up Board (Prancheta de Flexão).

Em 2006, com 33 anos de idade e quase duas décadas de treinamento, experiências e pesquisas, acumulou conhecimento suficiente para idealizar uma didática original, atual e segura de autoproteção e fortalecimento corporal. E, posteriormente, ao incorporar posturas de Yôga e de Tai Chi aos exercícios funcionais com equipamentos antigos e modernos de ginástica, descobriu novos meios de se obter mais tônus, mobilidade e equilíbrio até idealizar o MÉTODO IMOTO e o MMA FIT, duas formas modernas de treinamento marcial para segurança pessoal e de condicionamento físico.