Desde o alvorecer da história, a humanidade enfrentou diversas situações de calamidade, sejam criadas pela natureza ou pelo próprio ser humano.
As inúmeras guerras travadas ao longo dos milênios, os cataclismas, terremotos, erupções vulcânicas e maremotos de grandes proporções marcaram profundamente populações em várias partes do mundo.
A Europa testemunhou e sofreu as consequências da Peste Negra, e a Gripe Espanhola alcançou outros continentes, causando milhões de mortes em todo o mundo.
Nos últimos anos, o mundo conheceu a H1N1, a Sars e, exatamente neste momento, o mundo enfrenta uma situação inédita com o coronavírus.
A falta de conhecimento a respeito do vírus, sem sabermos como ele ataca o nosso organismo, como pode ser transmitido, seus sintomas, como se proteger dele e, principalmente, a ausência da sua cura são fatores que deixaram a população mundial assustada e indefesa nos primeiros meses dessa crise.
Muitos países decretaram isolamento social. Um grande número de empresas teve que suspender suas atividades. Aeroportos, portos e estradas viram seu movimento cair vertiginosamente, afetando as vidas de bilhões de pessoas em todo o planeta.
Com a saúde e o sustento de famílias ameaçados, o caos parece bater às nossas portas.
‘’Kol HaOlam Kulo “O mundo inteiro
Gesher Tzar Me’od É uma ponte muito estreita
V’hayikar, v’hayikar Mas o que devemos lembrar
Lo lefached, É não ter medo
Lo lefached Klal” Não ter medo algum”
*Música de Rabbi Baruch Chait, adaptada do epigrama atribuído ao Rabbi Nachman de Breslov
A Cabala ensina que devemos cuidar de nós mesmos em três níveis: nosso corpo físico, nossa mente e nossas emoções.
A Torá, mais conhecida como Pentateuco, os cinco livros do Antigo Testamento, ensina que nosso corpo físico é a morada da nossa alma e, por isso, devemos cuidar da nossa saúde.
Isolados em nossas casas, tendemos a nos acomodar, achando que deveríamos voltar a fazer atividades físicas apenas quando a pandemia passar. Resolvemos visitar a geladeira mais vezes do que o necessário, e acabamos nos sentindo mal ao vermos que ganhamos uns quilinhos a mais.
Devemos adotar hábitos saudáveis, como pegar um pouco de sol, fazer atividades físicas, procurar comer de forma saudável e seguir as orientações para minimizar os riscos de contrair o vírus, como lavar as mãos corretamente com sabão ou álcool em gel, usar máscara adequadamente se for necessário etc.
Técnicas como meditação e Yoga, entre outras, são muito benéficas não só para o corpo, mas também para a mente. A Cabala traz a noção de que devemos ter consciência do que é o presente.
A ansiedade e o medo do futuro nos enfraquecem, e o futuro é uma ilusão, assim como o passado, que não se recupera; precisamos perceber que o único momento em que realmente temos o poder de viver, o único instante em que temos as rédeas nas mãos é o presente.
Sobre o futuro ser uma ilusão, entendam: ele não é um lugar, mas a construção de consecutivos momentos presentes, e só cabe a cada um de nós escolher como será o amanhã.
Portanto, se o futuro é uma colheita, temos aqui e agora o poder de escolher as sementes que plantaremos. Como os cabalistas do passado, por termos a consciência de que podemos escolher nossos destinos, devemos viver o agora de forma consciente, mas com gratidão e alegria. Afinal, a palavra “presente” significa “dádiva”!
Procure se distrair com um bom livro, um filme divertido ou ouvindo suas músicas favoritas. Será que não é a hora de aprender um novo idioma, um novo hobby?
O coronavírus é assunto central de todos os meios de comunicação, e muitas vezes notícias que deveriam ser tratadas com a devida seriedade ganham tons de sensacionalismo. Em busca de notícias, quase que invariavelmente nos deparamos com alguma notícia terrível. Ao lermos ou ouvirmos na mídia que o número de pessoas que morrem aumenta diariamente, e que o sistema de saúde de determinado local não tem condições de atender a esse número crescente de pessoas infectadas, somos levados pela angústia, pela ansiedade e pelo medo.
Um dos maiores medos que o ser humano sente é o do desconhecido. O medo da incerteza, do futuro, de tudo aquilo que aparentemente não temos controle.
Não sabemos se nossos parentes ou amigos passarão pela pandemia ilesos, assim como não temos certeza sobre nosso emprego estar a salvo depois que tudo isso passar.
É preciso autoanálise, para que o medo não se transforme em pânico, porque ele congela nossa capacidade de raciocinar, afetando nosso presente e nossas escolhas na vida.
Falando em temer, lembro que as religiões monoteístas ensinam que devemos temer a Deus. Como assim? Devemos ter medo de Deus?
A Cabala esclarece que não se trata do medo, o sentimento que aterroriza corações e almas; o ensinamento cabalístico sugere que deveríamos sentir assombro, e não medo.
O assombro ao qual a sabedoria se refere é aquele sentimento que mistura gratidão e deslumbramento, ou encantamento pelos inúmeros tesouros presentes na natureza.
Quantas vezes você realmente aproveitou uma caminhada, ou até mesmo uma viagem de ônibus, admirando as aves no céu, as árvores nas ruas, com suas folhas de cores e tamanhos variados? A natureza nunca se distanciou de nós, mas aos poucos fomos deixando de nos maravilhar com ela. Sem perceber, fomos relegando a segundo plano a obra do Criador sobre a Terra.
Os judeus estudam a Torá semanalmente. Em cada semana uma parte é estudada e discutida. Ao todo são exatamente 52 “parashot”, ou capítulos.
A “parashá” (no singular) que caiu na primeira semana apontada como o pico da pandemia no Brasil chama-se “Ki Tisá”, e narra o episódio em que Moisés sobe o Monte Sinai e recebe as tábuas contendo os Dez Mandamentos.
O Criador recebe Moisés no Sinai e lhe dá instruções sobre como deverão proceder os sacerdotes do povo de Israel. Ele diz que deverão lavar pés e mãos, a fim de permanecerem puros; caso descumpram essas regras, perecerão. Não nos lembra alguma coisa?
Aprendemos desde crianças a lavar bem as mãos, mas vimos em todo o mundo campanhas “ensinando” crianças e adultos a lavarem as mãos, a fim de minimizar as chances de contágio.
Finalmente, ao descer o monte sagrado com os Dez Mandamentos, Moisés se encontra em um altíssimo nível espiritual e de consciência. O relato da “Parashá” diz que Moisés havia estado face a face com o Criador e, por isso, ao descer o Sinai, seu rosto estava resplandecente, coberto por uma luz muito brilhante. Essa luz era uma espécie de proteção, pois, enquanto Moisés havia contemplado a face divina, o povo perdia as esperanças pelo seu retorno, e muitos haviam passado a adorar o bezerro de ouro. O povo se encontrava em um nível espiritual muito baixo para lidar com o nível de Moisés.
Moisés por acaso não estava usando uma espécie de máscara?
Se por um lado a pandemia nos enclausurou em nossas próprias casas, separando netos e avós, dividindo famílias e amigos, além de trazer novos desafios para a vida econômica, por outro pessoas em todo o mundo têm compartilhado nas mídias sociais manifestações de solidariedade, criatividade e esperança.
Vizinhos cantando juntos em suas janelas e sacadas, voluntários que vão ao mercado pelas pessoas mais idosas, campanhas de arrecadação de material para prevenção da doença e de mantimentos são ações que têm confortado o nosso dia a dia.
Por mais contraditório que possa parecer, foi justamente o isolamento que nos aproximou. Uma das lições da Cabala ensina que o mundo físico é um pálido esboço do mundo espiritual, e que nossos cinco sentidos vivem nos pregando peças, como, por exemplo, escondendo de nós a ordem que existe no aparente caos que percebemos.
Questões políticas à parte, temos visto pessoas em todo o mundo atribuindo a culpa pela pandemia ao vírus, ao morcego, à China ou ao governo local, em uma tentativa de alimentarmos e preservarmos nossos egos.
Somos constantemente manipulados por nossos egos, que nos aprisionam em “nossas” zonas de conforto. Parte importante de nossa evolução espiritual consiste em subjugar o ego, e é preciso deixar bem claro que a Cabala não está se referindo ao ego que a psicanálise estuda (esse é um tema riquíssimo que voltará em futuros artigos).
É o ego que cria a falsa noção de que a natureza deve nos servir, como se fôssemos seres superiores, e não partes integrantes de todo o meio ambiente. Por isso caçamos, desmatamos, traficamos animais, poluímos rios e oceanos, exaurindo os recursos da terra, alterando o clima em várias regiões do planeta, como se não houvesse consequências para as nossas ações. Parece que o homem se desconectou da natureza, e esse aparente abismo trouxe mais caos às nossas vidas.
A simbiose que existe entre animais e plantas e o equilíbrio perfeito que existe na natureza se dá porque existe uma conexão entre os seres.
As ideias de separação e fragmentação que a raça humana impôs à Criação e a si mesma são a base da maldade e do egoísmo.
Com a chegada do século XXI, o homem comemorou a chegada da tão esperada Era de Aquário, uma nova fase em que a humanidade testemunhará revelações e passará por profundas transformações, rumo a um nível de consciência mais elevado. Os cabalistas têm a informação de que a Era de Aquário já havia começado, anunciada por Ibn Gabirol, na Espanha, há aproximadamente 400 anos.
Mas deixemos a Espanha de Gabirol por um momento.
Desde os primórdios, tribos disputavam entre si por território; povos formaram reinos e impérios, que buscavam aumentar seus domínios por meio do uso da violência.
Com o passar do tempo, o significado de “riqueza” foi mudando. Com o advento da industrialização, o carvão e o petróleo tornaram-se motivos de conflitos em todo o mundo.
Com a chegada da Era da Informação, o poder deixou de se concentrar nas mãos daqueles que tinham grandes extensões de terras, daqueles que produziam petróleo para grandes empresas, e que produziam programas de computação, como a Microsoft e o Google, por exemplo.
Podemos verificar que, se há séculos o símbolo de poder eram os vastos domínios de terras, há algumas décadas os símbolos de poder e riqueza passaram a ser substâncias minerais, que agora poderiam ser armazenadas em barris e grandes refinarias.
Os megaempresários do ramo da tecnologia, como Bill Gates, têm sua riqueza expressa em um programa de computador. Nem espaço físico ocupam! Trata-se de uma ideia, um projeto que pode ser guardado em um CD.
Com tudo isso, vimos que as dimensões físicas do que simboliza o poder e a riqueza foram diminuindo, até deixarem de ser um bem físico. Concluímos que a riqueza foi se tornando cada vez mais intangível.
Há 40 anos chegavam os primeiros computadores e, há 50 anos, falar em “computação” parecia misticismo, bruxaria.
Sob essa perspectiva, a Era de Aquário já parecia estar em curso, não?
Por falar em “tecnologia”, um dos campos da ciência que mais avança e que é tido como um dos mais promissores é o da nanotecnologia. Alguns cabalistas demonstram especial interesse pelo assunto.
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Graças à nanotecnologia, novos materiais estão sendo projetados, além de novos meios de cuidar da saúde, evitando e tratando doenças, graças ao alcance do universo subatômico e seus componentes.
Camisas que normalmente se esgarçam em dez anos custam mais caro do que aquelas que “acabam” em um ano, mas a nanotecnologia promete camisas, por exemplo, que durarão muito mais do que dez anos e custarão menos que aquelas que duram apenas um.
Os cientistas notaram em seus experimentos que as moléculas que formam o tecido sofrem desgastes naturais, e a trama vai se enfraquecendo, até que o tecido se rasgue. A “qualidade” das ligações entre as moléculas poderia ser melhorada, originando uma camisa mais duradoura.
Mas o que a nanotecnologia tem a ver com a Cabala?
Quando pensamos nas nossas vidas, lembramos de bons momentos e de outros não tão bons; lembramos de pessoas que amamos e de experiências não tão felizes.
Refletimos que, entre outras escolhas, chegamos até o presente momento graças à qualidade das ligações, dos relacionamentos que cultivamos.
Já parou para pensar que você tem o poder de escolher como será a trama da sua vida? Que cada um de nós, de certa forma, tece sua própria história?
Em tempos de quarentena, o confinamento e a solidão são uma lição ao ego; são como um jejum espiritual.
A Era de Aquário, segundo os judeus, prevê a vinda do Messias e a reconstrução do Templo. Os cabalistas não esperam que o Messias seja uma pessoa. A Cabala afirma que “Messias” é o código para uma mudança no nível de consciência da humanidade; somente quando os seres humanos verdadeiramente amarem uns aos outros, de forma incondicional, o Templo será reconstruído.
Entenda-se também que a reconstrução do Templo é o código para a comunhão entre homens e mulheres.
Segundo Ibn Gabirol, a Era de Aquário revelará a Glória Divina, a Coroa Divina, e um nível mais elevado de consciência se fará sentir no mundo físico.
Em hebraico, a “sefirá de Keter”; a “coroa”, em português. Na Espanha de Gabirol, “coroa” chama-se “CORONA”.
Vivemos um momento inédito na história da humanidade.