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O que a psicologia diz sobre a saudade?

Pedras amarelas com letras que representam a palavra saudade.
ciaobucarest / 123rf
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Saudade… palavra que só existe no nosso idioma. Não há tradução para o termo. Em outros idiomas, há várias expressões correspondentes, mas, fazendo o caminho de volta (das outras línguas para a nossa), essas expressões ganharão outras traduções, criando um sem-fim de significados, mas que não chegam exatamente à palavra “saudade” em si.

Isso quer dizer, então, que não existe saudade em outros países? Obviamente há, o problema é apenas lexical, mas o sentimento… Ah! O sentimento não só existe, como mexe, e muito, com o nosso coração. Às vezes, a saudade dói tanto que dá até pra achar que é o único sentimento palpável.

No entanto não só sentimos saudade que dói. Ela pode ser uma sensação gostosa, aquela nostalgia que nos remete a tempos em que fomos felizes e que guardamos em nossos corações com alegria e realização.

Mas, afinal, o que é a saudade?

Um homem idoso olhando um porta-retrato.
Kindel Media / Pexels / Eu Sem Fronteiras

A despeito das comparações idiomáticas, podemos definir a saudade como um sentimento evocatório causado pela lembrança de uma experiência boa ou pela ausência de pessoas queridas ou coisas que prezamos.

É uma definição de dicionário, é claro. Para cada um que a sente, a definição tem um sabor particular. E isso também tem a ver com a forma como enxergamos a vida. Ainda que a saudade esteja associada àquela nostalgia boa de um passado agradável, nossa relação com o “sentir” pode ser positiva ou negativa.

Com a palavra, a psicologia

A ciência também se incumbiu de estudar a saudade, sobretudo as causas e os efeitos dela em nosso organismo. Claramente os resultados não são precisos, pois estamos falando de emoções, um terreno complexo para a compreensão objetiva.

Em suma, estudos científicos concluíram que a falta que as pessoas nos fazem traz sintomas similares aos da abstinência de drogas. Porque as pessoas “viciam”, graças a algumas substâncias químicas – neurotransmissores e hormônios – que provocam sensações e auxiliam na formação de laços afetivos.

Quando estamos perto das pessoas que amamos ou de quem gostamos, os níveis dessas substâncias tendem a se elevar. Com o tempo, o processamento delas passa a ser realizado com mais rapidez pelo nosso corpo, o que faz com que desejemos mais e mais dessas sensações. Quando retiramos repentinamente essas pessoas de nosso convívio, o nosso corpo sente os efeitos – de uma forma mais atenuada, porém ainda assim incômoda.

Mas essa sensação é imediatamente posterior ao momento dessa separação. Com o tempo, o nosso corpo vai se regulando e as substâncias vão se equilibrando. E o tempo é o mesmo fator que nos ajuda a construir as memórias de tudo que vivemos.

Mas tem o lado positivo

Apesar de a ausência da pessoa e dos momentos vividos ser algo que, em primeiro momento, nos causa um turbilhão de emoções e desequilíbrios, à medida que vamos nos recuperando, a saudade funciona como um mecanismo de defesa, conciliando nosso vínculo com o passado, o momento presente e o futuro.

Uma mão segurando um cartão com a frase "wish you were here".
Vie Studio / Pexels / Eu Sem Fronteiras

Para a psicanálise, a saudade é um sentimento positivo, capaz de estimular a memória e a sensibilidade. No campo da psicologia, há vários estudos abordando as questões afirmativas desse sentimento, como o reforço da nossa percepção de conexão com os outros.

Um estudo em psicologia, conduzido pela Universidade de Southampton (Reino Unido), afirma que a saudade funciona como uma resposta imunológica psicológica. Em parte, ela ajuda a promover a autocontinuidade, aumentando nosso senso de pertencimento.

A saudade como um elo

A saudade é uma forma de nos mantermos conectados a experiências que nos fizeram bem. Mais do que isso, ela nos ajuda a construir um elo com o passado. Aquela pessoa especial que passou por nossas vidas, aquele lugar lindo que visitamos ou mesmo um prato saboroso que provamos, uma canção que mexeu com nosso coração… é sempre bom relembrar essas vivências.

No entanto esse sentimento deixa de ser saudável ou renovador quando nos apegamos demais a ele, ficando presos no que já passou e não querendo seguir adiante, apenas deixando o passado onde ele precisa ficar.

Dessa forma, a saudade passa a se tornar algo prejudicial à nossa saúde emocional e física. Entre os distúrbios mais comuns que podem advir desse “excesso” de saudade, podemos citar a angústia, a tristeza, a apatia, a solidão (tanto a sensação quanto o desejo de estar só), podendo até haver relação com depressão e ansiedade.

E como lidar com a saudade que dói?

A saudade é algo que nos mantém vivos e conectados com o legado de nossa existência. É por meio dela que revivemos nossos antepassados, que celebramos aquilo que somos e as heranças emocionais que recebemos.

Mesmo a saudade que dói é uma forma de nos manter “guardados” no acolhimento das experiências que nos foram boas. Mas, como explicado acima, não é saudável se apegar de uma forma negativa ao que passou.

Um homem negro deitado de bruços numa cama olhando um porta-retrato. Ele parece estar frustrado.
RODNAE Productions / Pexels

E então, como lidar com essa saudade dolorida? Em primeiro lugar, precisamos focar o presente – aquela máxima de viver o agora, pois ele é a nossa única realidade. Deixar o passado no passado, como uma boa recordação, é o caminho.

Devemos aceitar a realidade em que nos encontramos – o passado não volta, algumas pessoas também não. Não precisamos esquecer, apenas devemos guardar e seguir em frente. O que vivemos deve servir de força para nos impulsionar para frente, não para nos estagnar.

Mas se a saudade apertar, aqui vão algumas dicas:

  • Não retenha as emoções: pode colocar pra fora, chorando ou se expressando da forma que lhe fizer bem.
  • Permita-se ficar triste: a ausência existe, ela deixa um vácuo e não há nada de errado em sentir isso e reconhecer seu sentimento.
  • Expresse seus sentimentos: seja conversando com alguém, seja colocando no papel o que você sente. Isso é bom para elaborar e organizar os sentimentos.
  • Pense sempre no que foi bom: atenha-se aos bons momentos, a tudo que foi vivido, não apenas à falta que algo faz ou ao momento da partida de alguém.
  • Distraia-se: sim! É uma boa saída. Ocupar a mente e mudar o foco é uma forma de aliviar o peso de uma lembrança que esteja te angustiando. Investir em coisas novas também ajuda a ocupar a mente.
  • Medite: a meditação é excelente para uma série de questões na nossa vida. Ela ajuda a resolver quase todos os problemas que mexem com nossas emoções.
  • Reviva o que for possível: se você sente saudade de um lugar que visitou, um prato que saboreou… por que não fazer isso de novo? Revisite esse local, prepare o cardápio. Vale a pena se sentir bem!
  • Busque ajuda: se, ainda assim, a coisa ficar muito pesada para você, procure a ajuda profissional de um psicólogo ou terapeuta.

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A saudade, na dose certa, ajuda a aquecer nossos corações, aproxima-nos de coisas e pessoas que nos são caras, causa sensação de bem-estar e nos conecta aos outros e a nós mesmos. Permita-se sentir saudade, mas saiba que você ainda tem muita vida pela frente e muitos momentos para construir e que criarão novas lembranças.

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