Autoconhecimento Convivendo

O que é a morte?

Imagem da escultura da mão de um anjo segurando uma rosa, trazendo o conceito de morte.
Stux / Pixabay / Canva Pro
Escrito por Luis Lemos

A morte é frequentemente associada ao esquecimento e à perda das conexões pessoais. Ela nos leva a refletir sobre como as relações e memórias influenciam nossa compreensão da vida e da própria morte. O esquecimento dos amigos pode ser visto como um simbolismo das transformações e separações inevitáveis que enfrentamos ao longo da vida.

“A morte é o esquecimento dos amigos”. A professora Aysú acordou com essa frase na cabeça. Ao chegar à escola, pela parte da manhã, ela perguntou para um colega de trabalho: “Companheiro, o que é a morte para você?”. O que este lhe respondeu, prontamente: “A morte é o fim de todas as sensações”.

No turno vespertino, na hora do intervalo, a professora Aysú voltou a perguntar, desta vez, para outro colega de trabalho. “Companheiro, o que é a morte para você?”. Este lhe respondeu. “Ora professora, a morte para mim é a passagem desta vida terrena, de pecado para uma vida com Deus, uma vida de vitórias”.

No final do dia, a professora Aysú foi chamada à sala do gestor, um ex-padre que largou a batina para se casar com uma mulher 20 anos mais nova do que ele e que já estava no terceiro casamento, um tremendo galinha, ou como ele mesmo gostava de dizer, “um pegador”.

“Eu lhe conheço. Conheço a sua família. O seu esposo e seus filhos. A senhora é uma excelente professora. A melhor professora que temos na escola. Os alunos gostam muito das suas aulas e os pais os admiram e respeitam muito. Mas eu tenho que lhe perguntar uma coisa: que papo é esse de morte? A senhora anda pensando em se matar?”, perguntou o gestor.

Evidente que quando a professora Aysú foi chamada à sala do gestor ela já sabia do que se tratava, pois informações davam conta de que o professor da tarde era o leva e traz do gestor. “Nada disso gestor”, respondeu a professora Aysú. “Eu quero viver. Eu amo viver!”. “Então o que está acontecendo?”.

A professora Aysú relutou um pouco antes de iniciar aquela conversa, mas ela sabia que ele nunca mais a deixaria em paz se não lhe contasse o que estava acontecendo. “Não há problema nenhum… acontece que hoje eu acordei com uma frase martelando aqui na minha cabeça”. “Qual foi a frase?”. “Coisa besta. Coisa da minha cabeça”. “Qual foi a frase?”. “A morte é o esquecimento dos amigos”.

O gestor se levantou, arrodeou à cadeira da professora Aysú e, como sempre fazia quando ficavam juntos e a sós, se beijaram nas faces, tinham intimidade para isso, apenas evitavam, de parte a parte, exibir qualquer tipo de comportamento que fosse além da relação chefe-subordinado.

Imagem de uma pessoa usando uma roupa preta. Ela está colocando flores em um túmulo.
RDNE Stock project / Pexels / Canva Pro

“Você tem razão. A morte é o esquecimento dos amigos”, começou a teorizar o gestor. “Lembro que quando eu estudava a oitava série do ensino fundamental eu tinha um amigo. Gostava muito dele. Falávamos tudo um para o outro. Com ele eu abria o meu coração e falava as coisas mais íntimas…”.

Aysú interrompeu a conversa, e ela também começou a desabafar. “No ensino médio eu também tinha um amigo. Ele era tudo para mim. Mas quando eu fui para a faculdade este amigo foi sendo esquecido. Assim como os meus amigos da faculdade, da pós-graduação, do mestrado, do meu primeiro emprego…”.

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O gestor olhando a professora Aysú de alto a baixo, como se ele estivesse vendo-a pela primeira vez, lhe disse: “Espero que você nunca me esqueça”. “Por que o senhor me diz isso?”. “Porque a vida é assim, feita de esquecimentos e lembranças”. “Então, se é assim, certamente eu a esquecerei”. “Não mesmo…”. E o gestor tacou-lhe um beijo na boca!

Na delegacia, mais uma vez o gestor desconversou. “Qual é a sua idade?”. “78 anos”. “Sabe por que está aqui?”. “Sim, sei”. “Você tem consciência do mal que fez a ela?”. Bem… não é de minha obrigação, mas eu devo esclarecer que a professora estava defendendo a tese de que a morte é o esquecimento dos amigos e eu quis provar para ela que ela nunca mais vai me esquecer”. “O senhor tem razão, não vejo mal algum no amor. Sejam felizes!”

Sobre o autor

Luis Lemos

Luís Lemos é filósofo, professor, autor, entre outras obras, de “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas – Histórias do Universo Amazônico” e “Filhos da Quarentena – A esperança de viver novamente”.

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