Quando estamos vivendo algo muito bom, em meio àquele sentimento gostoso de felicidade, às vezes bate uma angústia: um dia isso vai acabar… É, tudo chega ao fim, mesmo que o fim seja nossa morte. Pensar nisso pode ser triste, mas também pode não ser!
É o que propõe a expressão em latim “memento mori”, que nos convida a pensar na morte de outra forma, em outro contexto e com outro objetivo. Confira o que essa expressão significa e reflita sobre ela.
O que você encontrará neste artigo:
Significado de Memento Mori
Memento mori, em latim, pode ser traduzido como “lembre-se de que você vai morrer”. Apesar de parecer algo triste, não é bem assim: é uma reflexão para que nos lembremos de que, em breve, tudo acabará, então que vivamos o hoje intensamente, fazendo tudo o que desejamos sem perder mais tempo.
Se não houvesse amanhã, o que você faria hoje, agora mesmo? Então por que não está fazendo, se não há nenhuma certeza de que haverá amanhã?
Pensar sobre morte, em nossa cultura, é algo assustador. Ela geralmente está associada a dor, luto e sofrimento, por isso evitamos até mesmo dizer a palavra morte. Mas, quando pensamos muito nela, não em como morreremos, mas no fato de que vamos morrer, essa ideia vai se quebrando.
É como quando estávamos na escola e o professor avisava a respeito de uma prova muito difícil com todo o conteúdo do semestre. Quando ouvíamos aquilo, batia o desespero, não é? Mas dia após dia, quando víamos que tínhamos capacidade para fazer a prova, ela ficava menos assustadora.
E assim é a vida: conforme amadurecermos e percebemos que temos tudo o que precisamos para que possamos ir em busca dos nossos sonhos e desejos, naturalizamos a ideia de que as coisas vão ter fim, porque focamos apenas em aproveitar o hoje e o momento presente.
A origem de Memento Mori
Não se sabe ao certo como essa expressão surgiu, mas há dois usos mais conhecidos. Monges confinados em mosteiros costumavam, e, em alguns lugares, até hoje costumam, usar a expressão como saudação, na tentativa de lembrar a todos que os pecados devem ser expiados hoje, não amanhã.
Além disso, conta-se que, quando generais voltavam vitoriosos para Roma, sendo saudados, um conselheiro seguia atrás deles o tempo todo dizendo “Memento mori”, para que se lembrassem de que nenhuma glória é imortal e de que todos nós sucumbiremos ao peso do tempo.
Estoicos sobre o Memento Mori
Outra interpretação sobre o memento mori foi feita pelos estoicos. Eles integravam o estoicismo, uma escola de filosofia grega da Antiguidade. De acordo com essa linha de pensamento, memento mori é um jeito de atribuir sentido à vida.
Nas palavras de Epicteto, um dos estoicos, podemos entender melhor esse conceito:
“Mantenha a morte e o exílio diante de seus olhos todos os dias, juntamente com tudo o que parece terrível – ao fazer isso, você nunca terá um pensamento básico nem um desejo excessivo”.
Ou seja, se você estiver sempre pensando que a sua vida é uma só e que o momento presente é o que mais importa, todas as outras trivialidades dos seus dias vão passar despercebidas.
Nesse caso, o seu foco estará voltado para o que te faz realmente feliz, para construir um legado e para aproveitar tudo que está ao seu redor da melhor maneira possível. A partir disso, aquilo que não for realmente agregador para a sua existência deve ser ignorado.
Outras reflexões
Você, obviamente, já pensou a respeito da morte. Se não pensou sobre a sua, certamente refletiu sobre a morte de alguém, nem que fosse num filme. Desde sempre o ser humano pensa na morte, a única certeza que temos na vida.
Para ficar entre aqueles que falavam latim, o imperador Marco Aurélio, por exemplo, escreveu: “Não aja como se fosse viver dez mil anos. A morte paira sobre você. Enquanto você viver, enquanto estiver em seu poder, seja bom”. Ou seja, aproveite o hoje e faça o que for possível agora, não depois, que pode nem existir.
Outro que refletiu bastante sobre a morte foi o filósofo Sêneca. Ele escreveu: “Pensamos que a morte é coisa do futuro, mas parte dela já é coisa do passado. Qualquer tempo que já passou pertence à morte”.
Que ideia, profunda, não? Pensar que a morte é algo que está ao nosso lado agora, não lá no futuro, distante, é algo que pode mudar a maneira como vemos a vida. É como a chegada de um grande amor: você não se prepara para receber a pessoa da noite para o dia; a sua vida inteira o trouxe até esse momento.
No vídeo abaixo, você pode se aprofundar mais um pouco sobre o assunto e conhecer mais também sobre o termo Carpe Diem.
Memento Mori e “Desventuras em Série”
A série, elaborada a partir de um conjunto de livros homônimos, conta a história de três irmãos que se tornaram órfãos depois de um incêndio. Como eles vinham de uma família muito rica, há um parente interessado na fortuna das crianças. No entanto, ele precisa matá-las para ter acesso ao dinheiro.
Dessa forma, toda a série é construída com um clima de terror macabro, com um homem adulto perseguindo três crianças por diversos lugares, enquanto elas tentam despistá-lo. Um desses lugares é a Escola Preparatória Prufrock.
O ambiente deste centro educativo não é amigável e acolhedor. Na verdade, as crianças enfrentam inúmeros problemas enquanto estão lá. O mascote da instituição é um cavalo morto, e o lema é memento mori.
Então, considerando todo o contexto da série e da escola, notamos que a expressão passa a ser algo negativo. É um lembrete para os irmãos e para os outros alunos de que eles irão morrer um dia, sem a ideia de que, por esse motivo, é importante aproveitar a vida.
Assim como Carpe Diem é associado ao filme “A sociedade dos poetas mortos”, Memento Mori tem essa conexão com a série de livros “Desventura em série”.
Isso acontece porque memento mori é o lema da Escola Preparatória Prufrock, o sombrio colégio onde os protagonistas, Violet e Klaus Baudelaire, estudam.
Memento Mori e Memento Vivere
A negatividade na qual as crianças de “Desventuras em Série” estão inseridas seria transformada em otimismo se ao lado de “Memento mori” elas pudessem ler “Memento Vivere”.
Isso porque, enquanto Memento Mori quer dizer “lembre-se de que você vai morrer”, Memento Vivere diz: “lembre-se de viver”. Portanto, utilizar as duas expressões juntas é uma boa maneira de olhar para elas por uma perspectiva necessariamente positiva.
Afinal, não basta ter consciência de que você vai morrer um dia. É preciso lembrar de viver, no sentido de aproveitar ao máximo cada experiência que a vida tem a oferecer, de se entregar ao desconhecido e de não ter medo do que está por vir.
Uma aplicação da importância do memento vivere pode ser identificada em uma carta de Sêneca, que diz:
“Muitos homens se agarram e agarram-se à vida, assim como aqueles que são levados por uma correnteza e se agarram e agarram-se a pedras afiadas. A maioria dos homens minguam e fluem em miséria entre o medo da morte e as dificuldades da vida; eles não estão realmente a viver, e ainda não sabem morrer”.
A partir da interpretação dessas palavras, percebemos que muitas pessoas se prendem ao desejo de viver, porque não querem morrer. No entanto, tomadas pelo medo do fim da vida, acabam deixando de viver verdadeiramente.
Por isso, não basta praticar o Memento Mori. O Memento Vivere também é essencial! Para continuar aprendendo sobre esses dois conceitos, separamos alguns materiais complementares que vão enriquecer seu repertório. Conheça-os no tópico seguinte!
Com base nas informações apresentadas anteriormente, você entendeu que Memento Mori não é uma expressão sombria. Pelo contrário, sobretudo quando unida à expressão Memento Vivere, é um convite para que você viva a sua vida com intensidade, alegria e tranquilidade. Torne a sua existência significativa!
Livros sobre Memento Mori
Compreender e aceitar nossa imortalidade, isto é, que podemos morrer a qualquer momento, é essencial para que tenhamos uma relação mais saudável com a vida e com os nossos planos e sonhos, por isso separamos dois livros que podem ajudar você a refletir sobre o fim de maneira saudável e sem traumas:
“A morte é um dia que vale a pena viver”, de Ana Claudia Quintana Arantes: palestrante e médica especializada em cuidados paliativos, Arantes faz uma bela exposição a respeito do que aprendeu sobre a morte ao conviver com pacientes que receberam diagnósticos de casos terminais, o que nos ajuda a assimilar a morte e a lidar com ela.
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“Por que começo do fim”, de Ginevra Lamberti: e se a pensássemos a vida a partir do fim, não do início? Refletindo sobre isso, a autora se aproxima de temas tabus por se tratarem de morte: fala sobre o dia a dia de uma funerária, sobre cursos com o tema de morte, sobre tanatoestetas (profissionais que maquiam mortos), tanatofobia (medo extremo de morrer), entre outros temas, sempre misturando ficção e realidade.
Quando entendemos que a morte é uma certeza e que ela pode acontecer a qualquer momento, fazer aquilo que desejamos de corpo e alma se torna urgente, então passamos a priorizar nossos sonhos. Reflita a respeito do fim e assimile essa ideia de que ele pode estar mais próximo do que você imagina, então que tal arregaçar as mangas e ir fazer tudo o que você deseja agora mesmo?