Seriados, livros, jogos de videogame… Essas e muitas obras de arte ou de conteúdo têm se utilizado da mitologia nórdica para entreter e informar atualmente, a exemplo da série “Vikings”, a saga de livros “Crônicas Saxônicas” e o jogo mais recente da série “God of War”.
Com a popularização desse tema, ficam mais conhecidos também os deuses, os símbolos e os costumes das pessoas que tinham as crenças nórdicas na época em que elas eram populares. Uma dessas representações, que aparece em quase todas as obras modernas é o vegvísir, uma espécie de bússola que aponta para 8 lados, cada um com um símbolo em uma das extremidades.
Preparamos um artigo para explicar o significado desse símbolo e o contexto em que ele surgiu. Confira!
Direto ao ponto
Onde surgiu a mitologia nórdica?
A mitologia nórdica (também conhecida como mitologia germânica) é assim chamada porque nasceu nos países do norte da Europa, região hoje conhecida como Escandinávia. Os países onde a mitologia nórdica foram mais populares foram Dinamarca, Suécia, Noruega e Islândia (que é o país onde o vegvísir foi criado, mas já chegaremos lá).
Apesar de ser associada aos vikings, a mitologia nórdica não estava intrinsecamente ligada a esse povo, que prosperou entre os anos 800 e 1050. À época, até mesmo populações que não se consideravam vikings seguiam alguns rituais e costumes da tradicional mitologia nórdica, e até mesmo após o fim da Era Viking, em 1050, a mitologia nórdica continuou em voga.
Ela começou a desaparecer dessas regiões no século XI, quando começou a acontecer o processo de cristianização do norte europeu. Na Dinamarca, na Suécia e na Noruega, templos foram queimados, e a população foi impedida de continuar praticando os costumes tradicionais, considerados pagãos pela Igreja. Na Islândia, porém, as pessoas puderam continuar praticando o paganismo dentro de seus lares. É por isso que quase tudo que sabemos hoje sobre a mitologia nórdica vem das chamadas Eddas, sagas islandesas que descrevem os heróis, os deuses e os mitos da época.
O que é mitologia nórdica?
Em resumo, a mitologia nórdica é uma coleção de histórias e de crenças que eram compartilhadas por tribos no norte da antiga Germânia (atualmente Alemanha) e do norte da Europa (Escandinávia). Até hoje, em algumas áreas rurais dessas regiões, algumas tradições são mantidas ou foram reinventadas.
Alguns estudiosos da mitologia nórdica a definem como “a religião da vida”, já que são praticamente ignorados nos registros dela conceitos como suicídio, desespero, revolta, angústia, dúvida e absurdo. As histórias quase sempre envolvem atos de heroísmo e de coragem, e o ser humano está sempre com desejo de seguir em frente e se superar nesses mitos.
Não era uma religião organizada, no sentido de ter livros sagrados ou líderes absolutos, mas se mantinha na oralidade e em passar de geração a geração seus ensinamentos e rituais. Era politeísta e tinha muitos deuses, como Odin, o pai de todos e criador; seu filho Thor, deus do trovão; Loki, deus da trapaça; e Freya, deusa da fertilidade e da magia.
Era bastante comum, para aqueles que seguiam essas tradições, o uso de amuletos que estivessem protegidos ou ungidos pelos deuses, como o vegvísir, que apresentaremos agora.
O que significa vegvísir?
O nome é uma junção de duas palavras do idioma islandês. A parte inicial de “vegvísir” vem da palavra “vegur”, que significa “caminho”, e a parte final vem de “vísir”, que significa algo como “guia”. Uma possível tradução para o termo, portanto, seria “o guia pelos caminhos” ou “o apontador de caminhos”.
Numa análise ainda mais profunda sobre a raiz desses termos, “vegur” deriva de “vegr”, em nórdico antigo, enquanto “vísir” deriva de “visa”, no mesmo idioma. O primeiro termo pode ser traduzido como “um caminho”, e o segundo pode ser adaptado como “mostrar”, “apontar” ou “indicar”.
Ou seja, o vegvísir é como uma bússola, algo que nos guia e aponta o caminho que devemos seguir.
O que é um vegvísir?
O vegvísir é um amuleto da bruxaria islandesa, conjunto de antigas práticas ligadas à mitologia nórdica, e que se caracteriza principalmente pelo uso de sigilos (símbolos entalhados ou gravados em algum lugar) e de runas. Para se ter uma noção de quão antiga é a prática, o livro mais antigo relacionado com essa crença, o Galdrabók, foi escrito por volta do ano 1600.
O sigilo que mencionamos neste artigo – o vegvísir – é mencionado em duas importantes fontes da bruxaria islandesa: o próprio Galdrabók, e o Manuscrito Huld, compilado pelo islandês Geir Vigfusson, aproximadamente em 1860. Nesse manuscrito, o homem islandês descreve que esse sigilo tem como objetivo ajudar seu portador a encontrar o caminho em meio a um clima ruim: “Se este sinal for carregado, (o portador) nunca se perderá nas tempestades ou no mau tempo, mesmo quando o caminho não for conhecido”.
Apesar de ser confundido como um símbolo viking, não há nenhuma evidência de que tenha sido utilizado por esse povo, uma vez que as primeiras menções a ele estão registradas em livros escritos mais de seis séculos depois do fim da Era Viking. Ainda que muitos confundam qualquer tipo de crença ou tradição nórdica com o povo viking, isso não é verdadeiro.
Portanto, o vegvísir é um amuleto, uma inscrição da bruxaria islandesa para proteger aqueles que desejam encontrar o caminho em meio ao clima ruim – o que pode ser interpretado tanto de maneira literal quanto metaforicamente.
As pontas do vegvísir e os nove mundos
Segundo estudiosos da mitologia nórdica, cada ponta do vegvísir (e seu centro) representa um dos mundos da mitologia nórdica. Confira abaixo o significado de cada uma delas e sua correspondência (para facilitar, colocamos o tempo correspondente em um relógio de ponteiros):
– O centro: Midgard, o mundo em que vivemos, a Terra.
– Ponta de cima (12h/00h): Asgard, o reino dos deuses Æsir.
– Ponta acima, à direita (1h30): Niflheim, o mundo do frio e da névoa.
– Ponta do meio, à direita (3h): Svartalfheim, o mundo dos anões e dos elfos negros.
– Ponta abaixo, à direita (4h30): Musphelheim, o mundo dos gigantes de fogo.
– Ponta debaixo (6h): Hellheim, o mundo dos mortos.
– Ponta abaixo, à esquerda (7h30): Jotunheim, o mundo dos gigantes de gelo.
– Ponta do meio, à esquerda (9h): Vanaheim, o mundo dos deuses Vanir.
– Ponta acima, à esquerda (10h30): Alfheim, o mundo dos elfos claros.
Uma interpretação possível é que todos esses mundos aparecem no vegvísir para demonstrar que, onde quer que seu portador estivesse, ele estaria protegido, mesmo que estivesse vagando por outro mundo.
Como posso me beneficiar do vegvísir?
Isso depende de como você encara a sua espiritualidade. Se você realmente crê nas histórias, nos mitos e na magia da mitologia nórdica e da bruxaria islandesa, o vegvísir ganha um significado realmente muito profundo, porque circular com ele em um colar, anel, pingente ou onde quer que seja vai fazer com que você esteja sempre protegido e siga sempre o melhor caminho possível, como ele promete.
Mesmo que você não acredite em magia ou mitologia, o vegvísir tem um poder simbólico. Quem não gostaria de andar por aí com um amuleto que indicasse sempre o caminho certo em meio ao mau tempo? Como passamos por problemas e situações complicadas na vida, ter algo pertinho de nós que nos dê a sensação de segurança e proteção pode ser bastante reconfortante nos momentos de dificuldade.
Tudo depende do quanto você se sente bem usando esse amuleto, ainda que não acredite que ele realmente tenha o poder de fazer alguma coisa.
Ah! Dar esse objeto de presente a uma pessoa amada também é uma ótima ideia, para que ela sempre ande por aí sentindo que você faz parte da proteção que impede que algum mal se abata sobre ela. Pode ser uma linda declaração de amor com raízes nórdicas.
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Com raízes na mitologia nórdica e na bruxaria islandesa, o vegvísir é um amuleto que ajuda seu portador a entender qual é o melhor caminho a ser seguido, além de protegê-lo do mau tempo e de outros males que podem acometer sua vida. E você? Acredita no poder de proteção do vegvísir?